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20º DOMINGO COMUM (ANO A)

Os textos da liturgia da Palavra deste domingo destacam a universalidade da salvação, a salvação é também para os “estrangeiros”. Pela boca do profeta Isaías, o Senhor deixa entrar no seu monte santo os estrangeiros que são fiéis à aliança e celebrar as suas festas, “porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”. No evangelho, Jesus retirou-se para os lados de Tiro e de Sidónia, fora das fronteiras de Israel, no território da Fenícia, que hoje corresponde à zona sul do actual Líbano. Também S. Paulo dirige hoje as suas palavras, na sua carta aos Romanos, àqueles que não são judeus.

Neste domingo, somos convidados a proclamar: “Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra”. Que todos os povos se alegrem ao conhecer o desejo de Deus: salvar toda a humanidade. É muito importante acolher todos aqueles que vêm ao nosso encontro e participam nas nossas celebrações. Mas, também é importante, como Jesus, sair das nossas fronteiras para ir ao encontro daqueles que não pensam como nós, respeitando as diferenças culturais e religiosas que nos rodeiam. Mantendo a nossa identidade cristã, podemos dialogar com aqueles que não partilham connosco das mesmas ideias e crenças religiosas.

Jesus sabia muito bem qual era o objectivo principal da sua missão: “ir ao encontro das ovelhas perdidas da casa de Israel”. Por isso, à primeira vista, parece não aceitar o pedido daquela mulher cananeia que veio ao seu encontro. Ela era cananeia; era estrangeira e pagã. Poder-se-ia pensar que esta mulher não tinha direito à salvação. Mas as suas lágrimas suplicantes têm mais força que a norma estabelecida: “Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim”.

A mulher cananeia tem uma grande fé. Por isso, eleva a sua súplica pela sua filha que está atormentada por um demónio. Prostra-se diante de Jesus, dizendo: “Socorre-me, Senhor”. Reconhece Jesus como o Messias (Filho de David) e Senhor. O seu pedido e a sua fé brota do seu coração. Que exemplo para aqueles que dizem que perderam a fé! Perderam a fé, porque deixaram muito antes a oração. Jesus deu a oportunidade àquela mulher para dar o salto da fé. Crer em Jesus não é só pedir-lhe auxílio quando estamos angustiados, mas ver a vida com os seus olhos. A oração da mulher foi feita com muita humildade. Não pode haver fé se não existe humildade.

Duas conclusões podem tirar-se do texto evangélico deste domingo para a nossa vida. Em primeiro lugar, a nossa relação com Deus não deverá ser um comércio de favores. Há que ter fé e confiar, insistir na oração e colocarmo-nos nas mãos de Deus, que nunca nos abandonará. Em segundo lugar, a nossa relação com os irmãos, tanto os de dentro da Igreja como os de fora, tem de ser um acolhimento fraternal. Todos somos estrangeiros, porque a nossa pátria definitiva é o Céu, para o qual caminhamos. Mas, a Igreja, o novo Povo de Deus, aceitou o dom da fé e sabemos qual é o caminho do Evangelho, sem excluir ninguém, porque o plano de salvação de Deus é universal. Formamos um só corpo, em Cristo Jesus. Não podemos rejeitar ninguém, porque Deus é Pai de todos.

A missão dos filhos da Igreja está resumida na primeira leitura: “Respeitai o direito, praticai a justiça”. Viver com coerência a nossa fé. Só assim poderemos ser verdadeiros anunciadores da Boa Nova aos outros. A nossa missão consiste em professar e viver a nossa fé, estando ao serviço dos outros, acolhendo e respeitando os nossos irmãos, ouvindo os seus pedidos e guardando os mandamentos. Assim, caminharemos e ajudaremos os nossos irmãos a caminhar para a Vida Eterna, louvando sem cessar Deus, nosso Pai.

Cónego Jorge Seixas