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Jornal - Notícias da Igreja

Papa convida a superar «medo» e preconceito

No dia 11 de Janeiro, o Papa alertou no Vaticano para as consequências que reações de medo e preconceito face aos refugiados podem ter nos fundamentos e valores da Europa.

“A atual vaga migratória parece minar as bases daquele espírito humanista que a Europa ama e defende desde sempre”, afirmou Francisco, perante representantes de 180 Estados, incluindo Portugal, bem como da União Europeia, da Palestina e da Ordem Soberana de Malta.

Num longo discurso, o pontífice argentino aludiu a um “fluxo impressionante de refugiados” e aos “desembarques maciços” nas costas do Velho Continente, que parecem estar a “fazer vacilar o sistema de acolhimento” construído depois da II Guerra Mundial.

O Papa admitiu que existem “dúvidas” sobre as reais possibilidades de receção e adaptação das pessoas, sobre a mudança do meio cultural e social dos países de acolhimento, bem como “a redefinição de alguns equilíbrios geopolíticos regionais”.

“Relevantes são igualmente os temores pela segurança, exacerbados desmedidamente pela difusa ameaça do terrorismo internacional”, acrescentou.

Nesse sentido, Francisco sublinhou que “o extremismo e o fundamentalismo encontram terreno fértil não só numa instrumentalização da religião para fins de poder mas também no vazio de ideais e na perda de identidade – inclusive religiosa” no Ocidente.

“De tal vazio nasce o medo que impele a ver o outro como um perigo e um inimigo, a fechar-se em si mesmo, refugiando-se em posições preconceituosas”, acrescentou.

O Papa disse que, pelo contrário, o acolhimento promove uma “nova compreensão e abertura de horizontes”.

A Europa, prosseguiu, “não se pode dar ao luxo de perder os valores e os princípios de humanidade” que brotam do seu “grande património cultural e religioso” e a tornam respeitada em todo o mundo.

Francisco agradeceu depois aos países que têm acolhido migrantes e refugiados, a começar pelas nações vizinhas da Síria, como o Líbano e a Jordânia, passando pela Turquia, a Grécia e a Itália, “cujo decidido empenho salvou muitas vidas no Mediterrâneo”.

“É importante não deixar sozinhas as nações que, na vanguarda, estão a enfrentar a atual situação de emergência, tornando-se igualmente indispensável dar início a um diálogo franco e respeitoso entre todos os países implicados no problema – países de origem, de trânsito ou de receção”, realçou.