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HOMILIA DO 6º DOMINGO COMUM (ANO A)

Continua, neste domingo, a proclamação do evangelho do Sermão da Montanha. Jesus vai descrevendo o perfil de um verdadeiro discípulo e oferece uma série de ensinamentos. Começa por afirmar que veio para completar a Lei. Recorda o Antigo Testamento quando diz: “Ouvistes o que foi dito aos antigos”, mas, agora, acrescenta: “Eu, porém, digo-vos”. Desde o início do seu ministério, Jesus expõe com clareza a sua doutrina e deixa liberdade de escolha. Coloca diante dos nossos olhos dois caminhos: o fogo ou a água, a vida ou a morte, o bem ou o mal. Somos livres de escolher um dos dois. Que caminho preferimos? Neste domingo, as leituras propõem-nos uma reflexão sobre a nossa escolha.

A primeira leitura, do livro de Ben-Sirá, coloca uma questão que foi sempre discutida em todos os tempos. No mundo existe o bem e o mal. Por que é que Deus, que vê tudo e é todo-poderoso, permite o mal? A resposta não é fácil, porque está relacionada com a liberdade humana. O homem introduziu no mundo o mal e tem capacidade para escolher o bem ou o mal. A resposta não se encontra numa argumentação filosófica ou numa ideologia, porque fundamenta-se na fé e na relação pessoal e confiante com o Deus da Aliança. Quem escolhe o caminho do bem, rege-se pela sabedoria de Deus que criou o homem e lhe concedeu o dom da liberdade. Somos livres, porque Deus nos fez livres e responsáveis das nossas ações. O evangelho menciona três mandamentos do decálogo do Sinai: não matarás, não cometerás adultério e não jures falso. Ao dar estes mandamentos, Deus não pretendia impor um jugo ao homem, mas assinalar o limite que não se pode passar. Se tal acontecer, seremos injustos. É necessário, portanto, praticar os preceitos divinos e seguir o caminho do bem, rejeitando o caminho do mal. Na nossa sociedade, não pode reinar a anarquia, a injustiça, o poder do mais forte, a crueldade do egoísmo e dos mais poderosos. “Ditoso o que anda na lei do Senhor”, porque saberá escolher livremente o caminho do bem.

Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra”. A lei, que orientava as ações de Israel e tinha o seu fundamento no decálogo do Sinai, é completada por Jesus. As profecias cumpriram-se em Jesus e a lei foi completada. Jesus não elimina a lei antiga, mas cumpre-a, opondo-se à interpretação legalista dos fariseus. Cumprir os mandamentos sem espirito reduz-se a um mero cumprimento farisaico. Como Jesus completa a Lei? Não basta dizer “não matar”, é necessário não fazer guerras e discussões; não basta não cometer adultério, é necessário não desejar a mulher do outro; não basta lavar as mãos, é necessário a purificação interior; não basta levantar monumentos aos profetas, é necessário não os ter matado; não basta dizer “Senhor, Senhor”, é necessário fazer a vontade de Deus; não basta não jurar, é necessário viver segundo a bondade e a justiça de Deus; não basta oferecer sacrifícios, é necessário oferecer verdadeiros atos de culto em espírito e verdade.

Jesus é um Mestre exigente e convida-nos a viver a Lei que Ele proclama. Exige um “Sim”, com as nossas palavras e ações. Não tenhamos medo de seguir Cristo pelo caminho do bem e rejeitar o caminho das trevas e do mal.

Cónego Jorge Seixas