Os idosos…
Agora velhos, inválidos, curvados com o peso da idade e dos anos, perdeu-se todo o vigor das nossas energias e muitos já não podem assumir os compromissos do dia-a-dia. Enfraquecidos, trémolos, apoiados ao nosso cajado, com muito custo lá nos vamos arrastando e movendo, anunciando em cada dia que passa a nossa última Páscoa. São muitos os que nesta fase carecem de ajuda, de amparo, de quem os conforte, de quem lhes dê carinho e um pouco de calor humano. Na falta de tudo isto, muitos recorrem aos lares de acolhimento e Centros de Dia, à procura de quem os receba, os acolha e lhes dê o abraço de boas vindas. É isso que faz o Centro de Dia do Complexo Paroquial de Mangualde, que os acolhe, os protege e cuida. Muitos passam lá o dia em convívio, enquanto que a outros lhes é levada ao domicílio a principal refeição. Com este apoio já se pode estar e viver mais descansado todas as Páscoas que nos restam, sem que sintamos a falta de uma refeição quente que nos alimente, nos aqueça o corpo e fortifique a alma. Os filhos têm o sagrado dever de cuidarem dos seus pais, de lhes dar o necessário apoio, só que as suas vidas e afazeres, por vezes não o permitem, e outros não querem assumir esse encargo. Assim:
Fica-se desamparado E quase que esquecido Vive-se numa escuridão, É como andar perdido. Falta quem nos dê a mão. Vai um para cada lado, Cada qual trata de si. Quando se perde o melhor bem A vida é solitária, É o fim que a gente tem.
Não desprezem os velhinhos Que têm pouca lucidez, Alguns já mal podem andar, Também chega a vossa vez. Ela não vos vai poupar, Vai bater à vossa porta, Para vos visitar, Vai chegar a qualquer hora. E quando menos se contar, Vem fazer-vos companhia, Para vos atormentar.
Quase nem se dá por ela, Mas com os anos a passar, Vai-nos encurtando a vida. E a saúde nos tirar. E para nosso desgosto, Já traz consigo as rugas, Para nos colocar no rosto. Isso é uma certeza, Não a podemos evitar, Mesmo pondo-nos à defesa.
Nem um sorriso alegre Ela nos deixa expressar, E toda a felicidade A velhice nos vem tirar. De nós não tem compaixão, Temos mesmo de a aceitar. A juventude passou Quase sem se notar E já todos nós sabemos, Que a velhos vamos chegar. O tempo tudo nos levou Com a vida a desandar.
Ainda o Centro de Dia Eu quero inaltecer É uma dádiva de Deus Que nos ajuda a viver. Quero dar-lhes o meu louvor, É esse o meu dever, Somos como uma família, A fazermos amizade, Para melhor vida se ter.
Com a ajuda que nos dão, A vida sofre mudanças. E com a graça de Deus Renovam-se as nossas esperanças. O Centro é uma riqueza, De onde muito nos vem, Acaba-se a nossa pobreza, Com este tão grande bem.
Aos que passam lá o dia Não lhes deixam faltar nada, Têm sempre a mesa posta E a roupinha lavada. Aos que estão nas suas casas, Muito bem atendidos são, É-lhes levada ao domicílio A principal refeição. À casa fazem limpeza, Com uma vontade tamanha, A deixam uma beleza.
Temos ainda outro bem Que a gente nem esperava, Toda a roupa da semana Lá também nos é lavada. Muito bem arranjadinha, A ferro muito bem passada. O trabalho que lá fazem É feito com muito brio, As pessoas que o fazem Merecem um elogio.
Lavam-nos também a louça E limpam também o pó, Fazem-nos os recados, Tudo isso e não só. As senhoras ao serviço São de uma extrema dedicação, Tratam-nos com muito carinho, A nada dizem que não. Resolvem-nos os problemas, Logo na ocasião.
Os utentes são bem cuidados. Quando se sentem mal, Lavam-nos à consulta E até ao hospital. Dão-lhes toda a assistência Para os aliviar, Como me dizia a Dona Tânia Algum tempo já passado, “Esta é uma casa sagrada” Quem vem para cá doente, Depressa fica curada.
Mas isto é para os que têm sorte Que desfrutam cá de um bom bocado. Os que a não têm Esticam o pernil E tombam para o lado. Dizem adeus à vida, Não dão mais conta do recado. Fazem companhia à morte, E tocam ao rasgado.
António Rocha Barra (Utente do Serviço de Apoio Domiciliário)
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