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HOMILIA DO 23º DOMINGO COMUM (ANO A)

Na actual sociedade, reina o individualismo. Apesar de haver ainda algumas pessoas a fazer voluntariado, outras não querem assumir qualquer compromisso em todas as áreas: na política, nas associações, nas instituições sociais, etc. E isto também acontece dentro da Igreja. Muitos pensam assim: “Basta ir à missa ao domingo! Não me peçam mais nada, não tenho tempo para ser catequista, leitor, cantor, visitador de doentes… já dei muito à Igreja quando era novo!”. Os textos bíblicos deste domingo não aprovam esta maneira de viver. O conceito de pertença a um povo, a uma comunidade, é essencial. A pessoa não é um ser solitário ou reduzido à sua família e aos seus amigos. A pessoa sente necessidade de relação com os outros e não de se isolar. O texto evangélico apresenta-nos dois aspectos importantes para a vida cristã: a comunidade dos irmãos que se reúnem e a presença de Deus na assembleia reunida.

A Igreja não é uma comunidade de “santos” mas de “pecadores”. A clareza das palavras de Jesus expressa que os cristãos não são melhores que os outros. A Igreja é composta por homens e mulheres frágeis, como acontece também nas outras instituições sociais. Jesus não sonha uma Igreja sem problemas nem defeitos. Por isso, é importante escutar as palavras do Mestre para encontrarmos a resposta a todas as dificuldades que irão surgindo no decorrer da vida. Assim, como é importante saber fazer a correcção fraterna entre os irmãos! Sendo bem feita, gerará comunhão. “Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós”. Tem de existir a fraternidade entre os irmãos que se reúnem para celebrar a Eucaristia. Reconhecer a nossa debilidade, não é um sentimento depressivo e angustiante. É a condição necessária para sentirmos o amor de Jesus. Não nos julguemos uns aos outros, mas acolhamo-nos a partir do perdão e da misericórdia divinas.

Jesus ressuscitado torna-se presente na assembleia reunida e convocada em seu nome. Ele está presente nos sacramentos, na Palavra e também na comunidade orante (SC 7). Ao domingo, não nos reunimos somente num contexto moral e social, mas é a fé que nos reúne. É a fé em Jesus Cristo que nos permite acreditar que é possível ultrapassar todos os conflitos e divisões, porque somos “o seu povo, as ovelhas do seu rebanho” (salmo). Quando nos reunimos para rezar em comunidade, e a celebração eucarística é o cume de toda a oração, Deus Pai concede-nos tudo o que lhe pedirmos. Por isso, a oração comunitária é sempre eficaz.

A eficácia da nossa oração em comunidade não depende das nossas capacidades, mas da acção do Espírito Santo na nossa vida. A força da oração não está na súplica a Deus para que atenda às nossas necessidades e às dos outros, mas na comunhão dos corações daqueles que, reunindo-se em seu nome, erguem a sua súplica e louvor a Deus. Assim, a oração é uma reposta de fé a Jesus. E esta força da oração leva-nos a amar. “Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros… A caridade não faz mal ao próximo… A caridade é o pleno cumprimento da lei”, afirma S. Paulo na segunda leitura, na carta aos Romanos.

Mas, por vezes, amar significa corrigir. Se alguém se afastou da relação com Deus e dos mandamentos, é nossa missão ajudar a reorientar a sua vida. Amar é anunciar a Boa Nova, é evangelizar, ou seja, tornar presente neste mundo a Palavra de Deus: “Quando ouvires a palavra da minha boca, deves avisá-los da minha parte”, diz Deus a Ezequiel na primeira leitura.

A Igreja é missionária. A missão é anunciar o Evangelho. Se calarmos a nossa voz neste mundo, é a voz de Deus que se deixa de ouvir. A nossa missão é propor a fé. Propor! Não impor! A primeira leitura e o evangelho ensinam-nos como fazer: afirmar com convicção o que acreditamos e corrigir com delicadeza. Esta é a nossa missão: anunciar! Não é convencer. A aceitação do que anunciamos surgirá através da coerência da nossa vida com o que pregamos e pela liberdade do outro em querer mudar a vida. Há que respeitar a liberdade do outro para que Deus toque o coração daquele que está errado para voltar ao recto caminho. Só Deus pode fazer isto. Só assim teremos ganho o nosso irmão. Se tal não acontecer, teremos a consciência tranquila de que fizemos o que deveria ter sido feito.