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COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS

(“MÊS DAS ALMAS”)

 

Como acontece em todos os anos, no dia a seguir à Solenidade de Todos os Santos, a liturgia faz a Comemoração de todos os fiéis defuntos. A recordação dos mortos teve sempre um grande impacto social. O mês de Novembro está marcado pela data (mês das almas), e as pessoas aproveitavam o dia de Todos os Santos para ir aos cemitérios e rezar pelos seus defuntos. A morte é uma das experiências da vida humana que mais nos transtorna. A cultura atual procura ignorar a morte, “maquilhá-la”. Mas, mesmo assim, ela é uma realidade inevitável. A perda definitiva da vida vai acontecendo paulatinamente nas perdas constantes da vida: dos nossos entes queridos, dos nossos pais, dos nossos idosos, a perda da nossa juventude, da saúde, da força física, da capacidade mental, etc… O aspecto negativo da morte aparece nas leituras que apresentamos como proposta para a reflexão deste ano (Lm 3,17-26; Fl 3,20-21; Mc 15,33-39; 16,1-6): “A recordação da minha miséria e da minha vida errante é absinto e veneno”.

           Hoje, é dia indicado para destacar a mensagem alegre do Evangelho de Jesus: Deus ama-nos e o seu amor manifesta-se na sua doação como Vida e Alegria de cada um de nós. Este dia é propício para recordar a fórmula tradicional cristã que descreve o abismo profundo donde Deus nos tira: o Senhor livra-nos do pecado e da morte e dá-nos esperança da ressurreição e de uma Vida eterna.

           Em toda a celebração está presente o núcleo da nossa fé na ressurreição. Todavia, não podemos esquecer que hoje recordamos as pessoas que amámos e que já morreram (algumas depois de momentos de sofrimento), e que também morreremos. A linguagem utilizada para falar da fé na ressurreição não pode ser uma espécie de poesia fantasiosa; não pode esquecer a experiência dura e inevitável da morte. De facto, no centro da fé cristã em Jesus Cristo está o mistério da sua morte na cruz e da sua ressurreição. Podemos ler isto no evangelho. O contraste entre o anúncio do Deus da Vida e a surpresa da morte de Jesus não é um aspecto secundário da fé cristã; é o seu centro. Parece que aqui se resume a mensagem de Jesus aos discípulos de Emaús: “Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer tudo isso para entrar na sua glória? Não fala só da realidade da morte, mas diz que “era necessário” que o Messias sofresse. Este “era necessário” é como uma luz sublime na contemplação mística da cruz de Jesus: “Convinha, com efeito, que aquele por quem e para quem existem todas as coisas, querendo levar muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o autor da sua salvação” (Heb 2,10). “Era necessário”, “Convinha”. É o centro do mistério cristão. Cada um de nós vive, à sua maneira, o conflito entre o anúncio do Deus da Vida e a Morte de Jesus e a nossa. São Marcos narra no evangelho: “Jesus, soltando um grande brado, expirou”. São Lucas escreve desta forma: “Jesus exclamou com voz forte: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dito isto, expirou”. Deus dá ao Seu Filho Jesus a vida plena e eterna, através da sua doação generosa, difícil, amorosa e total. É esta vida que a todos nos promete; sem nos afastarmos dos difíceis caminhos da nossa vida e da nossa morte, dá-nos o Espírito de amor e de entrega que a tudo dá sentido e enche de Deus, mesmo no sofrimento e na morte.

 

Recordando os nossos defuntos, renovemos a fé no Deus da Vida e em Jesus Cristo, que na sua morte se entregou ao Pai e à humanidade e, assim, encontrou a Vida Ressuscitada em Deus. Todos, os que vivemos e os mortos, somos convidados a participar da Páscoa de Jesus. Sabemos que a nossa comunhão com Ele não é plena. Por isso, a celebração do dia dos fiéis defuntos é um momento de oração e de sufrágio pelos defuntos. Pelo Baptismo e pela Eucaristia participamos sacramentalmente da morte e da ressurreição de Jesus. Rezemos para que a obra do Senhor atinja a plenitude nos nossos irmãos que já partiram.