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Jornal - Entrevista

Entrevista com o Diácono Manuel Vaz

 

“...já não sou capaz de olhar para os outros sem reconhecer

em cada um deles um irmão em Cristo”

 

N.B. - No passado dia 22 de julho foi ordenando diácono permanente, na Sé Catedral em Viseu. Qual o significado que teve para si a concretização desse momento?

Manuel Vaz - Terei que identificar este significado primeiro num contexto pessoal, em que senti uma alegria indescritível quando recebi o Sacramento da Ordem das mãos do Reverendíssimo Bispo de Viseu D. Ilídio Leandro.

Na realidade foi como o concretizar de um sonho, sonho esse que tem como base principal o meu amor por Deus e mesmo a necessidade que sinto em servir, mas servir quem? Servir a Igreja, esposa de Cristo, servindo os irmãos, colocando-me ao serviço do Evangelho, participando do ministério apostólico, isto é, desse serviço referido à escolha e ao envio dos Doze.

Pelo Sacramento da Ordem sei que fui chamado, consagrado e enviado para testemunhar a fé apostólica da Igreja.

Será minha responsabilidade em comunhão com o Bispo e com o Presbitério trabalhar para a reunião eclesial em vias de realização, pela tripla diaconia da Palavra, da Liturgia e da Caridade.

Pelo que acabei de dizer o ministério do Diaconado que recebi tem acima de tudo uma vertente de serviço, diria mesmo com um grau de responsabilidade muito grande, não que tenha medo de errar pois S. Paulo disse “ não tenhais medo “, mas porque tudo o quem tem implicação direta com o ser humano pode ter sempre mais que uma forma de abordar.

 

N.B. - Como e quando surgiu esta decisão?

M.V. - Esta e outras coisas da fé nunca são programadas nem nunca nos oferecemos para as fazer mas requerem da nossa parte uma atenção muito grande aos sinais que Deus em cada momento nos envia e assim a decisão de receber o primeiro grau do Sacramento da Ordem não foi programado, antes pelo contrário foi acontecendo de uma forma paulatina e ao longo de muitos anos.

Posso contar de uma forma resumida o percurso que me levou até este ponto:

Bem cedo me liguei a alguns movimentos da Paróquia de Mangualde tais como a Catequese, o Renovamento Carismático e o Cursilho de Cristandade e em todos eles eu fui crescendo na fé, fui aprendendo com as crianças e jovens da catequese, com pessoas adultas nos diversos movimentos e de forma muito especial com os Sacerdotes, todos eles responsáveis pelo crescimento do meu amor por Deus por quem me ia sentindo cada vez mais atraído.

Fui convidado pelos dois Sacerdotes de Mangualde para participar num curso de Ministro Extraordinário da Comunhão e, depois disso, comecei, tal como outros, a realizar Celebrações da Palavra nas diversas capelas da nossa Paróquia. Ora um belo dia o saudoso reverendo Padre Lobinho falou-me em eu frequentar uma formação para receber o primeiro grau do Sacramento da Ordem, convite também feito pelo Reverendo Padre Marcelino, à data era Bispo de Viseu o Revº. Bispo D. António Marto.

A esta proposta eu respondi sem hesitação que não aceitaria receber este ministério, foram esgrimidos alguns argumentos mas a minha decisão foi inabalável, e era não.

Pouco tempo depois houve, a nomeação de um novo Bispo para Viseu, e depois, troca de Sacerdotes na Diocese e na Paróquia de Mangualde também e. lamentavelmente, fomos confrontados pelo falecimento do Reverendo Padre Lobinho.

O Reverendo Cónego Seixas chamou-me e, sabendo ou não que eu tinha sido convidado pelos seus antecessores, também ele me lançou o desafio. Disse-lhe que eu não era digno, havia outros que seriam mais merecedores e mais capazes, mas na verdade o meu anterior Não estava a perder a consistência, eu começava a ponderar este desafio já não feito pelos Sacerdotes mas eu começava a considerar que o desafio era feito por Deus.

Foi neste contexto que recebi uma chamada do Ex. Revº. Bispo D. Ilídio Leandro para ter uma conversa comigo. Fui a esse encontro sem qualquer ideia de aceitar, mas os argumentos do nosso Bispo foram fortes, mesmo muito fortes e, não me prometendo uma vida fácil bem pelo contrário, também não aceitou o meu não e em boa verdade eu já não queria dizer não mas, tal como Maria, eu queria dizer SIM.

