Versão para impressão

Vuvuzelomania

É, por estes dias, um dos sons mais ouvido ao nível mundial: aquela espécie de corneta estridente que nos chega dos estádios da África do Sul, mas que invadiu também as ruas… mesmo em Portugal: um barulho ensurdecedor percorre-nos, irrita-nos, impacienta-nos, agride-nos, etc.

Já há pessoas que levam auscultadores para os estádios para não terem que ouvir aquela zoada impertinente. Há quem defenda que a repetição daquele som criará graves doenças no foro auditivo. Há quem goste daquela “energia” e há quem não suporte esta ditadura com sabor a primitivismo.

Dizem os jogadores do campeonato, que são dos mais submetidos àquela ditadura da vuvuzela, que não conseguem comunicar entre si, durante o jogo. Muitas vezes ficam atordoados pela barulheira em redor do campo de jogo. Será que o som do apito do árbitro é audível? Até os cânticos – tão característicos dalgumas selecções de futebol – ficam abafados pela barulheira da vuvuzela.

Vamos sabendo que, hoje, muitas pessoas se deixam assoberbar de barulho para não terem que pensar na vida. Há quem viva ao ritmo da música barulhenta para tentar afogar as mágoas com que tem de se enfrentar.

Com demasiada frequência vemos pessoas a tentarem fugir de si mesmas recorrendo ao subterfúgio do barulho, seja pelo modo como falam, seja pela inconsequência mental com que tentam iludir os outros à custa da falta de sentido de respeito pela inteligência alheia. Com efeito, parece que contam mais com a sua esperteza, embora depreciando a inteligência dos outros!

Na comunicação entre as pessoas, se não tivermos cuidado, corremos o risco de falar sem dizer nada e desse nada não conseguirmos qualquer proveito de entendimento uns com os outros. Quantas vezes somos confrontados com pessoas cuja argumentação só olha para o seu umbigo não tendo em conta que estamos continuamente em processo de comunicação.

Veja-se a luta – quase cíclica – de certos sectores da nossa sociedade política, sindical ou autárquica. Com que absolutismo se defendem posições nem sempre coerentes com o todo nacional.

As buzinadelas de certas manifestações poderão fazer-nos perder a capacidade de reflexão, quanto mais a consciência das nossas mais básicas exigências de solidariedade e de vivermos em conformidade com os nossos deveres e elementares direitos.

Não é com vuvuzelas que se engana e ou entretém o povo!

2010-06-26

Pe. Jorge Seixas