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HOMILIA DO 3º DOMINGO DA PÁSCOA

O texto evangélico deste domingo é fascinante. A aparição de Jesus aos discípulos de Emaús é um texto rico até no ponto de vista literário. Não nos cansaríamos de o comentar. Mas façamos a nossa reflexão a partir de quatro pontos: na vida, 1) Jesus caminha connosco, 2) Jesus fala-nos ao coração, 3) Jesus senta-se connosco e com o pão e o vinho recorda-nos que nos amou até ao extremo, 4) aqueles que experimentaram a proximidade de Jesus não podem ficar passivos, mas transmitir aos outros essa vivência e convidá-los a fazer a mesma experiência.

No caminho da vida, Jesus caminha connosco, apesar de tantas vezes nem darmos conta, porque estamos oprimidos pelas nossas tristezas, preocupações, problemas, desilusões. O cristão é aquele que está convencido de que Jesus estará connosco até ao fim dos tempos e que Jesus cumpre a sua promessa. O salmo do bom pastor recorda-nos: “Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos (as nossas dificuldades), não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo".

No caminho da vida, Jesus fala-nos ao coração…sem lhe abrirmos o coração e o ouvido. Se os nossos ouvidos estão cheios do barulho desta sociedade, não escutaremos a sua palavra. Uma palavra que “mexe” connosco, que esclarece, que faz ver as coisas de outra forma. Nunca podemos deixar de escutar esta palavra que nos abre para uma nova maneira de encarar as nossas alegrias e sofrimentos e as alegrias e os sofrimentos dos que nos rodeiam.

No caminho da vida, Jesus senta-se à mesa connosco, parte o pão, recordando-nos que nos amou até ao extremo, até ao fim. Esta é a nossa experiência de cada domingo, à volta do altar. Jesus parte o pão e nós temos de o repartir para que haja para todos. Nem hoje nem nunca, devia haver pessoas sem pão na mesa. Devemos sentir a responsabilidade pelos famintos: “Quanto tive fome deste-me de comer?”. Hoje, tanta mesa sem pão! Hoje, para nossa vergonha, ainda tantas pessoas morrem de fome. Comungar significa comer o pão vivo descido do Céu, mas também partilhar o pão com os que o não têm.

No caminho da vida, somos convidados a partilhar a alegria da fé. Há que testemunhar a experiência da proximidade de Jesus, da escuta dos seus ensinamentos, de nos sentarmos à sua mesa e de fazer memória de como nos amou e de que nos disse que a maior prova de amor é dar a vida pelos outros. Nós somos os mensageiros da Boa Nova de Jesus. Os poderosos do seu tempo crucificaram-no e isso continua acontecer com os poderosos do nosso tempo, quando se esquecem da dignidade da pessoa humana, quando exploram e abusam dos mais frágeis, quando só pensam nos seus interesses e lucros. Apesar disso, Ele ressuscitou, pois não era possível que Ele ficasse sob o domínio da morte; nós fomos resgatados pelo sangue precioso de Cristo, Cordeiro sem mancha, como nos diz S. Pedro nas leituras que antecedem o evangelho. Só o caminho de Jesus nos dá vida e vida em abundância.

Também hoje brota dos nossos corações o mesmo pedido dos discípulos de Emaús: “Fica connosco, Senhor”. Não nos deixes, não nos abandones, ainda que nos afastemos por algum tempo do teu caminho! Só em Jesus encontramos a alegria, a paz e a razão para viver e amar. Fica connosco, Jesus, na tarde da nossa vida. Caminha connosco na vida, és o nosso companheiro. Levanta os nossos corações, dá-nos esperança. Somente assim, poderemos reconhecer-te nas Escrituras e no partir do pão.