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HOMILIA DO 4º DOMINGO DA PÁSCOA (ANO B)

Todos os anos, no 4º Domingo da Páscoa, o texto do evangelho apresenta-nos Jesus como o Bom Pastor. São muitos os textos dos evangelhos que nos falam do Bom Pastor com um sentido ternurento e misericordioso: ele é o que vai à procura da ovelha perdida, cheio de misericórdia, convive com as ovelhas, conhece-as uma a uma, até pega nelas aos ombros com carinho.

No texto do evangelho deste domingo, aparece um outro aspeto. O Bom Pastor é o que dá a vida pelas suas ovelhas, defende-as, porque ama as suas ovelhas. Não é somente misericordioso, mas também corajoso, enfrenta o ladrão do rebanho e o lobo que deseja matar algumas ovelhas. Dá a vida na defesa das ovelhas.

Quando se constrói uma casa, há sempre a preocupação pela qualidade dos materiais que serão utilizados. Escolhem-se as melhores pedras e rejeitam-se as que não se adaptam à construção. Ora Jesus não encaixava no sistema religioso que Israel estava a construir; por isso, foi crucificado. Jesus não foi rejeitado por praticar más obras, mas pelas suas boas obras. Mas, “a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular”. Na primeira leitura, Pedro responde às perguntas dos chefes do povo e dos anciãos, por causa da cura de um homem. Pedro afirma: “Já que somos interrogados sobre um benefício feito a um enfermo e o modo como ele foi curado, ficai sabendo…é em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença”. Jesus torna-se a pedra angular, porque está a construir uma nova comunidade, o novo Povo de Deus, onde não ninguém é rejeitado. Este novo Povo de Deus é constituído por todos os homens e mulheres que escutam a voz do Bom Pastor.

 

Nós fazemos parte deste novo Povo de Deus, do qual Cristo é o Pastor. Quando nos reunimos, é Jesus Cristo quem preside. O ministério do sacerdote diante de uma comunidade cristã é tornar presente sacramentalmente esta realidade. Mas não se pode pensar que a presidência do sacerdote se resume à liturgia, mas deve ser vivida à maneira do pastor “que dá a vida pelas suas ovelhas”. Quando se proclama a Palavra divina é a Ele que escutamos. Por isso, é muito importante refletir e viver segundo o Evangelho para que Jesus possa continuar a dizer: “as minhas ovelhas reconhecem a minha voz”. A comunidade reúne-se à volta de uma mesa. A mesa da Eucaristia é para partilhar, dar e receber. Da nossa parte, colocamos a nossa vida sobre o altar, com o pão e o vinho; não se trata de oferecer “coisas” que depois iremos buscar, mas de oferecer a própria vida para que seja transformada pelo mesmo Espírito de Deus que transforma o pão e o vinho. Da parte do Bom Pastor, Jesus “dá a sua vida pelas suas ovelhas”. Mas, ainda há outra partilha que acontece na vida fora da missa. Não há dar e receber autênticos na mesa eucarística se não houver dar e receber na vida, sobretudo com os mais necessitados. Na mesa da Eucaristia, Jesus “abre-nos os olhos” para vermos a sua presença no caminho da vida e nos “irmãos mais pequeninos”. Partilhar o pão eucarístico e partilhar o pão de cada dia são inseparáveis. No fim da missa, depois de nos alimentar com o pão da Palavra e com o pão da Eucaristia, Jesus Cristo envia-nos a anunciar a Boa Nova da Salvação e do Amor. Mas Ele vai à nossa frente. Pelo seu Espírito, precede-nos e conduz-nos como Bom Pastor.

Jesus, o Bom Pastor, não tem contrato, não guarda as ovelhas por dinheiro. Ele ama as ovelhas com um amor sem limites, ama de verdade, ama até ao fim. É assim que Ele nos ama. E nós? Há amor entre nós? Damo-nos, entregamo-nos aos outros, à família, aos trabalhos, colaboramos na paróquia? Ou vivemos a “contrato”, ou seja, procuramos não fazer nem mais nem menos do que nos convém? Somos calculistas ou generosos? Amar a “contrato” e a “fazer de contas” não é amar. Amar é entregar, partilhar, unir, encorajar, à maneira e ao jeito de Jesus Cristo, o Bom Pastor.