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HOMILIA DO 20º DOMINGO COMUM (ANO C)

“Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Eu vos digo que vim trazer a divisão”. Neste domingo, quando ouvimos o texto do evangelho, ficamos surpreendidos com esta afirmação de Jesus, porque não diz o que gostaríamos de escutar. Não é este o seu pensamento, porque Ele é uma pessoa pacífica, cheia de paciência, incapaz de fazer ou desejar mal a alguém. Então Jesus não veio trazer a paz à terra? Então como entender as suas afirmações: “deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” e “amai-vos uns aos outros”? Não é difícil entender todas estas afirmações de Jesus. Ele certamente quer a paz, mas não é uma paz qualquer; não é a paz como o mundo a dá, não é paz que não busca a verdade e a justiça. Como aconteceu ao profeta Jeremias, na primeira leitura, as palavras de Jesus “incendiaram” autenticamente o mundo e a cultura em que se inseria. As suas palavras eram fogo e transmitiam paz, mas a paz com justiça, verdade e fraternidade.

Hoje, a Palavra de Deus apresenta-nos Jeremias e Jesus. O profeta Jeremias, apesar de ser fiel a Deus, é visto, no seu tempo, como um inimigo do povo e especialmente dos poderosos. Os seus inimigos acusavam-no que “semeava o desânimo entre os combatentes que não foram para a guerra e ficaram na cidade e também entre o povo com as palavras que diz”. Também Jesus não era bem visto por todas as pessoas do seu tempo. Sofreu fortes ataques e havia sempre grupos a fazer-lhe oposição. Afinal, Jesus não é um manso cordeiro que veio ao mundo para que tudo continuasse na mesma. Jeremias e Jesus sofreram muito, porque enfrentaram o sistema que alimentava as injustiças e as indiferenças, dominado por alguns que sentiram que eles só vieram complicar e desestabilizar o esquema que tinham montado para dominar e escravizar.

Na nossa vida, se quisermos seguir o caminho da verdade e da justiça, ou seja, o caminho de Deus, também iremos fazer a experiência de perseguição de Jeremias e de Jesus. Por isso, na segunda leitura, da Carta aos Hebreus, é dito: “Corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição”. E como vamos aguentar todas estas dificuldades? A Carta aos Hebreus dá-nos a resposta: “Para não vos deixardes abater pelo desânimo, pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores. Ele suportou a cruz, mas agora está sentado à direita do trono de Deus”. Com a ajuda de Jesus, também faremos o caminho da cruz.

Mas, porque a vida é assim? Porque são odiados os que procuram fazer o bem, ser honestos e justos? Porque são perseguidos os que procuram viver segundo a vontade de Deus, ou seja, os que procuram ser profetas no mundo? Não é de espantar que estas coisas aconteçam. Porquê? Porque os profetas falam em nome de Deus dizendo qual é a Sua vontade numa determinada situação ou circunstância histórica. Ora os pensamentos de Deus são diferentes dos pensamentos humanos e há pessoas que se sentem atingidas e denunciadas nos seus comportamentos pela Palavra de Deus pronunciada pelo profeta. Então, perseguem, prendem, matam. Hoje, alguns continuam a perseguir os justos com mentiras, ameaças, desprezo.

Ser discípulo de Jesus, ser profeta do Filho de Deus, não é fácil, mas não é impossível. Jesus veio trazer a divisão que é a separação existente entre os verdadeiros e os mentirosos. Jesus veio trazer a paz do seu conforto e da sua coragem para enfrentar estes combates. Perante as dificuldades, fixemos os nossos olhos em Jesus e digamos: “Senhor, socorrei-me sem demora; Senhor, cuidai de mim. Sois o meu protetor e libertador: ó meu Deus, não tardeis”.