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HOMILIA DO 21º DOMINGO COMUM (ANO B)

Neste domingo, terminamos a nossa reflexão do capítulo seis do evangelho de S. João, sobre o pão da vida, ou seja, do discurso eucarístico de Jesus. O texto evangélico narra-nos as reações de algumas pessoas ao ouviram as palavras de Jesus: “Eu sou o pão vivo descido do Céu; Eu sou o pão da vida; quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em Mim e Eu nele e viverá eternamente”. Muitos discípulos, ao ouvirem isto, disseram: “Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?”. Uma situação idêntica encontramos, na primeira leitura, quando Josué, antes de entrar na terra prometida, reuniu todas as tribos de Israel e disse: “escolhei hoje a quem quereis servir: o Senhor ou os deuses falsos?”.

Na primeira leitura, é evidente que é necessário fazer uma opção: escolher quem? O Senhor, Deus Único e Verdadeiro, ou os deuses estrangeiros? Os deuses estrangeiros exigem menos, são mais cómodos, nada proíbem, não dão princípios para vida como “honrar pai e mãe, não matar, não roubar, não cometer adultério, não levantar falsos testemunhos, não cobiçar as coisas alheias”. A Lei de Deus, dada ao Povo no Sinai, é mais exigente do que as normas superficiais dos deuses dos povos vizinhos. Josué, sucessor de Moisés, convocou todos para uma assembleia solene para renovar a Aliança do Sinai, já um pouco esquecida. E coloca-os perante um dilema: quem quereis servir: o Senhor Deus que os libertou da escravidão do Egito ou os deuses que irão encontrar nos povos vizinhos e que são mais tolerantes? Josué tomou esta iniciativa, porque alguns membros do Povo de Israel já estavam a prestar culto aos deuses daquela região e dos povos que ali habitavam. Mas o povo respondeu: “Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses; porque o Senhor é o nosso Deus que nos fez sair da casa da escravidão do Egito e diante dos nossos olhos realizou tantos prodígios”. Bem sabemos que, no decorrer da história, o povo de Israel faltou muitas vezes ao que tinha prometido.

No texto evangélico, é o próprio Cristo que pergunta aos que o seguiam: “Também vós quereis ir embora?”, ou seja, quereis ficar comigo ou ir embora? De novo, é necessário fazer uma opção. Aquilo que Jesus pedia aos seus discípulos não era fácil, porque supunha uma mudança de mentalidade e de vida. Jesus vê que alguns dos seus discípulos vão embora, assustados e escandalizados com as suas palavras. Por isso, faz a pergunta direta aos seus apóstolos. Alguns foram embora e outros permaneceram. Mas Pedro, que também não entendeu tudo o que Jesus disse, mas que tem fé e um amor enorme por Jesus, responde, afirmando: “Para quem iremos, Senhor?”. Os Doze escolheram ficar com Jesus para toda a vida e para a morte. É com eles que Jesus formará a Igreja.

Hoje, Jesus faz a mesma pergunta. Compete a cada um de nós responder: quem vamos seguir: Ele e a sua doutrina ou o mundo com as suas propostas fáceis, tentadoras e embriagadoras? Como o Povo de Israel e como os primeiros discípulos de Jesus, também nós fomos escolhidos. Nós somos amados por Deus, fomos admitidos na família de Deus com o nosso batismo, admitidos à sua mesa na Eucaristia e admitidos à “feliz esperança” da vinda do seu Reino. Da nossa parte, também já escolhemos a Deus. Um dia fomos batizados, crismados, fizemos a nossa primeira comunhão e alguns celebraram o sacramento do matrimónio. Todavia, a nossa vida é inconstante entre os dois polos de atração que são Deus e o mundo com os seus ídolos. Servimos a dois senhores, o que não é agradável a Deus. Ou Ele ou o mundo. Deus é ciumento! Tantas vezes tentamos fugir da cruz! Quantos passam de um momento de oração rapidamente para um momento de infidelidade e de pecado! Saem da Igreja e correm logo para lugares de perdição, ou a difamar e a falar da vida alheia, ou a ser escravos da ganância e do poder, abusando, explorando e destruindo os mais indefesos! É preciso fazer uma opção: ou Cristo ou o mundo, ou o Evangelho de Cristo ou as sereias do mundo.

Ao refletir na palavra divina deste domingo, cada um tenha a coragem de deixar o homem velho e revestir-se do homem novo que vive à luz do Espírito Santo. Cada um tenha a coragem de escolher Cristo e o seu Evangelho e abandonar as doutrinas incertas e estranhas da sociedade. Como Pedro, tenhamos a coragem de dizer: “Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus”.