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HOMILIA DO 10º DOMINGO COMUM (ANO C)

Neste domingo, a liturgia da Igreja convida-nos a refletir sobre o mistério da tragédia e do mal nas nossas vidas e como Cristo é a resposta para os nossos sofrimentos. Deus é a fonte de todo o bem (Cf. Oração Coleta). Por isso, Ele não fica indiferente perante os mais fracos, os que sofrem e os que perderam o sentido da sua vida. Esta ação amorosa Deus manifesta-se nas duas narrações de um mesmo milagre na primeira leitura e no evangelho: recuperar a vida do filho de uma viúva. A primeira leitura, do 1º Livro dos Reis, narra-nos o momento em que Deus, por intercessão de Elias, recupera a vida do filho da viúva de Sarepta e, no texto do evangelho, encontramos Jesus a recuperar a vida do filho da viúva de Naim. Para entender bem os dois textos não podemos esquecer que se para uma mulher perder o seu marido é uma tragédia, pior será perder o seu filho, porque a sua situação económica e social ficavam seriamente comprometidas.

Perante o sentimento de perda da viúva de Naim, a atitude de Jesus faz-nos pensar nas diversas ocasiões em que ficámos indiferentes e distantes perante as tragédias que acontecem no mundo e à nossa volta. São tantas as vezes que os meios de comunicação social nos apresentam imagens de tragédias, de sofrimento e de morte! Já estamos habituados a tantas notícias horríveis que o nosso coração parece que ficou insensível. Jesus não tem este comportamento. Perante estes momentos, no decorrer da sua vida, Jesus compadece-se, ou seja, tem a capacidade de se colocar no lugar daquela viúva, de entender não só a dor pela perda do seu filho mas também da pobre situação em que iria ficar e viver.

A atitude de Jesus impressiona-nos e comove-nos. Compadecido daquela mulher, decide agir de duas maneiras, expressas pelas duas simples frases que são as únicas, saídas da boca de Jesus, lidas no texto do evangelho deste domingo e que manifestam o seu poder salvífico em favor da humanidade. Em primeiro lugar, Jesus é capaz de consolar. Diz à viúva: “Não chores”. Ele sabe que o pranto daquela mulher manifesta a dor e a tragédia que caiu na sua vida, é a expressão dos seus sentimentos perante a perda do seu único filho. As lágrimas daquela viúva são uma oração de lamento a Deus e que será acolhida pelo próprio Cristo. Em segundo lugar, Jesus é capaz de dar resposta, dirigindo novamente a sua palavra: “Jovem Eu te ordeno: levanta-te”. Assim, revela que é o Senhor da vida e da morte, que é capaz de recuperar a vida a quem Ele quer e de dar resposta à maior interrogação da humanidade desde sempre, ou seja, à morte. A sua palavra é um gesto que toca o defunto, expressando o seu desejo de estar muito perto dos homens e mulheres. Ele recupera a vida ao jovem e a alegria àquela viúva. Por isso, podemos aclamar que Jesus é um grande profeta, porque chama a si o sofrimento dos outros, consolando a todos. Todas as pessoas que assistiram ao milagre “davam glória a Deus, dizendo: “Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo”.

Hoje, temos tantos motivos para dizer como no salmo responsorial: “Eu vos glorifico, Senhor, porque me salvastes”. Deus quer estar presente em todos os momentos da nossa vida, nomeadamente quando as tragédias e os sofrimentos nos batem à porta. Quando estes momentos chegarem, teremos sempre a certeza de que Ele estará ao nosso lado. Então, não sejamos insensíveis às dificuldades, às dores e tragédias dos nossos irmãos. Saibamos ser testemunhas deste Deus próximo e misericordioso, consolando e tocando os outros com a sua paz, carinho e amor.

Cónego Jorge Seixas