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HOMILIA DO 2º DOMINGO COMUM (ANO A)

Será possível que Deus ainda continue a dirigir sobre nós o seu olhar? Qual a razão que Deus tem para continuar a confiar em nós e, por nós, manifestar a sua presença misericordiosa? Não nos incomoda e não nos faz pensar esta fidelidade amorosa de Deus? Como estas perguntas poderão criar em nós um desejo de procurar o Senhor para nos transformar e renovar! As leituras deste domingo convidam-nos a reflectir neste mistério: o Senhor aproxima-se de cada um de nós. Que bom seria que a nossa vida fosse um cântico novo de esperança e de realismo, de gestos e de palavras que digam o que Deus quer de nós, de sinais da presença do Reino Deus na nossa vida! Devido à proximidade e ternura de Deus, transformar-nos-emos em luz, ou seja, seremos reflexo da Luz do mundo, Cristo ressuscitado. A iniciativa de encurtar distâncias foi de Deus. Foi Ele que teve a iniciativa para provocar um encontro fecundo e feliz com a humanidade. Ninguém pode ficar indiferente perante este “dilúvio” de Amor infinito!

 

 

Pois é desta maneira que o Senhor nos modela. Para Ele, não há distâncias, não há muros intransponíveis, não há feridas incuráveis, não há ressentimentos, não há obstáculos para sua presença amorosa. A confiança de Deus em cada um de nós é expressão da sua vontade, mistério de Amor, mistério de Luz, que nos convida a viver e a responder ao seu chamamento, dizendo a simples frase: “Aqui estou, Senhor”.

Ao darmos conta da proximidade de Deus, mais cedo ou mais tarde, sentiremos o seu chamamento: ser seus discípulos, converter-nos. É Ele que nos acompanha e nos dirige uma palavra de Amor. Seguir o Senhor, à primeira vista, parece ser um atrevimento da nossa parte, mas é essa a vontade de Deus. É Ele que nos chama para dar testemunho do Evangelho. É isto que muda a nossa vida, os nossos projectos pessoais, eclesiais e pastorais. Quem dá sempre o primeiro passo é Deus. Acolhamos Deus nas nossas vidas, cuidemos da nossa relação com Ele e assim teremos uma relação estável connosco próprios e com os nossos irmãos, uma relação justa, equilibrada, serena e pacífica.

Neste aspecto, o evangelho é muito claro, porque diz-nos que o Deus de Jesus, o nosso Pai, ama-nos muito e procura-nos. Isto narra-nos o texto deste domingo, quando diz que Jesus vem ao nosso encontro, aproxima-se sem ser anunciado, de uma forma natural, discreta, mas convicta e decidida. Todavia, é apresentado por João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Esta apresentação e este título de Jesus (Cordeiro) está cheio de simbolismos e de referências bíblicas. No Egipto, o sangue do cordeiro pascal assinalava as portas das casas dos judeus. Era o início da libertação do povo. No Templo de Jerusalém, ofereciam-se cordeiros em sacrifício. Agora, a cruz de Jesus é o sacrifício definitivo que tira o pecado do mundo e que nos dá a plena liberdade de filhos de Deus. Todos já fizemos a experiência da proximidade de Deus na vida. Pensemos nesses encontros maravilhosos não para ficar no passado ou nas recordações, mas para dar frescura e entusiasmo a viver de novo a missão: ser luz das nações para a salvação chegue aos confins da terra, ser apóstolo de Jesus, dar testemunho de que Ele é o Filho de Deus. Não cair na tentação de formatar a nossa vida com as nossas estratégias, ideias e projectos, mas dar prioridade à graça, à vontade e ao Espírito de Deus em nós.

Deus não se cansa de confiar em nós. Ajuda-nos a renovar a nossa vida. Ele aproxima-se de mim, mas também dos outros. Não esqueçamos que todos somos filhos de Deus, graças ao seu chamamento. E se somos filhos de Deus, teremos de olhar uns para os outros, amá-los e respeitá-los como irmãos.