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HOMILIA DA SOLENIDADE DE CRISTO-REI (ANO C)

No final do ano litúrgico, a Igreja celebra o triunfo de Cristo-Rei. Uma celebração que tem algo de estranho para os nossos dias, porque o trono do rei não é de ouro, mas o patíbulo da cruz, na qual Pilatos mandou escrever “Este é o Rei dos Judeus”. Na narração da Paixão, os textos dos evangelhos descrevem a realeza de Jesus que não se manifesta através do poder político e militar, como muitos esperavam, mas na cruz, ou seja, no momento da sua maior humilhação e de entrega da sua vida. A cruz deixa de ser um instrumento de tortura e de morte para se transformar em sinal do grande amor de Deus, ou seja, até onde chega o amor de Deus por cada um de nós. O texto do evangelho deste domingo revela que a realeza de Jesus até se converteu em motivo de troça para os chefes dos judeus e para os soldados. Também foi motivo de desprezo para um dos malfeitores que tinham sido crucificados com Ele, afirmando: “Se és o Messias, salva-te a ti mesmo e a nós também”. Os chefes dos judeus, os soldados e o mau ladrão não acreditavam na capacidade salvadora da morte de Jesus na cruz.

É aqui que se encontra o fundamento da celebração deste domingo: Jesus Crucificado é rei, porque nos salvou. A cruz é o selo da nossa salvação e do perdão dos pecados. Não teria sentido recordar uma morte tão vergonhosa, um momento tão escandaloso, se não fosse pelo carácter salvador da entrega de Jesus por todos nós. Por isso, na segunda leitura, S. Paulo, na sua carta aos Colossenses, deixa bem claro o seguinte: “Cristo é a imagem do Deus invisível, por Ele e para Ele tudo foi criado. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus”.

Por causa da sua entrega amorosa na cruz, Jesus transferiu-nos para o seu reino, “fez-nos dignos de tomar parte na herança dos santos, na luz divina”. É por isso que “vamos com alegria para a casa do Senhor”. Como é esta casa? Como é este Senhor? A casa é acolhedora, aberta a todos os que desejam entrar nela; nem que seja nos últimos momentos da sua vida, como foi desejo do “bom ladrão” no evangelho: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com a tua realeza. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.

De facto, Jesus é rei, mas é um rei especial. Jesus é o rei do amor (ninguém amou mais do que Ele); é o rei do serviço (ninguém se colocou mais ao serviço dos outros do que Ele); Ele reina nos nossos corações (se O quisermos seguir e servir); é rei, porque é o Bom Pastor, orientando-nos na construção do seu reino de graça e de santidade, de verdade e de vida, de justiça, de amor e de paz.

Cónego Jorge Seixas