Versão para impressão

HOMILIA DO 2º DOMINGO DA QUARESMA (ANO B)

Na nossa vida, há algumas perguntas que estão sempre presentes: o que acontece depois da morte? Acaba-se tudo, ou há mais alguma coisa? Há vida para além da morte? O que é a vida eterna? O que é a ressurreição dos mortos? No texto do evangelho deste domingo, também os discípulos perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos. Só iriam entender depois da Páscoa e, de início, não foi fácil perceber! Apesar disso, escutaram o Filho amado de Deus e anunciaram a sua Boa Nova.

Na primeira leitura, Deus submete a uma dura prova a fé de Abraão. Pede-lhe o sacrifício do seu único filho, o herdeiro das promessas. E Abraão obedece cegamente. Mas no momento certo, Deus interveio, não permite o sacrifício e faz uma aliança com Abraão: “ já que não me recusaste o teu filho, o teu filho único, abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar”. Isaac livrou-se de ser sacrificado. Mas, na segunda leitura, S. Paulo diz-nos que Deus não poupou o seu próprio Filho. Será que era necessária esta entrega? Será sempre para nós um mistério, porque nunca conseguiremos entender plenamente a santidade de Deus, a sua justiça e o seu amor. Somente temos a certeza que toda a ação de Deus brota do amor e que quer salvar todos. Em certa ocasião da sua vida, Jesus pergunta aos seus discípulos quem dizem as pessoas que Ele é. De seguida, pergunta-lhes: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Pedro, em nome de todos, faz a confissão de fé: “Tu és o Messias”. De seguida, Jesus anuncia a sua paixão. Depois disto, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu a um monte e transfigurou-Se diante deles. Assim, torna-se bem claro que a cruz e a glorificação pertencem à afirmação sobre quem é Jesus: “Este é o meu Filho muito amado: escutai-O!”.

 

Dos textos bíblicos deste domingo, que podemos tirar para a nossa vida? 1) Deus fala-nos. Deus espera que estejamos atentos, que escutemos as suas palavras e as suas propostas. Mas, tantas vezes, não é fácil perceber imediatamente o que Deus nos diz e o que espera de nós. Apesar da sua obediência, Abraão tem dificuldades em entender o desejo de Deus: matar o meu filho! No evangelho, os discípulos ficaram assustados, não sabiam o que dizer, quando viram a transfiguração de Jesus. Tantas vezes isto acontece connosco! Deus fala-nos e não compreendemos, ficamos inseguros e incomodados. 2) Deus põe-nos à prova. Deus submete a fé de Abraão a uma prova incompreensível: matar o seu filho único! Deus exige renúncia. E qualquer renúncia representa uma ferida na própria carne. Mas renunciar é necessário para crescer e amadurecer na vida, e não somente no tempo da Quaresma. 3) Deus livrou Isaac do sacrifício, mas “não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós”. Quem escuta estas palavras está diante do mistério de Deus. Jesus morreu por nós, ressuscitou e está sentado à direita de Deus Pai e intercede por nós. Com este sacrifício, Deus salvou-nos. 4) É este o mistério de Deus que os discípulos confessam e anunciam a todos. Só depois da ressurreição de Jesus, é que entenderam tudo o que viram e ouviram a Jesus. Só agora entendem que Deus veio com poder em Jesus, o Messias, para salvar a humanidade. 5) Para a salvação da humanidade, é importante a experiência da transfiguração que consiste em momentos de intimidade com Deus, de experiência da paz e da serenidade de Deus, de refortalecer as nossas forças e a nossa fé no Senhor. São estas as nossas “transfigurações”, tão importantes para vencer as dificuldades da vida, momentos em que também nos apetece dizer: “Senhor, como é bom estarmos aqui contigo!”.

Jesus revela-nos Deus e o sentido da vida. A vida triunfou com a ressurreição de Jesus, mas, antes, passou por grandes dificuldades. E não é essa a experiência de todos nós? Tantos sacrifícios renúncias para vencer na vida e a tranquilidade só aparece, muitas vezes, depois das tempestades. Por isso, não podemos ficar para sempre no “quentinho de umas tendas”. Como discípulos de Jesus, tenhamos a coragem de descer do monte, descer das nuvens e construir uma sociedade onde reine a paz, a justiça, a fraternidade, a solidariedade e o amor, porque se Deus está por nós, venceremos sempre.