Calendário

<<  Abril 2024  >>
 Se  Te  Qu  Qu  Se  Sá  Do 
  1  2  3  4  5  6  7
  8  91011121314
15161718192021
22232425262728
2930     

Entrada



Mapa

Coordenadas GPS:

40º36'21''N
7º45'57''W

Ver mapa aqui.

Visitas

mod_vvisit_countermod_vvisit_countermod_vvisit_countermod_vvisit_countermod_vvisit_countermod_vvisit_countermod_vvisit_countermod_vvisit_counter
mod_vvisit_counterHoje651
mod_vvisit_counterOntem4171
mod_vvisit_counterEsta semana15933
mod_vvisit_counterEste mês74489
mod_vvisit_counterTotal6978385
Visitors Counter 1.5
PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Jornal - Notícias da Igreja

O caminho baptismal da Quaresma (Ano A)

A Quaresma é um caminho, é acompanhar Jesus que sobe a Jerusalém, lugar do cumprimento do seu mistério de paixão, morte e ressurreição; ela nos recorda que a vida cristã é um “caminho” a ser percorrido, que consiste não tanto em uma lei a ser observada, mas na própria pessoa de Cristo, a quem vamos encontrar, acolher, seguir. Jesus, de facto, fala: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me” (Lc 9,23). Em outras palavras, diz-nos que, para chegar com Ele à luz e à alegria da ressurreição, à vitória da vida, do amor, do bem, também nós devemos carregar a cruz de cada dia, como nos exorta uma bela página da “Imitação de Cristo”: “Toma, pois, a tua cruz, segue a Jesus e entrarás na vida eterna. O Senhor foi adiante, com a cruz às costas, e nela morreu por teu amor, para que tu também leves a tua cruz e nela desejes morrer. Porquanto, se com Ele morreres, também com Ele viverás. E, se fores seu companheiro na pena, também o serás na glória” (L. 2, c. 12, n. 2). Na Santa Missa do 1º Domingo da Quaresma, rezaremos: “Concedei-nos, ó Deus omnipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa” (Colecta). É uma invocação que dirigimos a Deus porque sabemos que só Ele pode converter o nosso coração. E é sobretudo na liturgia, na participação dos santos mistérios, que somos levados a percorrer este caminho com o Senhor; é um colocar-nos na escola de Jesus, percorrer os acontecimentos que nos trouxeram a salvação, mas não como uma simples comemoração, uma lembrança de factos passados. Nas acções litúrgicas, Cristo torna-se presente através da obra do Espírito Santo, e esses acontecimentos salvíficos tornam-se actuais. Há uma palavra-chave muitas vezes usada na liturgia para indicar isso: a palavra “hoje”; e esta deve ser entendida no sentido original, não metafórico. Hoje, Deus revela a sua lei e permite-nos escolher hoje entre o bem e o mal, entre vida e a morte (cf. Dt 30, 19); hoje, “o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15); hoje, Cristo morreu no Calvário e ressuscitou dos mortos; subiu ao céu e está sentado à direita do Pai; hoje, recebemos o Espírito Santo; hoje é o tempo favorável. Participar da liturgia significa, então, submergir a própria vida no mistério de Cristo, na sua presença permanente, percorrer um caminho pelo qual entramos na sua morte e ressurreição para ter a vida.

Nos domingos da Quaresma, de forma muito particular neste ano litúrgico do ciclo A, somos convidados a viver um itinerário baptismal, percorrendo quase o caminho dos catecúmenos, daqueles que se preparam para receber o Baptismo, para reavivar em nós este dom e fazê-lo de maneira que as nossas vidas recuperem as exigências e os compromissos deste Sacramento, que está na base da nossa vida cristã. Na mensagem que enviei para esta Quaresma, eu quis recordar o nexo particular que une tempo quaresmal ao Baptismo. A Igreja sempre associou a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: nele, realiza-se esse grande mistério pelo qual o homem, morto para o pecado, torna-se participante da vida nova em Cristo ressuscitado e recebe o Espírito de Deus, que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). As leituras que escutaremos nos próximos domingos - e às quais vos convido a prestar uma atenção especial - são tomadas precisamente da tradição antiga, que acompanha o catecúmeno na descoberta do Baptismo: são o grande anúncio do que Deus faz neste sacramento, uma magnífica catequese baptismal dirigida a cada um de nós. No 1º Domingo, chamado “Domingo da tentação”, pois apresenta as tentações de Jesus no deserto, convida-nos a renovar a nossa decisão definitiva por Deus e a enfrentar com coragem a luta que nos espera para permanecermos fiéis a Ele. Está sempre presente esta necessidade da decisão, de resistir ao mal, de seguir Jesus. Neste Domingo, a Igreja, após ter ouvido o testemunho dos padrinhos e catequistas, celebra a escolha daqueles que serão admitidos aos Sacramentos Pascais. O 2º Domingo é chamado “de Abraão e da Transfiguração”. O Baptismo é o sacramento da fé e da filiação divina; como Abraão, pai dos crentes, também nós somos convidados a partir, a sair da nossa terra, a deixar as seguranças que construímos para colocar a nossa confiança novamente em Deus; a meta pode ser vislumbrada na transfiguração de Cristo, o Filho amado, em quem também nós nos tornamos “filhos de Deus”. Nos domingos sucessivos, apresenta-se o Baptismo nas imagens da água, da luz e da vida. O 3º Domingo faz-nos encontrar a Samaritana (cf. Jo 4, 5-42). Como Israel no Êxodo, também nós, no Baptismo, recebemos a água que salva; Jesus, como diz à Samaritana, tem uma água da vida, que sacia toda a sede; e esta água é o seu próprio Espírito. A Igreja, neste Domingo, marca o primeiro escrutínio dos catecúmenos e, durante a semana, entrega-lhes o Símbolo: a Profissão da fé, o Credo. O 4º Domingo faz-nos reflectir sobre a experiência do “cego de nascença” (cf. Jo 9,1-41). No Baptismo, somos libertados das trevas do mal e recebemos a luz de Cristo para viver como filhos da luz. Também nós devemos aprender a ver a presença de Deus no rosto de Cristo e, assim, a luz. No caminho dos catecúmenos, celebra-se o segundo escrutínio. Finalmente, o 5º Domingo apresenta-nos a ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11,1-45). No Baptismo, passamos da morte à vida e nos tornamos capazes de agradar a Deus, de fazer o homem velho morrer, para viver do Espírito do Ressuscitado. Para os catecúmenos, celebra-se o terceiro escrutínio, e durante a semana recebem a Oração do Senhor, o Pai Nosso.

