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HOMILIA DO 21º DOMINGO COMUM (ANO A)

A pergunta que marca a reflexão deste domingo sai da boca de Jesus: “Vós, quem dizeis que Eu sou?”. Jesus fez esta pergunta aos seus discípulos na região de Cesareia de Filipe, longe das multidões e da confusão das grandes cidades, junto ao monte Hermon, perto das fontes do Jordão. É este o lugar escolhido por Jesus para pôr à prova os seus discípulos, interrogando-os sobre a sua identidade. Este é o texto fundamental do evangelho de Mateus, porque divide em duas partes todo o seu texto evangélico. Depois da apresentação de Jesus, S. Mateus coloca o Sermão da Montanha até ao capítulo 16. Com a pergunta de Jesus e a confissão de fé de Pedro, começa a segunda parte: o caminho para Jerusalém. A confissão de Pedro, ou seja, o reconhecimento de que Jesus não é um homem qualquer, mas o Messias, o Filho de Deus vivo, é fundamental para seguir Jesus até à paixão e ressurreição. Por isso, “Jesus ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que Ele era o Messias”. Só depois da cruz e da ressurreição, os discípulos poderão entender realmente o que significa ser o Filho de Deus.

A leitura de Isaías fala de uma pessoa chamada Eliacim, que substitui Chebna, o primeiro-ministro do rei Ezequias, expulso do seu cargo. Eliacim torna-se sinal de um novo poder dado por Deus. “Porei aos seus ombros a chave da casa de David”. A imagem da chave é símbolo da delegação de poder e os verbos “abrir e fechar” representam o exercício da função e da autoridade de um administrador, que não é o proprietário. Esta imagem recorda-nos a pessoa que tem as chaves de uma casa e, por isso, tem toda a responsabilidade sobre ela. As chaves, não as do palácio de David mas do Reino do Céu, são confiadas por Jesus a Pedro, cujo nome significa a “pedra sobre a qual edificarei a minha Igreja”.

Se acreditamos na Igreja edificada por Cristo sobre a rocha firme que é Pedro, a nossa fé permanecerá sempre alicerçada sobre uma referência objectiva e sólida e não submetida a critérios individuais de pequenas comunidades que não querem saber da Igreja Universal, da qual o Papa é o sucessor de Pedro e pastor universal. A Igreja local tem de estar sempre unida e em comunhão com a Igreja Universal. Por vezes, ouvimos dizer: “Acredito em Jesus, mas na Igreja não”. Esta frase não tem razão de ser, porque a função e a autoridade de Pedro remete-nos à fé, que é o grande dom que vem de Deus e que não podemos inventar nem usar segundo os nossos interesses e conveniências. A fé vive-se em comunidade, e nunca individualmente; por isso, a importância da participação na assembleia litúrgica dominical para caminharmos todos os dias segundo Cristo, para que Deus seja tudo em todos (Sacrosanctum Concilium 48).

No texto do evangelho, Jesus dá o poder a Pedro para governar a Igreja, o chamado poder das chaves, afirmando: “Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus”. Falar da Igreja e de poder pode soar mal aos nossos ouvidos. A Igreja tem poder? Claro que tem! O poder da Igreja é o serviço. No Evangelho, Jesus apresenta-se como alguém que tem poder, o poder de Deus sobre a natureza, sobre os espíritos impuros, etc. Ele ensina uma doutrina nova não como os mestres da Lei mas com autoridade. Jesus dá a Pedro este poder e esta autoridade. Por isso, podemos falar do poder e da autoridade da Igreja, porque não actua por sua própria conta e risco, não é uma organização humana, com um poder humano, mas é a concretização do plano salvador de Deus.

Jesus, dando as chaves a Pedro, confia-lhe o governo da Igreja, lugar de comunhão e de consolação dos pobres, que tudo recebe de Deus e entrega a Deus. A Igreja não é mais uma organização no mundo, mas é a voz de Deus no mundo, convidando todos a cumprir os mandamentos, a encontrar em Deus a verdadeira alegria, a esperança e a coragem para as dificuldades da vida.

Cónego Jorge Seixas