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HOMILIA DA FESTA

DE NOSSA SENHORA DO CASTELO – 2016

“Exultemos de alegria no Senhor, ao celebrar o nascimento da Virgem Santa Maria, da qual nasceu o sol da justiça, Cristo nosso Deus”. Assim canta hoje a Igreja, na multidão dos seus filhos, espalhados pelo mundo, na alegre festa litúrgica da Natividade da Virgem Santa Maria; assim cantamos nós, em comunhão com a Igreja universal, ao celebrarmos, aqui, a Festa de Nossa Senhora do Castelo.

É com muito respeito e religiosa veneração, que nos encontramos neste santuário, que há tantos anos, tem acolhido e abraçado gerações sucessivas de homens e mulheres crentes, peregrinos e devotos da Senhora do Castelo. Aqui acorre gente de todas as idades e tantas famílias, que vêm agradecer os dons recebidos, pedir o auxílio, o conforto e a esperança do Alto, sobretudo quando pesa a cruz, quando falta o ânimo e a alegria, a força para caminhar.

As leituras bíblicas propostas para a celebração deste dia sublinham o “intenso trabalho” de Deus em construir o seu templo, a sua morada, se é que assim podemos falar. Podemos afirmar que Deus teve maior cuidado em criar Maria, do que em criar o mundo inteiro. Desde toda a eternidade, Maria é preparada para ser a “digna mãe do Salvador”. Segundo a profecia de Miqueias, na primeira leitura, de Belém de Éfrata sairá o condutor, um novo David, como Messias, que inaugurará o “reinício da história”: “de ti sairá aquele que há-de reinar sobre Israel. As suas origens remontam aos tempos de outrora, aos dias mais antigos. Por isso Deus os abandonará até á altura em que der à luz aquela que há-de ser mãe. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz”. Em Maria realiza-se a profecia de Isaías, que nos aparece no texto do evangelho: “A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer “Deus connosco”.

Reconciliar: esta é a tarefa de Deus e de todos os cristãos chamados a ser humildes e próximos de todos, como ensinam as bem-aventuranças e como testemunha a Virgem Maria, de quem a Igreja celebra hoje o nascimento. Podemos fazer a seguinte pergunta: Como Deus reconcilia? Qual é o estilo da reconciliação de Deus? Em primeiro lugar, Deus não faz uma grande assembleia para reconciliar, não assina um documento ou um tratado. Deus reconcilia da seguinte forma: Ele começou a caminhar com o seu povo... O caminho de Deus entre os homens..., ao lado dos bons e dos maus. Deus não tem medo: Ele caminha, caminha com seu povo. Ele é um Deus próximo que caminha com todos e dá a todos a esperança no Messias. Além disso, Ele é um Deus que sonha. O nosso Pai sonha coisas belas para o seu povo, para todos nós, porque Ele é Pai, e, sendo Pai, pensa e sonha o melhor para os seus filhos. Por isso, Ele dá-nos um estilo de vida: amar o próximo sem reservas.
Deus é todo-poderoso e grande, mas escolhe as coisas pequenas, humildes, para fazer grandes obras. Ele aconselha-nos a ser como crianças para entrar no Reino dos Céus. Ao celebrarmos a Eucaristia, celebramos o memorial do Senhor: um pequeno pedaço de pão, um pouco de vinho... Mas neste pequeno está tudo. O sonho de Deus, o seu amor, a sua paz, a sua reconciliação, Jesus: Ele é tudo.

O nascimento da Virgem Maria é um acontecimento de fé e esperança que lembra o grande valor de cada ser humano, instrumento das maravilhas que Deus pode realizar. A Igreja celebra hoje o Nascimento da Virgem Maria, um momento cheio de significado teológico, espiritual e eclesial, que nos convida a redescobrir o sentido e o valor da vida. Um dos absurdos do nosso tempo é a fúria em relação à vida nascente, dificultada, manipulada e destruída. A ciência médica, concebida para dar apoio à saúde humana, tornou-se, em alguns casos, instrumento de morte para os menores e mais indefesos: os seres humanos que estão a ser gerados. Também não podemos esquecer as condições que impedem as famílias de ser mais acolhedoras ao nascimento de um filho ou de mais um filho. A crise económica, a instabilidade dos empregos, os salários baixos, o alto custo das casas de habitação, os impostos sempre a crescer são alguns dos elementos que desencorajam as famílias para ter filhos. As leis parecem privilegiar as pessoas que querem viver sozinhas, carregando nos ombros da família o peso fiscal e social de um país. Diante deste cenário, o nascimento da Bem-Aventurada Virgem Maria lembra o grande valor de cada ser humano, capaz de ser instrumento das grandes maravilhas que Deus pode realizar. A vida de Maria recorda-nos que um ser humano não é uma propriedade dos pais: o pai e a mãe não são os donos da vida humana, mas administradores. Maria foi um presente para Ana e Joaquim, que quiseram confiá-la totalmente às mãos de Deus. Confiar o filho à vontade de Deus é educá-lo santamente, acompanhá-lo no crescimento humano, instruí-lo na fé, rezar pela sua vocação e encaminhá-lo para a maturidade da vida humana e espiritual.


O nascimento de Maria prepara a Encarnação de Cristo. Maria é o templo que acolhe o Salvador, o tabernáculo onde repousa o Santíssimo Sacramento, a arca onde reside o coração da Nova Aliança, o palácio real onde mora o Rei do Céu e da Terra. Maria é a mulher que deu a sua carne ao Filho de Deus. A vinda de Maria ao mundo recorda a santidade e a transcendência de cada vida humana, que tem valor eterno. O homem tem necessidade de redescobrir a dignidade infinita de todo o ser humano, independentemente da sua idade, da sua riqueza, do seu conhecimento. Pobreza, doença e ignorância não devem constituir motivo de exclusão. Quando nasceu Maria, os seus pais não sabiam das grandes obras que Deus realizaria através da sua filha. O mundo de hoje também precisa de entender que a cada criança concebida cabe o direito de crescer de coração aberto ao Espírito Santo, para cumprir humildemente a vontade do Pai e tornar-se fiel servidor de Deus e dos homens.

No Ano Santo da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco, e que estamos a viver, o Santuário da Senhora do Castelo foi escolhido para ser a Igreja Jubilar para os concelhos de Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo e Fornos de Algodres. Por isso, neste dia, invoquemos Maria como Mãe da Misericórdia. A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida, tudo foi moldado pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou intimamente no mistério do seu amor. Escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericórdia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, na casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende “de geração em geração”. Também nós estávamos presentes naquelas palavras proféticas da Virgem Maria. Ao pé da cruz, Maria, juntamente com João, o discípulo do amor, é testemunha das palavras de perdão que saem dos lábios de Jesus. O perdão supremo oferecido a quem O crucificou, mostra-nos até onde pode chegar a misericórdia de Deus. Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém. Dirijamos a Maria a nossa oração, pedindo-Lhe que nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus.

E, por fim, uma prece muito especial a Maria-Mãe: Senhora do Castelo, olhai para esta terra que é vossa; olhai e amparai os vossos filhos que nesta hora mais precisam de ajuda, ânimo e força para refazer as suas vidas e construir o futuro; abençoai e protegei todas as famílias; abençoai e protegei as crianças e os jovens, os idosos, os doentes, os pobres, os desempregados, todos os que perderam a coragem de sonhar e de acreditar em Deus e nos homens. Que não nos falte a saúde, a paz, o trabalho, o ânimo e a força da fé e da esperança para enfrentar a realidade concreta da vida de cada dia. Senhora do Castelo, rogai por nós!