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Jornal - Notícias da Igreja

O Baptismo no caminho da Páscoa


O Concílio Vaticano II, ao referir-se ao tempo da Quaresma, ordena que se ponha em maior evidência, tanto na liturgia como na catequese litúrgica, o duplo carácter deste tempo que, sobretudo através da recordação do Baptismo e através da Penitência, dispõe os fiéis que, com mais frequência ouvem a Palavra de Deus e se entregam à oração, para a celebração do Mistério Pascal (cf. SC109).

Segundo o Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos (RICA), temos quatro tempos ou etapas seguidas: a do pré-catecumenado, caracterizada pela primeira evangelização; a do catecumenado destinada a uma catequese completa; a da purificação e iluminação, para obter uma preparação espiritual mais intensa, e a da mistagogia, marcada por uma nova experiência dos sacramentos e da comunidade (RICA 7).

Percorrido o itinerário de formação cristã, os catecúmenos são convidados a celebrar os ritos preparatórios, chamados Escrutínios, celebrados ao longo dos domingos da Quaresma. Estes ritos, constituem para os eleitos a preparação imediata para o renascimento Baptismal e, para toda a comunidade cristã ocasião de uma nova tomada de consciência da graça que receberam no Baptismo cujas promessas renovarão na Noite Santa da Páscoa.

Ao longo do caminho quaresmal, a comunidade cristã e os seus catecúmenos, instruídos pela Palavra de Deus, são introduzidos no Mistério da pessoa de Cristo, e descobrem o inestimável dom do Baptismo: no encontro de Jesus com a Samaritana, acolhem Jesus como a água viva que jorra para a Vida Eterna (III domingo); na cura do cego de nascença é-lhes apresentado Jesus – Luz do mundo (IV domingo); no episódio da ressurreição de Lázaro descobrem Jesus-Vida (V domingo).

São Clemente de Alexandria, em sintonia com este percurso, proposto pela Sagrada Liturgia, apresenta assim o caminho baptismal: «Baptizados, somos iluminados; iluminados, somos adoptados como filhos; adoptados, somos tornados perfeitos; tornados perfeitos, recebemos a imortalidade» (1).

Este progressivo conhecimento de Cristo e o reconhecimento apaixonado através do Sacramento do nosso renascimento, tem como finalidade, neste caminho quaresmal, suscitar nos cristãos a tríplice profissão de fé em Cristo: exclamar com os samaritanos: «este é verdadeiramente o Salvador do mundo!», proclamar com o cego de nascença «eu creio, Senhor»; e afirmar com Marta, irmã de Lázaro: «Sim, Senhor, eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo que havia de vir ao mundo».

Como não vermos, nesta tríplice profissão de fé, uma antecipação daquela que será a renovação das promessas baptismais na Vigília Pascal, para a qual a Igreja, com solicitude materna, nos prepara ao longo da Quaresma?

Tudo neste Tempo orienta a Igreja para a Páscoa. Na noite Santa, reviveremos todo o caminho percorrido nestes Domingos da Quaresma: aclamaremos a Cristo Luz do mundo! Seremos aspergidos com a água da vida, os catecúmenos renascerão para a Vida Nova, recordando o nosso Baptismo e, aproximando-nos da Eucaristia, acolheremos a Cristo que, para nós, se fez pão de Vida eterna.

Terminados os dias do caminho quaresmal, entraremos na Festa que haveremos de celebrar ao longo dos cinquenta dias até ao Pentecostes. Os que foram iluminados terão nesses dias ocasião para aprofundarem a graça que receberam (mistagogia) e toda a comunidade cristã, renovada no Mistério Pascal do seu Senhor, viverá na alegria e na exultação, dando ao mundo as razões da esperança que a habita.

Quando alguém se dirige à Igreja para pedir o Baptismo, ou outros sacramentos fundamentais como a Primeira Comunhão ou o Crisma, pensa com frequência que basta aprender a doutrina católica para preparar a celebração. Porém, a fé cristã não é tanto uma questão doutrinal mas, sobretudo, uma relação de confiança, de adesão e de amizade com Deus que conduz a uma nova forma de estar e de relação com a vida e com os outros. Ora, a relação com Deus aprende-se e vive-se na oração, na celebração da fé, na fidelidade à Aliança, na fraternidade e no serviço ao próximo. Para ser baptizado em idade de decisão não basta, portanto, fazer um curso. É necessário, sim, um percurso, um itinerário de conversão ao mistério de Deus e de iniciação à vida cristã em todas as suas dimensões: conhecer, celebrar e praticar a fé. Este itinerário é designado, na tradição da Igreja, por catecumenado entendido como “caminhada progressiva dentro da comunidade dos fiéis” (RICA 4).
Este desafio tem vindo a ser acolhido na Igreja de formas diversas. Neste mesmo espírito podemos afirmar que a reforma do catecumenado, segundo a antiga tradição da Igreja, veio trazer às comunidades cristãs novos desafios e oportunidades e, ao mesmo tempo, ajudá-las a uma vivência quaresmal mais fecunda.