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Jornal - Entrevista

Rotary Clube de Mangualde homenageou  o Dr. Lúcio Albuquerque

 

No dia 28 de outubro o Rotary Clube de Mangualde homenageou o Dr. Lúcio de Albuquerque.

O Notícias da Beira foi conhecer mais de perto este profissional.

 

Notícias da Beira - Que significado tem para si esta homenagem ?

Dr. Lúcio Albuquerque – Para mim tem um sentido de simpatia e ao mesmo tempo de agrado. Sou uma pessoa modesta aquilo que faço e que tenho feito por Mangualde não é para me fazerem homenagens, gosto de colaborar e de ajudar dentro das minhas possibilidades, isto já faz parte do meu do feitio. Em  2003 também me fizeram uma homenagem em Mangualde, o Dr. João Azevedo.

E agora vieram ter comigo os Rotários e achei que ,apesar de já ter sido homenageado em Mangualde, seria deselegante da minha parte não aceitar.

 

N.B.- Fale-nos um pouco de si e do seu trabalho?

Dr. L.A.- Tenho 85 anos, sou natural de Sezures e resido em Mangualde.

Eramos 4 irmãos todos estudamos, eu licenciei-me em farmácia. Fiz os estudos secundários em Viseu, depois fui para Coimbra onde fiz o Bacharelato e no Porto a Licenciatura em Farmácia, ao mesmo tempo trabalhava, os meus pai também tinha algumas dificuldades e foi uma maneira de os aliviar um pouco.

Eu queria tirar o Curso de Medicina, mas um tio meu aconselhou-me ir para a área da farmácia.

Depois de acabar o curso estive um ano a trabalhar em Lisboa na sede do Laboratório Lepetit – Italiano.

Mas como gostava de vir para a província decidi abrir uma farmácia em Mangualde. Passava muitas vezes por Mangualde nas minhas viagens  de estudante e sempre gostei deste lugar e  também tinha aqui alguns amigos.

Em Lisboa, em 1951, meti os documentos no Ministério de Saúde para abrir em Mangualde a farmácia. Em 12 de Abril de 1952 aluguei uma loja e abri então a Farmácia Albuquerque. Na então Vila já existia a Farmácia Feliz e a Farmácia Pereira. Comecei a angariar os meus clientes. Mais tarde casei-me com a minha mulher - Maria Alexandra da Costa  Espinho Petrucci e Albuquerque, também era farmacêutica. Entretanto o Sr. Pereira faleceu, não tinha filhos e os herdeiros venderam a Farmácia e  comprei-a. Ficamos então com a Farmácia Petrucci, que  era a da minha mulher. Hoje  temos uma sociedade com os filhos porque ela, devido a problemas de saúde, está incapacitada .

Tivemos 4 filhos, duas estão ligados à Farmácia,  a Xana e a Margarida que aproveitaram esta  oportunidade.  Tenho um filho  Engº  João Lúcio Albuquerque e a Maria  Cristina que  é Prof. Catedrática na Universidade de Coimbra que fez o doutoramento em  Psicologia.

Todos os dias venho um bocadinho até  às Farmácias, gosto de falar com os clientes e elas também gostam de falar comigo.

Também tive Postos de Farmácia em Santiago de Cassurrães, Chãs de Tavares, Freixiosa e ainda tenho em Abrunhosa-a-Veha

 

N.B.- Mantém a atividade política?

Dr. L.A - Atividade política ativa não. Mas gosto de acompanhar a política e dar a minha opinião.

Estive como muitos se lembram, na Câmara como Presidente  da  1ª Comissão Administrativa  pelo PS, depois do 25 de Abril. Foi uma eleição feita pelas forças armadas. As pessoas reuniam-se e os votos eram feitos com o braço no ar.

Ocupei o lugar durante 1 ano com o Dr. Diamantino Furtado, Paulo Lopes Martins, Manuel Cardoso Ramos e o Manuel Azevedo. Isto até haver eleições democráticas. Depois estive 4 anos como Vereador, quando ganhou o Dr. Ramiro do Couto e depois ainda fiz parte da Assembleia Municipal.

