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NÃO SEPARE O HOMEM O QUE DEUS UNIU

O relato evangélico deste domingo diz-nos que “aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova sobre o tema do divórcio. Perguntaram-lhe: “Pode um homem repudiar a sua mulher?”. A resposta de Jesus é surpreendente: “Não separe o homem o que Deus uniu”. É impressionante como Jesus fala com clareza sobre o matrimónio e o divórcio, com palavras tão atuais para os nossos dias e logo neste domingo que, em Roma, se inicia o Sínodo sobre a família. Invoquemos o Espírito Santo para que ilumine o pensamento e os corações dos nossos pastores, dos bispos de todo o mundo para que, juntamente com o Papa, sejam capazes de dar resposta aos novos desafios que hoje se colocam às famílias cristãs e à nossa sociedade.

Voltando ao texto do evangelho deste domingo, nesta viagem que Jesus faz para Jerusalém, é confrontado pelos fariseus com uma pergunta cheia de maldade, porque eles já sabiam o que Jesus pensava sobre a fidelidade matrimonial. Na resposta que Jesus dá, só entende o divórcio por causa da mentalidade e do coração endurecido dos fariseus, e como um preceito que Moisés dá perante a teimosia do povo de Israel. Convém não esquecer que a lei do divórcio estava, muitas vezes, a favor do marido deixando a mulher abandonada e humilhada. Por isso, Jesus deixou bem claro que esta lei, defendida pelos fariseus, é uma exceção: “Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou esta lei”. Jesus fundamenta bem a sua resposta. Vai até ao início do projeto de Deus, que nos foi narrado na primeira leitura do Génesis: o homem e a mulher foram criados à imagem e à semelhança de Deus. Há uma relação íntima e muito intensa entre o homem e a mulher. Por causa desta relação, Jesus afirmou: “Por isso o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne”. A lei que Jesus Cristo traz é a Lei do Amor. Assim, o casamento, como sacramento, será a mais plena expressão de amor na doação mútua, na fidelidade, na entrega, no serviço, ou seja, no amor. Desta forma, o casamento é imagem do amor que Deus tem por cada um de nós.

É curioso verificar que os discípulos estavam muito interessados neste tema. Em casa, os discípulos interrogaram Jesus de novo sobre a família e o divórcio. E Jesus surpreendeu-os ao insistir na unidade do casamento a partir da fidelidade do casal. É este o projeto de Deus pensado no sacramento do matrimónio.

Bem sabemos dos problemas e do sofrimento que atravessam muitos casais no seu relacionamento! Muitos são abandonados injustamente pelo outro, são humilhados pelo outro! Apesar disto, como comunidade cristã e como Igreja não podemos deixar perder este ideal da fidelidade e da comunhão matrimonial; é um grande tesouro que temos de defender, mas sem esquecer nem ficar indiferentes a cada uma das realidades que acontecem e que fazem sofrer alguns filhos de Deus. Há situações tão difíceis que só Deus é capaz de julgar!

Finalmente, não podemos ficar indiferentes às palavras de Jesus, com as quais termina o texto do evangelho deste domingo: “Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis”. Falava assim, porque os discípulos afastavam as crianças para não incomodarem o Mestre. Realmente, as crianças são a riqueza da família, são um dom de Deus na vida de um casal. Porém, tantas vezes, são as crianças que mais sofrem as consequências dos divórcios e das separações dos pais!

Por isso, rezemos pelas famílias, ajudemos as famílias, rezemos e ajudemos aqueles que vivem o drama do divórcio e da separação. Como cristãos, saibamos estar ao lado dos que mais sofrem nestes momentos das suas vidas. Não nos cansemos de recordar que o projeto de Deus começa no Amor. É com um coração pobre, simples e transparente, como as crianças, que se ganha o reino dos Céus.