 

N.B. - Qual foi a reação inicial dos seus familiares?

M.V. - Para os meus familiares, pois bem tenho uma família maravilhosa, esposa, dois filhos, uma nora e uma futura nora, mas somos uma família onde por hábito tudo é conversado sem tabus onde a procura de um consenso é quase obrigatório e sempre mas sempre na procura da felicidade do outro, foi o culminar lógico do meu percurso na Igreja, dos momentos de oração a que eles assistiam, da manifestação diária do meu amor por Deus.

Tenho da parte de todos eles um apoio incondicional e sei que também eles comungam do mesmo amor pelo mesmo Senhor ( Deus ).

 

N.B. - Após esta ordenação, quais as transformações mais relevantes que surgiram na sua vida?

M.V. - Terei que reconhecer que algo mudou em mim, sinto que a família que eu tinha hoje foi substancialmente aumentada, já não sou capaz de olhar para os outros sem reconhecer em cada um deles um irmão em Cristo. Também tenho consciência do meu dever de obediência à Igreja, ao Bispo e ao Presbitério.

 

N.B. - Quais as etapas pelas quais teve que passar para chegar até aqui?

M.V. - O Diaconado foi reanimado na Igreja no Santo Concílio Vaticano II pela documento Lumen Gentium ( 29 ), aprovada em 21 de novembro de 1964 pelo Papa Paulo VI. Foi assim re-instituído como Ministério ordenado e por isso sujeito a um conjunto de regras a que não é nem poderá ser estranha a formação.

Assim, terminei com aproveitamento nos últimos dias de Junho deste ano uma licenciatura em Ciências Religiosas na Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa, foram 44 disciplinas que versaram um conjunto de conhecimentos que passaram por variados temas desde Ética, Sociologia, Teologia. Hermeneutica, Fenomenologia, Cristologia, Direito Canónico e muitos outros.

Foi enriquecedor frequentar estes temas e, se muito aprendi e é verdade que aprendi, também é verdade que é muito o que ainda não sei e eu estarei sempre disponível para a prender com ajuda de Deus e do Seu Santo Espírito.

 

N.B. - Enquanto diácono permanente, quais as funções que pode exercer?

M.V. - Primeiro que tudo não podemos esquecer que um Diácono não é um Sacerdote nem um Padre de segunda. Ao Diácono estão perfeitamente atribuídas as funções descritas no documento Lumen Gentium ( 29 ) e transcritas para o Direito Canónico e que não é mais do que a expressão em lei das decisões do Santo Concílio Vaticano II.

De uma forma simplista, o Diacono está ao serviço do Bispo, e tem na Igreja uma tripla diaconia da Palavra, da Liturgia e da Caridade. Está pois ao serviço do Evangelho, ao serviço do Altar e ao serviço da Pastoral caritativa.

Dizendo estas coisas de uma forma mais prática, não será surpresa que me vejam, além da Celebração da Palavra a presidir a Batizados, Casamentos e Funerais, ministrando estes Sacramentos e ainda a ministrar os Sacramentais.

Aproveito para informar que, por decreto do Exº. e Reverº. Bispo D. Ilídio Leandro já publicado assumirei algumas funções ao nível dos Seminários Maior e Menor, em celebrações da Sé de Viseu, na Fundação do Jornal da Beira, no Concelho Económico da Diocese e no Aciprestado de Mangualde.

Estarei sempre disponível para qualquer serviço que o meu Bispo me solicite ,se ele achar que serei capaz de o realizar.

 

N.B. - O que espera a partir de agora?

M.V. - Na verdade reconheço que tenho alguma ansiedade em relação ao meu futuro como Diácono, mas acredito que, se Deus me escolheu, ELE me capacitará para o servir em cada momento.

Aproveito este momento para propor a leitura da recente Exortação Apostólica “ VERBUN DOMINI “ do Papa Bento XVI, muito esclarecedora do papel do Diaconado na Igreja de hoje, e, já agora e porque também é importante para todos nós Cristãos, procurem ler, também, do Santo Padre Bento XVI, a encíclica “ Caritas in Veritate ” ( Caridade na Verdade ), verdadeiro hino à forma de estar dos Cristão no mundo de hoje, não só na Igreja mas também na sociedade, na política, etc.

Aproveito para deixar aqui um apelo à comunidade de Mangualde, AJUDEM-ME A AJUDAR-VOS .

Que Deus me capacite para servir a Igreja e a comunidade de Católicos.