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HOMILIA DE QUINTA FEIRA SANTA

É tradicional que a quinta-feira santa seja conhecida como o “Dia do amor fraterno”, por causa das palavras e dos gestos de Jesus na ceia com os seus discípulos. Como é importante recordar que o amor tem de se exprimir em gestos de solidariedade para com os mais necessitados! A celebração deste dia assenta em três pontos muito importantes: a Eucaristia é a expressão permanente da nossa libertação; o lava-pés expressa o estilo de vida das nossas comunidades cristãs; a traição de Judas alerta-nos sobre a nossa fragilidade humana.

A leitura do livro do Êxodo narra-nos a Páscoa judaica como o memorial da libertação de um povo do jugo de Faraó, e como os judeus, quando celebram a ceia pascal, recordam os frutos daquela intervenção de Deus. Na segunda leitura, S. Paulo diz-nos que todas as vezes que comemos o pão e bebemos o cálice da Eucaristia anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha, porque a sua morte foi a causa da nossa libertação do pecado. Recordamos a sua morte, celebramos a sua ressurreição e esperando a sua vinda gloriosa. Finalmente, o gesto de Jesus lavar os pés será, não somente um gesto simbólico, mas a expressão da forma de viver de todos aqueles que querem seguir Jesus. Todavia, a traição de Judas é um alerta sobre a nossa fragilidade humana. A liberdade tem de ser sempre bem vivida, todos necessitamos de uma permanente revitalização das nossas opções, para que não caiam em fraqueza e morram.

O lava-pés era, entre os judeus, um gesto de cortesia que se fazia a alguém para mostrar acolhimento e hospitalidade. Normalmente, era feito por um escravo ou por uma mulher. Então, por que é que Jesus o faz? Ele responde: “Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também”. Desta forma, Jesus diz quais são as características das comunidades que se irão formar em seu nome: o serviço, o acolhimento, a hospitalidade, a igualdade e a liberdade têm de gerar amor. O gesto de Jesus não é somente um sinal de humildade, mas uma afirmação dos valores que possibilitam o verdadeiro amor a Deus e que são também os valores que configuram o amor aos outros e a luta pela sua dignidade. A resistência de Pedro simboliza a atitude de todos aqueles que na comunidade não aceitam a atitude de serviço, mas que reivindicam uma importância e uma superioridade sobre os outros. Perante esta atitude, Jesus diz a Pedro: se procederes assim, não és dos meus. Jesus não quer que as relações entre os seus discípulos sejam de domínio, nem de poder, mas de serviço e de amor.

Finalmente, o último ponto que podemos salientar na celebração desta quinta-feira santa é a traição de Judas: “o Demónio já tinha metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a ideia de entregar Jesus”. Na traição de Judas, por um lado podemos ver a fragilidade humana e, por outro, o respeito de Deus pela liberdade humana. Jesus deseja que os seus discípulos sejam como Ele. Estará sempre disposto a dar a Judas novas oportunidades e até a lavar-lhe os pés, como aos outros, mas, acima de tudo, respeitará a sua liberdade.

A fragilidade humana necessita de ser fortalecida. Como? A resposta é a lição final desta quinta-feira santa: a importância da Eucaristia. A Eucaristia é o pão e o sangue que dão vida. Por um lado, recorda-nos que fomos libertados do pecado e que, se nos arrependermos, teremos sempre o perdão e a misericórdia; por outro lado, sentimos que, quando comungamos, enchemos o nosso interior com sinais de vida. Como o pão material se converte em sangue do nosso corpo, e o sangue fortalece e irriga o nosso corpo, cada vez que comemos o pão da Eucaristia deixamos Cristo vivo entrar e fortalecer o nosso corpo e a nossa vida. Que a riqueza espiritual desta quinta-feira santa encha de fortaleza os nossos corações.