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HOMILIA DA SOLENIDADE DE CRISTO-REI

No último domingo do ano litúrgico, celebramos a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. É Ele que abre e fecha os tempos; Ele é o primeiro e o último, o alfa e o ómega, o princípio e o fim. Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem, hoje e sempre, Ele é o primeiro ressuscitado de entre os mortos, como nos diz a segunda leitura. Com estas e outras expressões tiradas de diversos livros do Novo Testamento, a Igreja proclama e afirma a centralidade e a grandeza de Jesus Cristo. Em seu nome começamos, com Ele continuamos e Nele acabamos toda a vida cristã, pessoal e comunitária.

Na primeira leitura, a profecia de Ezequiel fala-nos de um Rei Pastor que se dedica totalmente a apascentar o seu povo, o seu rebanho. A maior parte daqueles que foram enviados ao povo de Israel (reis, sacerdotes e profetas) não estiveram à altura da sua missão, deixando as ovelhas perdidas e tresmalhadas. Jesus Cristo é um Rei Messias que se dedica e se entrega pelo seu rebanho. Estava consciente de “ter sido enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Não olhou a esforços, sacrifícios e riscos. Ele é um Rei próximo, que vai ao encontro do seu povo; um primeiro que se faz último, um grande que se faz pequeno!

Jesus Cristo veio ao mundo para julgar, para fazer um juízo. Com as palavras do evangelho, Jesus indica-nos como entende a sua missão de rei pastor. O cuidado personalizado das ovelhas termina num acto supremo: o juízo de cada uma! De que juízo se trata? O texto do evangelho deste domingo, conhecido como o “juízo final”, dá-nos os pormenores deste juízo que supõe serviço. 1) É um serviço à verdade, colocando as coisas no seu sítio, através do discernimento, desmascarando a falsidade e a impostura. O rei juiz vai à nossa frente na prática do bem. Dá-nos o seu exemplo para que todos conheçamos as regras do jogo. 2) É um serviço à bondade. O rei juiz apresenta o que se deve praticar, segundo a vontade de Deus: as obras de misericórdia e de caridade para com o próximo. Na presença de um necessitado, cada um se julga e se avalia. Não é um Rei que absolve ou condena desde fora ou do alto do seu pedestal. É um Rei que convida a praticar o bem, identificando-se ele mesmo com o que tem fome, com o que tem sede, com o peregrino, com o que está nu, doente ou preso. Este juiz identifica-se com as vítimas da sociedade. Por isso, quem ama o seu irmão nada tem a temer: o rei será para ele um juiz-defensor. 3) É um serviço à vida. “Em Cristo todos serão restituídos à vida”, como afirma S. Paulo, na segunda leitura. Adão representa o pecado e a morte. Este rei-juiz vem destruir a morte e ajudar cada homem e cada mulher a assumir as suas fragilidades e a renovar a sua vida. Por isso, dizemos com o salmo 22: “a tua bondade e graça hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre”. Deus quer reinar sobre uma humanidade reconciliada e não sobre um campo de ruínas, fruto de uma derrota pesada e atroz.

Jesus reina a partir da cruz. A cruz é o seu trono de glória. Aqueles que aceitam o escândalo da cruz são separados para serem exemplo de misericórdia, dando de comer a quem tem fome, vestindo aquele que está nu e visitando o doente e o que está preso. São separados dos indiferentes e dos que estão convencidos de que não precisam de nada nem de ninguém. São separados para servirem os “irmãos mais pequeninos”, aqueles onde Jesus reina, porque a caridade não tem limites. Quem ama os irmãos, ama Jesus. Quem se recusa a amar, ficará na eterna solidão e não participará do Reino dos Céus.

Amando os nossos irmãos, aclamaremos Cristo como Rei e Senhor e anunciaremos o seu reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz, até que um dia Deus seja tudo em todos.

Cónego Jorge Seixas