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HOMILIA DO 3º DOMINGO DA PÁSCOA (ANO A)

Os quatros evangelistas terminam os seus textos com um conjunto de narrações, habitualmente chamadas de “aparições”. O texto do evangelho deste domingo é conhecido como a aparição de Jesus aos discípulos de Emaús, uma aldeia muito perto de Jerusalém, para onde se dirigiam estes dois discípulos que viveram a paixão e a morte de Jesus. Pedro, porém, diz: “Mas Deus ressuscitou-O, livrando-O dos laços da morte” (primeira leitura); “a nossa fé a nossa esperança estejam em Deus” (segunda leitura). Podemos fazer uma leitura catequética destes textos, tendo como base a própria celebração da Eucaristia.

Muitas vezes, a missa é vista como um acessório na vida do cristão. Tantas vezes, a assembleia reunida é mais espetadora do que participante. Há pessoas que vêm somente para cumprir o preceito. Porém, o texto do evangelho diz-nos que Jesus caminha connosco. Não é um acessório, não somos espetadores, caminhamos com Jesus pelo caminho da vida, feito de esperanças e de sofrimentos. É sugestiva a imagem do caminho. Toda a Igreja faz caminho com Jesus, apesar dos nossos olhos, devido ao cansaço e ao desânimo, não O reconhecerem. Mas caminhamos, porque só a sua presença e a sua companhia pode abrir-nos os olhos, reconhecendo-O na Eucaristia e nos pobres.

Na missa, as leituras bíblicas ocupam um lugar importante, apesar de algumas vezes não serem bem proclamadas e não se dar muita atenção quando são escutadas. Também podemos não estar preparados para conseguir captar o seu sentido. Há algumas pessoas que dizem que andamos a ler sempre o mesmo! Que podemos fazer para que a experiência dos discípulos de Emaús seja também a nossa? “Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”. Este texto recorda-nos como, no tempo de Neemias, o povo escutava com lágrimas nos olhos os textos da Escritura (Ne 8,9). E nós, como escutamos esta Palavra de Deus?

Na missa, nunca faltam as oferendas do pão e do vinho, através das quais fazemos memória das palavras e dos gestos de Jesus na Última Ceia, na vigília da sua paixão e morte. A fração do pão é o nome mais antigo da missa. Este gesto ainda o mantemos um pouco antes da comunhão. O texto de Lucas deste domingo diz-nos claramente: “E quando se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhe os olhos e reconheceram-no. Mas Ele desapareceu da sua presença”. Não são palavras mágicas, mas as palavras que nos convidam a abrir os olhos da fé e a reconhecer a presença do Ressuscitado entre nós.

Há que viver a vida, fazendo a experiência dos discípulos de Emaús: encontrar Jesus, fazer o caminho da vida com Ele, escutar a sua palavra até arder no nosso coração, partilhar a mesa. “Eles partiram imediatamente de regresso a Jerusalém”. Como eles, temos de dar testemunho de Jesus Ressuscitado. Em Jerusalém, professaram a fé no Ressuscitado: “Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão”. Acabaram-se as portas fechadas e o medo. Nunca esqueçamos a nossa missão de anunciar a ressurreição de Jesus. Que Ele continue a dar-nos entusiasmo e alegria para a missão. Por isso, façamos, hoje, o pedido dos discípulos de Emaús: “Fica connosco, Senhor!”.

Cónego Jorge Seixas