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HOMILIA DO 17º DOMINGO COMUM (ANO B)

Durante cinco domingos seguidos, leremos e refletiremos o capítulo 6 do evangelho de S. João, onde é narrado o discurso-catequese de Jesus sobre o Pão da vida. Podemos resumir as ideias que iremos refletir nestes próximos cinco domingos: a narração do milagre da multiplicação dos pães (17º Domingo), o maná do deserto (18º Domingo), o que significa crer em Jesus (19º Domingo), o que significa comer Jesus (20º Domingo) e, finalmente, a reação das pessoas, sobretudo dos discípulos, perante o discurso do Pão da vida (21º Domingo).

A vida cristã tem o seu centro na Eucaristia. Sem a Eucaristia não podemos viver. A Eucaristia compromete-nos a partilhar os nossos pães com os irmãos. Por isso, a frase de Jesus que marca este domingo é esta: “Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?”, ou seja, “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Em primeiro lugar, quem se alimenta da Eucaristia é convidado a dar pão ao povo, como aconteceu no tempo de Eliseu, como nos diz a primeira leitura do Segundo Livro dos Reis. Um homem trouxe a Eliseu vinte pães de cevada e de trigo novo, feitos com os primeiros frutos da colheita. Eliseu disse-lhe: “Dá-os a comer a essa gente”. E o homem respondeu: “Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?”. Mas, perante a ordem de Eliseu, ele distribuiu os pães pelas pessoas. Todos comeram e ainda sobrou. Em segundo lugar, quem se alimenta da Eucaristia tem dar pão ao povo, mas como se dá? A resposta encontra-se na 2ª leitura da Carta de S. Paulo aos Efésios: “procedendo com toda a humildade, mansidão e paciência; suportando-nos uns aos outros com caridade; empenhando-nos em manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz”.

Neste domingo, o texto do evangelho narra-nos o milagre da multiplicação dos pães. Hoje, Jesus dá-nos um exemplo maravilhoso: vê uma grande multidão que vinha ao seu encontro, sente compaixão por ela, porque sabe que todos estão cheios de fome. Então, com o farnel de um rapazito, cinco pães de cevada e dois peixes, depois de pronunciar a oração de bênção, matou a fome àquela gente e ainda recolheram doze cestos do que sobrou. A fome da multidão simbolizava outras necessidades, ou seja, tinham necessidade de Deus, da sua Palavra e do seu amor. Agora, Cristo quer também a nossa colaboração; por isso, diz-nos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Este é o nosso grande desafio, que supõe fé, confiança e generosidade da nossa parte para partilhar o muito ou o pouco que tivermos.

Desde o início, a Igreja seguiu sempre o exemplo de Jesus, obedecendo ao seu mandato: “Dai-lhes vós mesmo de comer”. A Igreja sempre repartiu generosamente o pão da compaixão e da ternura com os doentes, os idosos, os órfãos e as viúvas. Soube sempre relacionar a evangelização com a beneficência e o cuidado dos mais pobres. No decorrer da História, tantos cristãos comprometidos, missionários, voluntários, religiosos e religiosas que trabalharam e trabalham na área social e na educação, “partilhando o seu pão” com os que o não têm, numa doação não só de bens materiais, mas também de si mesmos, do seu tempo, do seu trabalho. Partilham o pão do acolhimento, da ternura e da proximidade.

O mandato de Jesus “Dai-lhes vós mesmo de comer” supõe partilhar o pão com os outros. Mas, também simboliza os outros “pães” para matar as fomes da sociedade de hoje: a fome de um trabalho digno e estável, a fome de uma casa para os que estão na rua a dormir debaixo das pontes ou nos cantos das ruas, a fome de oportunidades na vida especialmente aqueles que têm de emigrar, abandonando a sua terra em busca de um futuro melhor.

Jesus Cristo não só dá de comer aos que têm fome ou cura os doentes e ressuscita os mortos; mas também prega o Reino de Deus, perdoa os pecados, conduz-nos a Deus. Não quer que fiquemos somente no milagre material, mas que haja um compromisso de generosidade e de partilha, vivendo e professando a fé.

Tenhamos a coragem de partilhar o nosso “farnel” da vida com os outros. Não fiquemos sozinhos no nosso cantinho a comer os nossos “pães de cevada e o peixe”. A nossa sociedade seria diferente se partilhássemos o pouco ou o muito que temos. Que o Senhor limpe os nossos olhos para ver as necessidades dos outros. Que o Senhor nos ilumine para saber partilhar e repartir o nosso pão com os mais necessitados. Assim, também faremos parte do grupo dos homens e mulheres que na história imitaram Jesus Cristo, o Pão da Vida, o Profeta que estava para vir ao mundo.