Versão para impressão
Jornal - Notícias da Igreja

 

Piedade popular: uma realidade nova

 

Assim se exprime o Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia [=DPPL], nº61, (Congregação para o Culto divino e a Disciplina dos Sacramentos, 17 Dezembro 2001): «a piedade popular é uma realidade viva na Igreja e da Igreja: a sua fonte está na presença constante e ativa do Espírito de Deus no organismo eclesial; o seu ponto de referência é o mistério de Cristo Salvador; o seu objetivo, a glória de Deus e a salvação dos homens; a ocasião histórica, «o encontro feliz entre a obra de evangelização e a cultura». E, ainda: «O apreço do Magistério pela piedade popular é motivado, antes de mais, pelos valores que ela incarna».

«A fusão harmónica da mensagem cristã com a cultura de um povo que, frequentemente, se encontra nas manifestações da piedade popular é outro motivo da estima do Magistério. De facto, nas manifestações mais genuínas da piedade popular, a mensagem cristã, por um lado, assimila os módulos expressivos da cultura do povo, por outro, impregna de conteúdos evangélicos a sua conceção da vida e da morte, da liberdade, da missão e do destino do homem. Por conseguinte, a transmissão de pais para filhos, de uma geração à outra, das expressões culturais leva consigo a transmissão dos princípios cristãos. Em alguns casos, a fusão é de tal modo profunda que elementos próprios da fé cristã se tornam elementos integrantes da identidade cultural de um povo. Pense-se, por exemplo, na piedade à Mãe do Senhor». (DPPL, 63)

«O Magistério anota ainda a importância da piedade popular para a vida de fé do povo de Deus, para a conservação da própria fé e para a assunção de novas iniciativas de evangelização. Observa-se que não é possível deixar de ter em conta «as devoções que são praticadas em determinadas regiões do povo fiel com um fervor e uma pureza de intenção comoventes»; que a sã religiosidade popular, «pelas suas raízes essencialmente católicas, pode ser um antídoto contra as seitas e uma garantia de fidelidade à mensagem da salvação»; que a piedade popular foi um instrumento providencial para a salvaguarda da fé, nos lugares onde os cristãos estavam privados de assistência pastoral; que onde a evangelização foi insuficiente, «a população, em grande parte, exprime a sua fé sobretudo na piedade popular»; que, finalmente, a piedade popular constitui um válido e imprescindível «ponto de partida para se conseguir que a fé do povo adquira maturidade e profundidade». (DPPL,64) Por isso recomenda: «Nesta obra de “evangelização” da piedade popular, o sentido pastoral sugere que se proceda com grande paciência e com prudente sentido de tolerância, inspirando-se na metodologia seguida pela Igreja ao longo dos séculos para enfrentar tanto os problemas da inculturação da fé cristã e da Liturgia, como as questões inerentes às devoções populares». (DPPL, 66)

O Verão é, em certo sentido, passados que foram os tempos fortes da Liturgia (Páscoa e Natal), o tempo forte da expressão cristã da religião. A multiplicidade (e popularidade) de manifestações de piedade à Virgem e aos Santos são uma oportunidade pastoral extraordinária (para muitos casos, única) que, de modo algum, poderá ser desleixada, na perspetiva do acolhimento, da festa e da evangelização e de uma cultura cristã (atenda-se, particularmente a este aspeto, nas procuras e ofertas que se fazem). Nesta perspetiva, recomenda o Diretório:

«Nos santuários, ponham-se à disposição dos fiéis meios de salvação mais abundantes, com o anúncio cuidadoso da palavra de Deus, o fomento da vida litúrgica, principalmente por meio da celebração da Eucaristia e da penitência, e ainda com o cultivo de formas aprovadas de piedade popular... No nosso tempo, o interesse pelos santuários e a participação nas peregrinações, longe de se ter enfraquecido por causa do fenómeno do secularismo, gozam de amplo favor entre os fiéis» (Cfr. DPPL, 261). Preste-se, também, particular atenção ao, cada vez mais procurado e difundido, “turismo religioso”, com a ofertas qualitativa de expressões cultuais e culturais e outras de catequese e oração. Pelo nome de santuário entende-se a igreja ou outro lugar sagrado, aprovado pela autoridade eclesiástica (Bispo diocesano, Conferência Episcopal, Sé Apostólica) aonde, por motivo de piedade, grande número de fiéis acorre em peregrinação... Todavia, muitos outros lugares de culto, tantas vezes humildes, desenvolvem em âmbito local, uma função semelhante à dos santuários. Também eles fazem parte da “geografia” da fé e da piedade do povo de Deus… (Cfr. DPPL, 264).