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HOMILIA DO 5º DOMINGO DA PÁSCOA (ANO C)

A ressurreição de Jesus gera um projeto novo para a humanidade. Os apóstolos sentem-se com forças para ir pregar a Boa Nova. A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos diz-nos que a Igreja nascente, ou seja os primeiros cristãos, é uma Igreja que caminha, as comunidades surgem e crescem por todo o lado. Os primeiros cristãos ajudavam-se uns aos outros, estavam unidos na fé, quando enfrentavam perseguições e sofrimentos. Escutando as palavras que relatam a realidade do início apaixonante da Igreja, ficamos a pensar no seguinte: hoje, somos assim? As nossas comunidades cristãs são assim? Estamos entusiasmados e apaixonados para a missão de anunciar o Evangelho à nossa volta e em todo o lado? Podemos ter a tentação de pensar que para os primeiros cristãos tudo seria mais fácil. Mas não podemos esquecer que eles eram perseguidos e que tinham de acreditar fortemente que Deus “enxugará todas as lágrimas dos seus olhos”; com Deus “nunca mais haverá morte nem luto, nem gemidos nem dor”.

Agora, depois da ressurreição de Jesus, aquilo que antes os discípulos consideravam impossível de fazer, sentem que podem conseguir. E não é uma questão de capacidades mas de convicção interior, porque Jesus vai à sua frente. Agora, há a esperança no coração dos discípulos de um futuro melhor. Esta esperança é descrita poeticamente na segunda leitura do Apocalipse, afirmando: “Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido. Aquele que estava sentado no trono disse: Vou renovar todas as coisas”. Trata-se de uma esperança que vem de muito longe. Todos os profetas e sábios, todos os missionários procuraram este novo céu e esta nova terra. Tantas vezes, hoje nós condenamos muitas coisas do passado e não estamos contentes com o presente, onde reina o egoísmo e a corrupção. Mas procuramos e desejamos um mundo novo, mais justo e mais fraterno. Parece uma utopia. Para os cristãos a grande utopia para a humanidade é a Páscoa de Jesus, porque anuncia uma nova maneira de viver, de nos relacionarmos, de partilhar os bens da terra. Não se trata de um paraíso somente desejado, mas de um compromisso concreto de ir renovando as pessoas e as estruturas da sociedade, ou seja, mudar o nosso comportamento pessoal, mudar as instituições e os organismos que terão de estar sempre ao serviço das pessoas e deixar de as explorar e desprezar.

Um mundo novo não é um sonho impossível, é uma realidade que começou com a Páscoa de Jesus. Temos de nos convencer mais do que nunca que o velho mundo da violência e da injustiça é, deve ser, história passada e que podemos conseguir um mundo novo onde poderemos viver sem medos, em solidariedade e no amor. Neste mundo sonhado e desejado, Deus será uma realidade viva, íntima, em cada pessoa e em cada nação. Como podemos concretizar este projeto de Deus para toda a humanidade? De que forma, com que força e entusiasmo? Um mundo novo necessita de leis novas. Só há um caminho, uma maneira nova de viver. Qual? Jesus diz-nos no texto do evangelho deste domingo como testamento definitivo e definidor da sua vida e da sua pessoa: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”. Este mundo novo é o Reino de Deus que já está no meio de nós, naqueles que lutam pela dignidade das pessoas, em cada comunidade que acolhe, em cada pessoa que descobre que o perdão dá-lhe um olhar e um coração limpos.

Como construir este mundo novo? Enxugando lágrimas, ajudando os que sofrem, colaborando na construção da paz. Amando como Jesus amou. Ele amou não de forma possessiva (para controlar quem quer que fosse), não de uma forma egoísta (para se sentir bem), não amou para ser amado (numa espécie de comércio). Jesus amou para fazer o bem ao outro. Só assim, imitando Jesus, seremos felizes. Amar assim dá felicidade e gosto de viver.