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HOMILIA DE 5ª FEIRA SANTA

Chegou a hora de Jesus. Escutamos, hoje no Evangelho: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai”. Toda a vida e actividade de Jesus estava orientada para esta hora. Já a tinha previsto quando, nas bodas de Caná da Galileia, Maria, sua Mãe, a antecipou com a realização do milagre de transformar a água em vinho, sinal da abundância e excelência do dom de Deus Pai, que é o seu próprio Filho. Jesus é a grande manifestação do amor de Deus ao mundo. Viveu amando os seus no mundo e, agora, manifesta até que ponto os amava. Esta “hora” que celebramos é todo o mistério do Tríduo Pascal. É a plenitude da caridade e da vida de Jesus que se expressa em cada gesto, em cada palavra, em cada sofrimento, em cada momento da Paixão.

Jesus veio para servir e dar-nos o exemplo. “No decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura”. Quando regressou à mesa, disse-lhes: “Compreendeis o que vos fiz?”. E nós, neste dia, compreendemos? Jesus é Mestre e Senhor. Não é somente o Mestre que nos ensina a viver de uma maneira nova no amor até ao extremo, mas é também o Senhor da vida, que a dá ao que se confessa pecador e se abre à sua misericórdia, esforçando-se por imitar o exemplo de Jesus, em quem reconhece o seu Senhor. Jesus Cristo é o nosso modelo: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim”, “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Ele é o modelo das bem-aventuranças e da lei nova que nos deu; cumprindo-a somos seus discípulos, autênticos cristãos. “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Entendemos isto? Não podemos sentar-nos à mesa de Cristo se não somos capazes de levantar-nos para servir, imitando-O. Ele não veio para ser servido mas para servir.

O discípulo encontra a alegria da vida na plenitude do amor do seu Mestre e Senhor. A Eucaristia é o sacramento deste amor grandioso. O discípulo vive da Eucaristia e há-de viver como pão partilhado e bebida de fraternidade, comungando as alegrias e as tristezas de cada dia com os outros, especialmente com os pobres. A Igreja vive da Eucaristia. 1) A Eucaristia é o alimento para o caminho. O livro do Êxodo narra-nos a ceia pascal, como uma refeição familiar ou comunitária, feita de pé e prontos para a viagem. Jesus dá-se como alimento para nos fortalecer para a caminhada da nossa vida. 2) A Eucaristia é o memorial do Senhor. A 1ª leitura diz-nos: “Este dia será para vós uma data memorável”. E S. Paulo, transmitindo a tradição que vem do Senhor, afirma: “fazei-o em memória de mim”. Cada vez que participamos na Eucaristia, entramos em comunhão com Cristo ressuscitado, “até que Ele venha”, ao mesmo tempo deixando-nos transformar para sermos um “memorial” daquele que recebemos. 3) A Eucaristia é a presença real de Cristo. Torna-se presente na assembleia reunida, na Palavra proclamada, no sacerdote que preside e no pão e no vinho (sinal por excelência desta presença real Cristo em toda a celebração). Uma presença que deve tornar “real” na vida de cada pessoa que comunga e da comunidade que celebra a Eucaristia. 4) A Eucaristia é um momento de acção de graças. A vida de Jesus foi um dom para a humanidade. Celebrar a Eucaristia é acolher com gratidão este dom, é sentir a presença de Cristo em mim e em cada irmão para aprender a tratar com o mesmo amor cada pessoa que encontro ao longo da minha vida.

Celebramos esta Ceia santíssima em que o Filho Unigénito de Deus Pai, “antes de Se entregar à morte, confiou à Igreja o sacrifício da nova e eterna aliança” (oração colecta). O ministério ordenado, o sacerdócio ministerial, nasce deste gesto do Senhor ao serviço da Igreja e do mundo.

Hoje, é o dia da instituição da Eucaristia, do sacramento da Ordem e do mandato do Senhor sobre a caridade. Celebramos o Memorial do Senhor. Todas as vezes que o celebramos torna-se presente a obra da redenção de Cristo, até que Ele venha. Por isso, o nosso clamor, o clamor da Igreja será sempre. “Vem, Senhor Jesus”.