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CORPO DE DEUS (ANO C)

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Depois da solenidade da Santíssima Trindade, celebramos neste dia a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Na Quinta-Feira Santa tivemos a oportunidade de celebrar a Última Ceia com Jesus em relação com o mistério da sua morte e ressurreição. Nesta celebração vimos de que forma o seu gesto salvífico é antecipado no contexto da ceia pascal com os seus discípulos, instituindo a sua nova aliança. Na solenidade deste dia, podemos aprofundar ainda mais este grande mistério e a importância que tem nas nossas vidas. A Eucaristia alimenta-nos e também muda a nossa maneira de viver e de entender o mundo. Se em cada domingo participamos na celebração da Eucaristia é o Senhor que nos alimenta e, assim, somos transformados, ou seja, tem de se notar na nossa vida.

“Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”. Estas palavras são de S. Paulo, proclamadas na segunda leitura, dirigidas aos Coríntios e hoje a cada um de nós, à nossa comunidade. É o texto mais antigo escrito sobre a Eucaristia. Podemos ver como o sacramento da Eucaristia é um anúncio do como e do porquê de Jesus Cristo ter morrido, deixando-se partir, como ouvimos nas palavras da consagração, como se fosse um objeto: para alimentar a vida dos outros, para não excluir ninguém do banquete da vida.

Há um aspeto que muitas vezes esquecemos, mas que está bem evidente nas palavras de S. Paulo. A Eucaristia dá-nos uma forma e uma razão para morrer, mas também oferece-nos uma forma e uma razão para viver. Celebrar a Eucaristia ensina-nos como temos de viver e a razão da nossa vida. Vive-se assim: entregando-se, deixando de pensar somente em nós, dando a vida por todos e por tudo. Viver a vida como doação às pessoas que vivem connosco, com os seus problemas, sendo pão para os outros, alimentando-os com a nossa amizade, união, apoio e carinho. Vive-se por amor. Não podemos esquecer que o mistério eucarístico é precisamente isto: é amor, é sacramento do amor. As palavras de S. Paulo convida-nos a esta forma de viver e de morrer, porque aquele que assim viveu e morreu é o Messias que um dia virá. Celebramos a Eucaristia até que Ele venha, esperando pela sua vinda, como dizemos na oração eucarística. A ressurreição, a eternidade, a vida em Deus são o ar que respiramos todas as vezes que celebramos a Eucaristia, é o ar de Jesus ressuscitado depois da sua morte e é o ar que respiramos até ao dia da sua vinda com toda a glória e esplendor. Celebramos a Eucaristia porque acreditamos no amor e que só o amor é vida, uma vida que vem de Deus.

O texto do evangelho deste dia faz referência a esta relação entre a Eucaristia e o amor. Perante aquela multidão, os discípulos têm a tentação de desinteressar-se das suas necessidades. Por isso, queriam despedir as pessoas. Estar com Jesus implica aceitar que tudo o que acontece à nossa volta deve preocupar-nos, até ao ponto de nos oferecermos aos outros como ajuda. A Eucaristia é contrária ao desinteresse e ao individualismo. A Eucaristia é uma forma de viver. O texto do evangelho termina dizendo: “Todos comeram e ficaram saciados; e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram”. No banquete do Messias, não há ninguém que não fique saciado.

Que nesta solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo sintamos que o alimento da nossa vida é a Eucaristia que nos dá energia para ir ao encontro das fomes dos nossos irmãos: fome de alegria, de paz, de sentido para a vida, de coragem. Através das nossas mãos, que os nossos irmãos mais necessitados sejam saciados e reconfortados pelo pão vivo descido do céu.

Rev. Cónego Jorge Seixas