Este itinerário que somos convidados a percorrer na Quaresma é caracterizado, na tradição da Igreja, por algumas práticas: o jejum, a esmola e a oração. Jejuar significa abster-se de comida, mas inclui outras formas de privação que visam a uma vida mais sóbria. Tudo isso não é ainda a realidade plena do jejum: é o sinal exterior de uma realidade interior, do nosso compromisso, com a ajuda de Deus, de abster-nos do mal e de viver o Evangelho. Não jejua de verdade quem não sabe se nutrir da Palavra de Deus.

O jejum, na tradição cristã, está intimamente ligado à esmola. São Leão Magno ensinou, num dos seus discursos sobre a Quaresma: “Aquilo que todo cristão faz sempre, deve agora praticar com maior dedicação e devoção, para cumprir a norma apostólica do jejum quaresmal, que envolve a abstinência não apenas da comida, mas sobretudo a abstinência dos pecados. A este santo jejum, não se pode acrescentar um trabalho mais útil do que a esmola, que, sob a denominação única de ‘misericórdia’, inclui muitas obras boas. Imenso é o campo de obras de misericórdia. Não só os ricos e abastados podem beneficiar os outros com a esmola; também os de condição modesta ou pobre. Assim, apesar de desiguais nos bens, todos podem ser iguais aos sentimentos de piedade da alma” (Discurso 6 sobre a Quaresma, 2:PL 54, 286). São Gregório Magno disse, na sua “Regra Pastoral”, que o jejum é santo pelas virtudes que o acompanham, principalmente pela caridade, por cada gesto de generosidade, que dá aos pobres e necessitados o fruto de nossa privação (cf. 19,10-11).

A Quaresma é também um momento privilegiado para a oração. Santo Agostinho diz que o jejum e a esmola são “as duas asas da oração”, que lhe permitem ganhar maior impulso e chegar a Deus. Ele afirma: “Assim, nossa oração, feita com humildade e caridade, no jejum e na esmola, na temperança e no perdão das ofensas, dando coisas boas e não retornando as más, afastando-se do mal e fazendo o bem, busca a paz e a alcança. Com as asas dessas virtudes, a nossa oração voa segura e é levada com mais segurança até ao céu, onde Cristo, nossa paz, nos precedeu” (Sermão 206, 3 sobre a Quaresma: PL 38,1042). A Igreja sabe que, pela nossa fraqueza, é muito fatigante fazer silêncio para nos colocarmos diante de Deus e tomar consciência da nossa condição de criaturas que dependem d’Ele e de pecadores que precisam do seu amor; por isso, na Quaresma, ela nos convida a uma oração mais fiel e intensa, e a uma meditação prolongada sobre a Palavra de Deus. São João Crisóstomo exorta-nos: “Embeleza tua casa com modéstia e humildade, através da prática da oração. Torna a tua casa esplêndida com a luz da justiça; adorna as suas paredes com as boas obras, como se fossem pátine de ouro puro e, em vez de muros e de pedras preciosas, coloca a fé e a sobrenatural magnanimidade, pondo sobre todas as coisas, na parte superior do frontão, a oração como decoração de todo o complexo. Assim, preparas para o Senhor uma morada digna, assim o acolhes num esplêndido palácio. Ele te concederá transformar a tua alma no templo da sua presença” (Homilia 6 sobre a Oração: PG 64, 466).

Neste caminho quaresmal, fiquemos atentos para acolher o convite de Cristo a segui-lo de maneira mais determinada e coerente, renovando a graça e os compromissos do nosso Baptismo, para abandonar o homem velho que está em nós e revestir-nos de Cristo, para, renovados, chegar à Páscoa e poder dizer com São Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). Bom caminho quaresmal a todos vós!