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(HOMILIA DO 22º DOMINGO COMUM ANO A)

O texto evangélico é a continuação da narração do passado domingo. Em Cesareia de Filipe, Pedro confessa que Jesus é o Messias, o Filho de Deus vivo. Jesus disse que ele era feliz, ditoso, por ter recebido esta revelação de Deus. De seguida, dá-lhe a missão de ser a rocha sobra a qual Ele edificará a sua Igreja. A partir deste momento Jesus, depois de os proibir que não dissessem a ninguém que Ele era o Messias, inicia o seu caminho para Jerusalém com os discípulos. Ali se irá cumprir o anúncio que Jesus lhes fará por três vezes, e que hoje escutam pela primeira vez: que tinha de sofrer muito, “de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”. Em nome de todos os discípulos, Pedro expressa a incompreensão e a surpresa deste anúncio: “Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!”. Só depois da ressurreição e do envio do Espírito Santo, os discípulos começarão a compreender tudo o que viveram e ouviram da boca de Jesus. Esta incompreensão dos discípulos orienta o nosso olhar para a angústia que denota a confissão de Jeremias na primeira leitura, quando, como Jesus, tem de dizer ao povo aquilo que lhe desagrada ou que não querem ouvir.

“Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém…”. Esta frase expressa a mudança que acontecerá nas palavras e na vida de Jesus a partir deste momento. A pergunta que os discípulos escutaram sobre quem é Jesus, poderia ser agora formulada assim: “Como há-de ser o Messias?”. O tema da paixão e da morte começará a ser habitual nas acções e nas palavras de Cristo. Os discípulos, como todos os judeus, esperavam um Messias diferente do que estava a ser anunciado. Por isso, se gera a angústia e a incompreensão: “Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!”, exclamou Pedro, expressando a perturbação dos outros discípulos.

Compreender as palavras e a pessoa de Jesus só é possível se aceitarmos a sua identidade e tivermos o desejo de O imitar. Não basta somente professar a fé com palavras, como fez Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. É preciso ir à fonte donde brota a personalidade de Jesus, ou seja, o seu olhar orientado sempre para o Pai. Situa-nos numa lógica totalmente diferente ao raciocínio humano: é a lógica da cruz! “Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me”. Não pode haver amor verdadeiro sem renúncia de si próprio: é a lógica do amor! Por isso, é necessário que nos ponhamos a caminho, seguindo Jesus, e não estando à frente Dele. A expressão de Jesus, “Vai-te daqui”, com a qual repreende Pedro pode traduzir-se assim: “Põe-te atrás de mim”, ou seja, “Segue-me”. Agir de forma diferente é um sério obstáculo para entrar no mistério da vida de Cristo, para o louvar com os lábios e o contemplar no seu santuário, vendo o seu poder e a sua glória (cf. Salmo).

Seguindo Jesus, renunciando a nós próprios e pegando na cruz, seremos transformados “pela renovação espiritual da nossa mente”. Na segunda leitura, S. Paulo diz-nos: “Não vos conformeis com este mundo”. Este mundo e tudo o que é humano terão o seu fim. “Transformai-vos”, olhando as coisas de outra maneira, com o olhar de Deus, para discernir, “segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito”.

Amar é dar-se. Se tal não acontecer, é um amor egoísta e superficial. Será amor? Recordemos como Deus nos ama! Não esqueçamos como devemos seguir Jesus: oferecendo a nossa vida, perdendo-a para a ganhar, renovando-a e transformando-a, segundo a vontade de Deus. Assim, seremos verdadeiros adoradores do Pai, praticando a caridade de Cristo.