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HOMILIA DE DOMINGO DE RAMOS (ANO A)

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DSCF6435 800x600Com esta comemoração da entrada de Jesus em Jerusalém, onde foi recebido com aclamações e ramos de árvores, iniciamos a Semana Santa, na qual somos convidados a viver os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem. Esta entrada do Messias na cidade de David não se deve considerar uma entrada triunfal, porque Jesus entra como uma pessoa humilde e pacífica. Se hoje trazemos os nossos ramos para aclamar um Cristo triunfante é porque estamos a pensar naquele que veio a este mundo e continua a vir em cada um de nós, em nome do Senhor, para edificar a razão mais profunda da nossa existência humana e cristã. Tradicionalmente, este dia é de festa e de alegria, introduz-nos nos diversos sentimentos e realidades que vamos viver nos próximos dias em poderemos comprovar como aquelas pessoas que, com um entusiasmo passageiro aclamavam Jesus num dia como o de hoje, serão as mesmas que na próxima sexta-feira o rejeitarão e pedirão a sua crucificação e morte. A vida das pessoas é constituída de triunfos e de fracassos, de sorrisos e de lágrimas, de momentos esplendorosos e de momentos de escuridão. Viver a Semana Santa é uma boa ocasião para rever a nossa vida e vida das pessoas que nos rodeiam, com a firme esperança de que à dor da próxima sexta-feira seguir-se-á a alegria do domingo da Ressurreição. A luz triunfará sempre sobre as trevas, a nossa alegria pascal superará definitivamente todos os sinais de morte.

Este domingo é marcado pela narração da paixão segundo S. Mateus. Neste texto, existem quatro aspetos que só aparecem em S. Mateus: a morte de Judas; o gesto de Pilatos lavar as mãos; a perturbação da mulher de Pilatos por causa da inocência de Jesus e a presença de soldados a guardar o sepulcro de Jesus. Não deixa de ser curioso que Mateus inicie o seu evangelho com a figura do rei Herodes, dos sumos-sacerdotes e dos escribas a procurarem a morte de Jesus-menino; e o acabe apresentando Pilatos, os sumos-sacerdotes e os escribas a condenarem à morte Jesus-adulto; e que Jesus é sempre apresentado como o rei dos judeus. Quando S. Mateus narra a infância de Jesus, encontramos cinco momentos onde aparecem amigos e inimigos de Jesus. Os amigos são Maria, seu esposo José e os magos vindos do Oriente; e os inimigos são Herodes, os escribas e os fariseus. Ora, no relato da paixão repete-se o mesmo esquema: os amigos são José de Arimateia, Maria Madalena e algumas mulheres e alguns discípulos; e os inimigos são os sumos-sacerdotes e os soldados romanos. Na história da humanidade, a figura de Jesus sempre foi e é polémica, ou é seguido ou é perseguido, ou é admirado ou é marginalizado, por uns ou por outros.

Segundo S. Mateus, os discípulos de Jesus tinham proclamado que Ele era o Filho de Deus; por isso, a sua fuga e o terem abandonado o Mestre é ainda mais escandaloso, mas é a imagem da fragilidade humana. Pedro, que tinha sido salvo por Jesus quando se afundava no mar e que tinha confessado que Jesus era o Messias, negou-o por três vezes. No início do seu evangelho, para S. Mateus eram os magos, uns personagens gentios, que procuravam Jesus perante a hostilidade dos judeus; no relato da paixão, é uma mulher pagã, a esposa de Pilatos, a que mais defende Jesus.

Cónego Jorge Seixas