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HOMILIA DO 28º DOMINGO COMUM (ANO A)

No texto do evangelho deste domingo, Jesus, “dirigiu-se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo” e não às multidões. Jesus procura a conversão das autoridades do seu tempo. Como em todas as parábolas, Jesus anuncia a salvação de Deus. Este é o ponto de partida, o centro da parábola, o que dá sentido a todos os elementos simbólicos do texto. Nesta parábola, Jesus fala de um banquete de casamento; com esta imagem lança um convite renovado à Aliança (1ª leitura), mas todas as iniciativas da história da salvação não são recebidas da mesma forma. A parábola deste domingo descreve-nos as diversas respostas e atitudes dadas a Deus durante a história da humanidade.

As autoridades de Israel estão convencidas de que são fiéis às suas crenças e que são perfeitos nas suas práticas religiosas. Por isso, Deus tem de estar contente com eles, mais ainda, tem de lhes agradecer, porque cumprem legalmente a Aliança. Tudo o resto era secundário, não era tão importante. Todavia, esse “tudo o resto” tem o seu valor, ou seja, Deus propõe uma relação pessoal de amizade com todos. Isto não lhes interessa, não lhes toca o coração. Aquilo que somente tem valor são os seus interesses pessoais. Não entendem um Deus que ama gratuitamente. Para os príncipes dos sacerdotes e para os anciãos do povo, o mais importante é cumprir as exigências legais; um Deus generoso e que ama, passa para segundo plano. Assim, rejeitam o convite para o banquete.

Ao povo de Israel, o povo escolhido por Deus, foi-lhe dada a missão de anunciar o amor de Deus que é universal e gratuito. Mas com o seu exclusivismo e desprezo, tal não aconteceu. Então, Deus, o pai da parábola, teve de mudar de estratégia, “porque o banquete já estava preparado”. Ou seja, a Aliança é irreversível. Agora, o que fará? Dirige-se aos pobres, aos abandonados, maus e bons, aos que estão nas “periferias”. É nas “encruzilhadas dos caminhos” que se encontram aqueles que irão assegurar o cumprimento da Aliança. O projecto de Deus avança por caminhos imprevisíveis e surpreendentes.

Todos são convidados para o banquete. Por isso, “os maus e os bons” podem estar presentes na boda. Para entrar no banquete nupcial, não há requisitos, nem intelectuais nem morais, ou seja, não é preciso apresentar currículo! As portas abrem-se a todos, venham donde vierem, estejam como estiverem. À porta, é dado o traje adequado para entrar na boda: Deus quer todos sentados à sua volta e não podem estar de qualquer maneira. Ao convite de Deus, responde-se com a veste da fé. Aquele que não levou vestido o traje nupcial faltou a este princípio fundamental: não compreendeu a “amizade” que lhe é oferecida. Com a sua atitude, coloca-se no grupo daqueles que não aceitaram o convite e apresentaram desculpas para não comparecer à festa.

Assim, vemos qual é a intenção da parábola. Aquilo que nos salva não é a procedência, o “status” social ou pessoal (padres, políticos, famosos na sociedade, pobres, pecadores, maltratados pela vida) mas o acolhimento que damos ao dom de Deus.

Esta é uma parábola da Eucaristia. As portas do banquete eucarístico abrem-se a todos. Não nos pedem qualquer cartão de identidade, ou seja, se somos católicos praticantes ou não, se estamos comprometidos com a Igreja ou não. O traje nupcial simboliza a mudança de vida, necessária para aceitar o convite do Senhor a participar do banquete. É necessário revestir-nos de Cristo, conservar a veste branca recebida no baptismo, ou seja, orientar-se para Ele na conversão contínua. Deste banquete sairemos sempre confortados por Deus e com forças para confortar os nossos irmãos. A Eucaristia é o melhor alimento que o Senhor nos pode dar.

Cónego Jorge Seixas