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Afectivos ou Afectados?

Ocorreu, no dia 19 de Abril, o quinto aniversário da eleição do Papa Bento XVI. Estes últimos anos foram para a Igreja Católica e para o Papa em particular de grande sofrimento, de contínuos ataques, de campanhas sórdidas… escarafunchando males, esventrando memórias, rasgando consciências… atingindo tudo e todos.

Foi neste espaço de tempo que vieram à luz do dia situações vergonhosas humanas, social e cristãmente. Foi posto a descoberto muito daquilo que andava escondido, de tão lamentável que era, que é e que sempre será!

Refiro-me às notícias sobre a pedofilia. Esta chaga humana, social, psicológica e moral tem perseguido o magistério do Papa Bento XVI. Por ocasião da sua próxima visita a Portugal temos estado a ser bombardeados, diariamente, com notícias, comentários, insinuações, acusações e provocações.

Num tempo tão ávido de escândalos, a pedofilia tem sido aproveitada mais para lançar distracção do que para reflectir sobre as verdadeiras causas. Tal como noutras matérias temos estado a olhar mais para as consequências do que a procurarmos as verdadeiras causas.

De facto, o aproveitamento dos mais frágeis – crianças na sua maioria, rapazes ou raparigas – para actos de baixeza moral, denota que algo vai mal no interior de muitas pessoas… Dizemo-lo de qualquer vocação ou profissão, atinja quem prevaricar… comprovadamente. Tudo será mais grave se, de quem se esperava respeito e seriedade, vemos exactamente o contrário.

Para quem tenha estudado, minimamente, a influência das doutrinas contemporâneas ao surgimento do cristianismo, saberá que o estoicismo teve maior repercussão na doutrina da Igreja do que, por exemplo o epicurismo e o hedonismo. Foi mais fácil aceitar – na medida em que trazia exigência à moral – as regras do sacrifício do que as propostas do prazer. De alguma forma o prazer como que simbolizava mais uma falta de auto-domínio do que a procura da contrariedade. Repare-se como, na religiosidade latino-romana, parece mais fácil atrair pessoas à via-sacra e à quaresma do que à “via lucis” ou às alegrias do tempo pascal!

Fomos, de algum modo, formatados para uma certa religião sem aspectos de prazer e contentamento. Se isto foi mais ou menos tolerado em certos meios, noutros, mesmo que à socapa e roçando as franjas do imoral e ou do pecado foi sendo vivido numa linguagem de fora da norma ou contra a dignidade de outrem.

O equilíbrio emocional e afectivo tem um percurso de maturidade em cada pessoa humana. Nada está acabado. Estamos em vias de crescimento até à estatura de Cristo, o homem perfeito.

Pe. Jorge Seixas