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HOMILIA DO 15º DOMINGO COMUM (ANO B)

A Palavra de Deus, neste domingo, orienta o nosso pensamento para a missão com o episódio da vida do profeta Amós, na primeira leitura, e com Jesus a enviar os apóstolos dois a dois para pregar, no texto do evangelho. Amós é enviado por Deus a profetizar, mas encontra dificuldades: ele e sua mensagem incomodam. Por isso, pedem-lhe que regresse à sua terra. Mas ele tem consciência de que foi Deus que o enviou, não foi ele que foi por sua própria conta e risco. No texto do evangelho, depois de Jesus ter percorrido todas as povoações a anunciar o Reino de Deus, “chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois”, para anunciar também o Reino de Deus com as suas palavras e obras e curando todos os doentes. Depois de um tempo a viver com o Mestre, chegou agora o momento dos Apóstolos anunciarem a Boa Nova da Salvação. Jesus envia-os em missão. Mais tarde enviará os setenta e dois discípulos e, finalmente, enviará novamente os Apóstolos para pregar a Boa Nova por todo o mundo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura”. A partir deste momento, a Igreja nunca deixou até hoje de anunciar a todos o Reino de Deus.

Na primeira leitura, Deus envia Amós, um leigo, a profetizar. Nos momentos mais difíceis de infidelidade à Aliança e em momentos de injustiça e de crise moral, Deus envia sempre profetas. É Deus que escolhe cada profeta. Como responde Amós ao convite de Deus? A palavra do profeta Amós é corajosa, denunciando as injustiças sociais do seu tempo e a falsidade do culto. Porém, para Amasias, sacerdote de Betel, Amós incomoda e convida-o a ir embora. Mas ele, com humildade, mas com firmeza, defende-se e responde que não está a profetizar para defender interesses pessoais ou económicos, como se fosse um profissional: “Não sou profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros. Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: ‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’”. É Deus que o envia. E ele obedece.

No texto do evangelho, é Jesus que envia os seus Apóstolos a anunciar a Boa Nova da Salvação. É muito importante fixar a forma como Ele os envia e os conselhos que lhes dá, porque são as principais características para uma autêntica evangelização: 1) envia-os dois a dois, ou seja, trabalhar em equipa é melhor que um trabalho pessoal: a evangelização é de toda a comunidade cristã; 2) aqueles que são enviados em missão devem estar livres de preocupações pessoais e materiais. Devem estar sempre acessíveis, independentes e sem ambições pessoais de carreirismo; 3) a fé e a conversão não podem ser impostas, mas propostas; é preciso ter paciência e esperar por melhores momentos; 4) quem é enviado tem de converter a sua vida, mudar a vida à luz de Deus. Só assim a missão dará frutos abundantes.

Ao enviar os seus Apóstolos a pregar, Jesus não lhes promete uma vida fácil cheia de sucessos; terão de passar por muitas dificuldades, perseguições e sofrimentos. Perante esta realidade, não poderão desanimar. Nós não somos os protagonistas, a nossa missão não é colher frutos e mais nada. Por vezes, colheremos frutos, mas a nossa principal missão é semear, regar para outros colherem os frutos da nossa sementeira. Nunca podemos esquecer que o mais importante é anunciar a Boa Nova do Reino que Jesus anunciou, com abertura e simplicidade, com humildade e pobreza. O essencial da nossa vida não é servirmo-nos da Igreja, mas servir a Igreja. Evangelizar é a vocação própria da Igreja, é a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para evangelizar. A missão da Igreja é a “doce e confortadora alegria de evangelizar” (Evangelii nuntiandi, n. 14 e 80).

Cada um de nós é profeta e evangelizador desde o dia do batismo. Não nos deixemos dominar pelo medo do que irão dizer os outros, pela preguiça e comodidade e pela sensação de que ainda não estamos preparados. A missão não é pregar a nossa pessoa e as nossas ideias, mas pregar Jesus Cristo, morto e ressuscitado, porque Ele é o caminho, a verdade e a vida.

Cónego Jorge Seixas