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HOMILIA DO 16º DOMINGO COMUM (ANO B)

No domingo passado, o texto do evangelho dizia-nos que “Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois” para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Neste domingo, o evangelho conta-nos que “os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado”. Jesus, vendo-os cansados, levou-os para um lugar isolado para descansarem um pouco. É muito importante trabalhar no anúncio do Evangelho em nome de Jesus, mas também é importante que tenhamos momentos de intimidade com o Senhor, porque Ele é a fonte e o fim da nossa missão pastoral. Necessitamos de momentos de oração, de revisão de vida, de repouso corporal e espiritual para não cairmos no ativismo. Não serve a desculpa de que estamos a trabalhar para o Senhor, quando deixamos de ter tempo para rezar, atarefados com mil e uma atividades pastorais. Hoje, Jesus levou os Apóstolos para um lugar tranquilo para descansar e estar com Ele. Por isso, a nossa missão de evangelizar tem de estar enraizada em Jesus Cristo, como se dependesse de nós, sabendo, porém, que não depende de nós.

Apesar de Jesus ter levado os Apóstolos para um lugar tranquilo, “havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo para comer”. Jesus “compadeceu-Se de toda aquela gente, que eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas”. É evidente que precisamos de descansar, mas também não podemos de deixar de cuidar das pessoas a nós confiadas, porque também somos pastores.

Por isso, a pergunta deste domingo é esta: como deve ser o pastor? Hoje, as leituras bíblicas falam-nos dos bons e dos maus pastores. Aqueles que têm a responsabilidade de cuidar dos outros na sociedade e na Igreja, devem assumir a sua missão, porque, se tal não acontecer, as pessoas desorientam-se, como ovelhas sem pastor e podem perder-se.

Na primeira leitura, o profeta Jeremias denuncia fortemente os maus pastores e líderes religiosos, porque não se interessavam pelo povo, exploravam as pessoas e elas desorientavam-se. Às vezes, são as pessoas que reclamam dos maus pastores. Desta vez, é o próprio Deus que reclama deles. Mas os profetas nunca denunciaram sem a esperança de um anúncio. O anúncio de Jeremias é a vinda do Bom Pastor, que virá exercer o direito e a justiça e terá compaixão do seu povo. Quem foi este Bom Pastor? O Filho de Deus, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

A missão de pastor não é fácil. Não é fácil apascentar, guiar, cuidar e defender as nossas ovelhas. Umas estão doentes e cansadas. Outras são rebeldes e ariscas. Também há ovelhas envenenadas pelos maus pastores com o veneno dos favores, dos privilégios, de pensar que são superiores aos outros por pertencerem a uma determinada família e da corrupção. Não só as ovelhas podem estar em situação de risco; mas também os pastores, porque estão cansados, deixaram de rezar ou rezam pouco ou andam a ouvir o que não devem ou quem não devem, ou seja, a ouvir uns assobios enganadores. Perante isto, o que fazer? Aquilo que Jesus fez e que nos narra o evangelho deste domingo: ver como está cada ovelha, sentir compaixão, amar cada uma, curar as doentes e alimentá-las com o pão da Palavra. Para os pastores, Jesus recomenda o descanso, ou seja, retiro espiritual para rezar e repor as forças.

Neste domingo, somos convidados a dar conta que, em certo sentido, todos somos pastores. Pastores são os pais para os seus filhos, alimentando-os com carinho, diálogo, conselhos e exemplo. Pastores são os governantes, que governam o povo em representação de Deus. Porém, alguns dos nossos governantes têm consciência disto, quando exploram as pessoas, humilham-nas, procurando só o lucro? Pastores são os professores para os seus alunos, ensinando-os com responsabilidade e dedicação. Pastores são os responsáveis dos movimentos da Igreja, sabendo orientar as pessoas para a comunidade e não fazer grupinhos fechados e fanáticos. Pastores são os sacerdotes ao serviço das suas paróquias, sendo verdadeiros pais para as comunidades. Pastores são os bispos nas suas dioceses. Pastor é o Papa ao serviço da Igreja universal. Aos pastores da Igreja, bispos e padres, pede-se que cuidem das necessidades de tantas ovelhas que estão desorientadas, a perderem-se, feridas e com fome. E também se pede que fujam do desejo de fazer carreira e de ter lucro ao serviço das pessoas a eles confiadas.

Não sejamos obstáculo para os nossos irmãos, não afastemos os nossos irmãos de Deus, não deixemos perder as ovelhas. Que as pessoas se aproximem de Deus e não de nós. Caminhemos todos juntos, orientados pelo cajado do nosso pastor e Salvador, Jesus Cristo, o Bom Pastor.

Cónego Jorge Seixas