Versão para impressão

HOMILIA DO 3º DOMINGO COMUM (ANO B)

A primeira leitura deste domingo, do livro de Jonas, é uma página clássica da Bíblia. Jonas é enviado, por Deus, à grande cidade de Nínive, com esta mensagem: “Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída”. Um pouco contrariado, Jonas entrou na cidade e caminhou durante um dia a pregar essa mensagem, mas estava convencido que os habitantes daquela cidade já estavam condenados. Porém, eles acreditaram em Deus e converteram-se do seu mau caminho. Quando Deus viu as suas obras, compadeceu-se e acolheu-os. Este texto é já um anúncio profético da universalidade da salvação que culminará em Jesus, pregando uma mensagem de esperança e de salvação e não de condenação. A Boa Nova do Evangelho e a construção do Reino de Deus começa a tornar-se presente com a destruição de tudo o que oprime a humanidade e não com a destruição da humanidade: o mal, a morte, a injustiça, o egoísmo… como escutaremos nos próximos domingos.

A perícopa evangélica deste domingo situa Jesus na Galileia. Não foi a uma grande capital importante a nível religioso, económico ou cultural para iniciar a sua missão, mas a uma periferia: a Galileia dos gentios. É ali que chama os primeiros discípulos e será neste lugar que aparecerá ressuscitado. Não se apresenta como um profeta de calamidades como Jonas na primeira leitura, apesar de estar a sofrer com a prisão de João, mas pregando a Boa Nova do Reino de Deus.

 

 

 

Este reinado divino centra-se em Jesus, que vai revelando o Reino de seu Pai e tornar presente toda a sua força real de libertação, de perdão, de esperança e de misericórdia. As palavras e os gestos de Jesus são indicadores de uma nova realidade, onde triunfará o bem, a justiça, a paz e a verdade. Aceitar o Reino de Deus na nossa vida supõe uma mudança de mentalidade e de vida, seguindo o Evangelho. Falar do Reino significa falar de um coração novo e de um novo estilo de vida que respondam à vontade de Deus. Por isso, Jesus disse: “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.

Se acreditar no Evangelho é acreditar em Jesus, facilmente se conclui que acreditar no Evangelho é deixar viver Jesus em nós e estarmos sempre comprometidos a torná-lo visível no mundo, ou seja, a ser o Evangelho encarnado aqui e agora. Ao celebrarmos a Eucaristia, apresentamos a oferenda da nossa vida para que a comunhão do Corpo de Cristo nos purifique das nossas faltas e para que continuemos a ser outro Cristo nos lugares onde vivemos.

Os primeiros discípulos não eram pessoas importantes, não pertenciam a famílias ricas e influentes, não eram sacerdotes do Templo de Jerusalém, não eram escribas nem doutores da Lei. Pertenciam ao povo simples e humilde! Por isso, quando Jesus os chamou, “Vinde comigo”, deixaram logo tudo. Foram capazes de deixar as suas seguranças materiais (o trabalho), e os vínculos familiares (pais, esposas). Desde o primeiro momento, Jesus deixa bem claro que precisa deles para continuar a sua missão. Por isso, Jesus disse a Simão e ao seu irmão André: “Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens”. Agora, as redes são a palavra e o testemunho tecidos pela fé em Jesus; já não levarão a barca para o lago, mas a barca da Igreja pela terra dura e difícil dos homens, seguindo Jesus e anunciando o Reino de Deus.

Seguir Jesus é um dom. Mas é necessária a conversão, que consiste em abandonar os nossos caminhos e seguir as rotas de Deus. É o que rezamos no salmo deste domingo: “Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas”. Para seguir Jesus, é necessário abandonar os caminhos da vaidade, do orgulho, da pompa, da ostentação para percorrer humildemente as suas veredas. Foi que fizeram Simão e André, Tiago e João e tantos e tantas que continuam a seguir Jesus e a anunciar o Evangelho. Que o Senhor dirija a nossa vida segundo a sua vontade para que possamos produzir abundantes frutos de boas obras, em nome de Nosso Senhor.

Cónego Jorge Seixas