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Ao Cair da Folha

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Em pleno Outono, prestes a entrar no mês de Novembro, os mês dos Santos e Finados, dos dias cinzentos, das noites longas, propícias à reflexão e ao convívio familiar, o mês das surpresas meteorológicas, das ventanias agrestes, das chuvadas intensas e também dos fugazes dias do Verão de S. Martinho, acalmadas que estão as “tempestades” políticas provocadas pelo ciclo das eleições, vive-se e saboreia-se um clima de tranquilidade que nos ajuda a reencontrarmo-nos connosco próprios, a reconhecer as nossas fragilidades e as nossas virtudes, a situarmo-nos no mundo que nos cerca, com realismo e humildade, a interrogarmo-nos seriamente sobre o que somos, o que valemos, o fim último das coisas, o sentido da família, do trabalho, do sofrimento, da vida e da morte.

O desnudar das árvores, por esses campos fora, e as folhas amarelecidas que as suaves brisas outonais fazem deslizar pelo chão, pisadas e apodrecidas a breve trecho, são bem o exemplo do que é e será a nossa curta existência terrena.

Tudo passa, tudo morre, no fim só o bem permanece, só é feliz quem arrecadou, lá, na outra margem, frutos de vida eterna.

 

 

O mês de Novembro, que está à porta é, para os que têm fé, o mês dos Santos, dos nossos Santos, aqueles que tiveram nome e rosto, que foram da nossa família, com quem nos cruzámos nos caminhos deste mundo e que agora descansam em paz, junto de Deus, na Pátria celeste, morada definitiva de todos nós.

Rezar por eles, evocar a sua presença no meio de nós, os bons exemplos que nos legaram, pensar neles como referências e estímulos a sermos bons, honestos, cristãos de fé e mandamentos, cumpridores fiéis dos nossos deveres familiares, profissionais e religiosos, é um imperativo de consciência e um gratificante “tranquilizante” para as nossas amarguras neste vale de lágrimas.

O Outuno traz à memória o termo da nossa vida, acorda-nos para viver os verdadeiros valores, convida-nos a despojarmo-nos do apego desmesurado dos bens materiais, de protagonismos balofos e futilidades enganosas, para sermos hoje construtores de um mundo justo e fraterno, e, amanhã, cidadãos do Céu, usufruindo da felicidade plena e eterna.

Pe. Jorge Seixas

Ao visitarmos, para cumprir a tradição, os nossos cemitérios, nos primeiros dias de Novembro, ao enfeitarmos as campas dos nossos mortos de flores de saudade, façamos espaços de silêncio à nossa volta, aprendamos a lição da morte, tenhamos um momento de lucidez para pensar que sem um Deus criador, senhor e remunerador de tudo e de todos, que dá sentido à vida e à morte, o nosso peregrinar neste mundo é tão só um “trágico nada”, como desesperadamente escreveram alguns filósofos propagandistas do existencialismo ateu.