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HOMILIA DO 32º DOMINGO COMUM (ANO B)

Estamos a chegar ao final de mais um ano litúrgico que encerrará com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Por isso, a Palavra de Deus convida-nos a aprofundar a nossa reflexão sobre o que é essencial e importante na nossa vida cristã. Neste domingo, destaca-se um aspeto importante da nossa vida: a generosidade. Ela é a forma mais pura pela qual se mostra a ternura e o amor de Deus e da própria pessoa. Pela Palavra proclamada, damos conta que Deus não dá importância às aparências, mas ao coração das pessoas. Muitas vezes, nós ficamos deslumbrados e maravilhados com as aparências, mas Deus é diferente. Tantas vezes ficamos a olhar somente para o dinheiro, para as riquezas, para as roupas, para as propriedades e para as coisas dos outros! Neste domingo, os textos bíblicos revelam-nos que Deus não se conforma somente com quantidades, mas que espera de nós qualidade. As palavras de Jesus perante o gesto da viúva, de certa maneira, incomodam-nos, porque nos fazem refletir naquilo que é importante e essencial aos olhos de Deus e na nossa vida.

Deus manda-nos amar o próximo. E este mandato concretiza-se com as nossas ações. Hoje, a Palavra de Deus diz-nos onde se encontra a verdadeira riqueza aos olhos de Deus, apresentando-nos duas mulheres maravilhosas. A primeira é aquela viúva que Elias encontra em Sarepta. Era uma pobre viúva que estava a apanhar lenha. Elias pede-lhe um pedaço de pão. E a viúva responde: “Não tenho pão cozido, mas somente um punhado de farinha na panela e um pouco de azeite na almotolia. Vim apanhar dois cavacos de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho. Depois comeremos e esperaremos a morte”. Todavia, esta viúva “foi e fez como Elias lhe mandara; e comeram ele, ela e seu filho”. Ela deu tudo o que tinha para viver, porque confiou nas palavras do profeta. A sua fé foi posta à prova, dando tudo, sem limites nem cálculos. Por isso, Deus recompensou-a com abundância: “Não se esgotará a panela da farinha, nem se esvaziará a almotolia do azeite, até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra”.

Hoje, fala-se muito em partilhar os bens, em ser solidários. Todavia, damos conta que, no meio de tantas pessoas necessitadas e quase na miséria, ainda há homens e mulheres que nadam na abundância, que têm reformas milionárias e escandalosas, enquanto a maioria tem, ou não, o mínimo para viver. Mas na hora verdade, quem são os generosos? Aqueles que já pouco têm, enquanto os ricos fazem de conta que não vêm nada, que não é nada com eles, que não sabem de nada. E alguns só ajudam para se mostrarem aos outros. Isto é egoísmo, não é generosidade. Por isso, Jesus é muito claro no evangelho: “Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas com o pretexto de fazerem longas rezas. Estes receberão uma sentença mais severa”. Jesus condena duramente a hipocrisia, pretender conseguir o afeto e o respeito através das aparências. A hipocrisia é a negação da verdade sobre nós próprios, sobre o nosso próprio coração. Por isso, Jesus chamou os discípulos para elogiar o gesto daquela viúva que na sua pobreza dá tudo o tinha para viver. Esta é a segunda mulher apresentada pelas leituras deste domingo. Ela é desprezada por todos, mas Jesus lança-lhe um olhar de ternura. Aquela mulher tinha todo o direito de pedir e foi capaz de dar, por amor, tudo o que tinha. Aos olhos de Jesus, as duas pequenas moedas da viúva têm mais valor do que os donativos dos ricos que ainda ficavam com muito para orientar as suas vidas. A esmola daquela viúva foi o sinal da entrega sua pessoa.

Agradeçamos àquelas pessoas que dão do seu tempo, das suas capacidades, dos seus bens ao serviço de Deus, da Igreja e dos irmãos. Sejamos generosos a tempo inteiro e não apenas quando nos convém ou é mais fácil. Olhemos mais para as pessoas do que para os números: percentagens do desemprego, taxas de impostos, aumento de pontos no défice, dados da balança comercial ou das exportações. Por detrás dos números, há pessoas clamam por dignidade, por ajuda e por amor.