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HOMILIA DO 22º DOMINGO COMUM (ANO B)

Eis a questão: somos religiosos, homens e mulheres de fé, ou ritualistas? A nossa relação com Deus não consiste em coisas e gestos exteriores, como acreditavam os fariseus, os quais Cristo trata com tanta dureza no texto do evangelho. Através de práticas exteriores, os fariseus esqueceram-se da fidelidade ao Senhor e ficaram pelo ritualismo, ou seja, pelo cumprimento de ações e tradições.

A verdadeira religião não é só dos lábios para fora. Jesus recorda a afirmação do profeta Isaías: “Este povo honra-Me com lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos”. Muitas vezes, substituímos a verdadeira religião por ritos, costumes, piedades e tradições: vamos à missa, batizamos as nossas crianças, fazemos a festa da primeira comunhão dos filhos, casamos pela Igreja, pedimos um funeral cristão para os nossos familiares e ficamos por aqui. Somente isto não basta. Cristo não desprezou as normas de vida dos judeus. Ele disse que não tinha vindo para abolir a lei, mas para dar cumprimento e levá-la à perfeição. Jesus pede-nos que não nos conformemos com a aparência exterior. Ele condena o legalismo formalista, sem alma, sem sensibilidade, sem caridade, que escraviza mais do que liberta.

O mais importante é a fé em Jesus, morto e ressuscitado, glorificado pelo Pai. A fé é a atitude transcendental do coração do homem, para quem Jesus é tudo, como a sua escala de valores e princípios e as suas esperanças eternas. A atitude transcendental é a obediência a Deus, ou seja, seguir os princípios de uma reta consciência e bem formada e o serviço desinteressado ao próximo. Assim, a fé é a atitude transcendental do coração como estilo de vida: sem esta fé, não faremos uma experiência de encontro com Deus na celebração dos sacramentos e de alguns exercícios de piedade. Resumindo, é vontade de Deus que cada um de nós seja homem e mulher que acredita e não somente que pratica. É necessário colocar alma, espírito, coração e vida na celebração e na vivência da nossa fé.

Alguns exemplos para pensar: algumas festas de primeira comunhão são tão faustosas, sendo um escândalo económico, social e religioso; algumas celebrações de matrimónio são tão “sem sabor”; algumas procissões e peregrinações parecem mais uma feira. Será isto agradável a Deus? Perante estas situações, o que diria Jesus? Agora entendemos o facto de Jesus ter sido tão duro com os fariseus ritualistas que se preocupavam somente com as práticas exteriores e esqueciam-se da fé em Deus. Por isso, Jesus, entre o homem e o sábado, preferiu o homem.

É de fixar as palavras de Jesus: “não há nada fora do homem que o torna impuro; porque do interior do homem é que saem as más intenções: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem do interior do homem e são eles que o tornam impuro”.

É importante refletir: como sou eu? Religioso ou ritualista? Crente ou só cumpridor? Cumpro a vontade de Deus e estou ao serviço do próximo? Fujamos do farisaísmo e do ritualismo sem fé e sem alma. Foram os “praticantes” que levaram Cristo à cruz e o crucificaram.

A principal regra moral do cristão é discernir o que lhe diz a sua consciência e, em seguida, agir em conformidade, ser coerente, traduzir em atos o que lhe vai na alma e no coração.