 A par da farmácia ocupei e ainda hoje ocupo alguns cargos em diversas instituições em Mangualde. Estive nos  BVM, Grupo Desportivo , Adega Coperativa, Fruteira,  etc.

Hoje ainda estou ligado à Coape, Caixa de Crédito Agrícola e voltei também ao Desportivo como vogal.

 

N.B.- Qual a sua opinião sobre a gestão política que se tem feito e que se está a fazer?

Dr. L.A.- Quanto à gestão política que se está a fazer gestão  ainda é um pouco cedo para dar uma opinião, embora a situação não  seja fácil de resolver. Vamos ver se o povo vai concordar com todas as medidas. Isto  até pode dar uma guerra civil.

As medidas que estão a ser tomadas, são complicadas e difíceis, mas acho que devem ser tomadas para bem de todos, para que os problemas se resolvam e a situação do país melhore. Se não, onde vamos parar?

O anterior Governo de  Sócrates  fez muitas coisas sem haver dinheiro e eu sou  da opinião  que, antes de  se fazer as obras, é preciso saber de onde vem o dinheiro.

Eu, nas minhas obras pessoais, só as faço quando sei que as posso pagar e, no governo, penso que também deveria ser assim.

Claro que as melhorias vem para o povo e, quando se habituam e depois lhe tira tudo,  e  muito complicado. Na minha opinião estávamos a viver um bocadinho acima das nossas possibilidades, as pessoas endividaram-se e agora não conseguem cumprir os seus compromissos .

 

 

N.B.- Estamos atravessar um período de crise em quase todos os sectores.

Estando o Sr. Dr. ligado ao setor farmacêutico também está a sentir esta crise?

É uma profissão com futuro para os jovens? 

Dr. L.A.- Bem, há trinta anos atrás a farmácia viveu com possibilidades de singrar. Mas agora isto está mal em todas as áreas.

Não há empregos e a única saída  que vejo ainda com alguma perspetiva é a de médico, ainda se vão recrutar médicos estrangeiros.

Antigamente os nossos antepassados tinham que emigrar e é o que já está acontecer.

Como tomos sabemos todos os dias fecham fábricas e lojas de pequeno comércio  por todo o país e aqui em Mangualde também está acontecer.

Há pessoas que dizem que na farmácia não há crise, há na mesma. Já temos pessoas  a levarem só alguns dos medicamentos, outros pedem para pagarem quando receberem as suas reformas. Faz-me lembrar quando vim para Mangualde que as pessoas vinham perguntar primeiro em quanto ficava a receita e, por vezes, iam a dois médicos e depois vinham buscar a receita que custava menos.

Muitos pedem-nos para pagarem no final do mês. E também há quem se desfaça de alguns bens para conseguir pagar a sua receita. 

 

 

N.B.- Qual a sua opinião sobre a localização da Feira dos Santos ?

Dr. L.A.- Para as farmácias a Feira dos Santos tem pouco significado, porque nesse dias as pessoas nem estão doentes. Vem para comer as febras e as castanhas e para se divertirem um bocado.

No primeiro ano que instalei a farmácia cá em Mangualde, pedi a um colega de Viseu que me dispensasse um empregado para me vir ajudar, mas depois de almoço disse-lhe que podia ir embora. Nesse dia entra um ou outro a pedir um comprimido para as dores ou a desinfetar algum arranhão que fez na feira ou a pedirem que lhe guarde alguma compra que fez na feira.

E penso que para o comércio em geral  também não vai trazer grades benefícios, embora eu ache que a feira dentro da cidade é mais bonita.  O centro é a sala de visitas.

Embora,  quando se realizou  aqui a feira, havia o problema de os Feirantes se colocarem quase em cima das montras dos outros; mas este ano parece que isso não vai acontecer.