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1º DOMINGO DA QUARESMA (ANO B)

Como acontece em todo o Ano Litúrgico, os textos evangélicos dos cinco domingos da Quaresma terão sempre como figura central a pessoa de Jesus. Neste domingo e no próximo, refletiremos sobre as tentações e a transfiguração, dois momentos marcantes da vida de Jesus. Nos outros três domingos, ser-nos-ão apresentados outros momentos, salientando Jesus como Messias e Salvador: a expulsão dos comerciantes do Templo; o Filho de Homem não veio para condenar o mundo, mas para o salvar; e a necessidade de morrer, como o grão de trigo, para dar fruto. É importante ter uma visão global das mensagens que estes textos evangélicos nos querem comunicar na sucessão dos domingos da Quaresma deste ano.

 

Na primeira leitura, do livro do Génesis, encontramos a narração da aliança de Deus com Noé, salvo das águas do dilúvio. Segundo as primeiras páginas da Bíblia, Deus criou tudo maravilhosamente, mas a humanidade foi infiel e pecou. Por isso, no início da narração do dilúvio, afirma-se que Deus viu que a maldade era grande sobre a Terra. E quando o ser humano se afasta de Deus, há “dilúvio”, ou seja, há desgraça. Pelo facto de Deus ser bondoso e misericordioso, renova a aliança com a família de Noé e deixa o arco-íris, como sinal desta renovação. O que significa o símbolo do arco-íris? Que Deus é amigo e salvador da humanidade, que o Céu está ligado à Terra e que Deus perdoa sempre e concede-nos novas oportunidades. Na segunda leitura, S. Pedro diz-nos que Cristo morreu para reconciliar a humanidade com Deus. Tal como Deus, no tempo de Noé, salvou os justos de morrer afogados, esperando com paciência, enquanto se construía a arca, assim também Cristo salva-nos através das águas do batismo. Uma é a água que destrói, outra é a água que salva. O batismo faz-nos participar da vida, da morte e da ressurreição de Cristo e abre-nos o caminho para uma vida nova.

Como é tradicional no primeiro domingo da Quaresma, o texto do evangelho fala-nos das tentações que temos no decorrer da nossa vida e que também Jesus fez esta experiência na sua vida. Mas o texto deste ano, que é do evangelista Marcos, não descreve as três tentações clássicas, mas limita-se somente a afirmar que “o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto, onde esteve quarenta dias, e foi tentado por Satanás”. O deserto, como figura bíblica, tem um duplo significado. Por um lado, é o lugar para onde Deus leva o seu povo depois de o libertar da escravidão do Egito e acompanha-o durante quarenta anos. Por outro lado, o deserto é também o lugar onde Deus põe à prova o seu povo que, tantas vezes, lhe foi infiel. Assim, Jesus é levado ao deserto para vencer as tentações que poderiam ser obstáculos para realizar a missão que Deus lhe confiou.

Hoje, como sempre, não é fácil ser cristão comprometido. Todos somos confrontados com muitas tentações e nem sempre somos fiéis. Todos os dias, pedimos a Deus que não nos deixe cair na tentação, mas somos fracos. Hoje, quais são as tentações que podem prejudicar a nossa vida e o nosso testemunho de cristãos? São três: o individualismo, a crise de identidade e o pouco entusiasmo. Hoje, existe um certo complexo de inferioridade que nos leva a relativizar ou a esconder a nossa identidade cristã e as nossas convicções; há uma perda de entusiasmo missionário, um cansaço, uma saturação e, sobretudo, uma falta de alegria evangelizadora. Hoje, como sentimos bem a tentação da insegurança, do desânimo e, por vezes, do desespero! É muito importante aceitar o convite de “fazer deserto” na nossa vida, ou seja, que cada um se encontre com Deus para caminhar com Ele para a terra prometida.

Como vencer as tentações? Não podemos fugir às tentações, temos de saber conviver com elas, ou seja, com as diversas formas de mal que hoje existem. A resposta está na última frase do texto do evangelho deste domingo. “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho”. Faz a experiência de deserto na tua vida: reza, reflete interiormente na vida e na Palavra de Deus, faz silêncio interior, reconcilia-te com Deus e com os irmãos. Assim, iremos encontrar o remédio e as forças para vencer todas as tentações e celebrar dignamente o mistério desta Páscoa, para que possamos um dia passar à Páscoa eterna.