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Férias: direito, dever ou intenção?

 

As férias, infelizmente, nem sempre são um direito de todos. No entanto, vemos crescer uma certa prosápia de fazer férias em lugares exóticos, sem olhar a custos e a exuberâncias provocatórias de tantos pobres, de desempregados, de vítimas de salários baixos e mesmo da exploração do trabalho alheio.

A máquina do (dito) turismo vai trucidando muitos incautos, na medida em que a promoção de certos clichés vai gerando ambição, mas nem sempre com qualidade de concretização. Há, com efeito, múltiplos excluídos da mesa faustosa de ricos sem escrúpulos que poderão voltar-se contra os da sociedade do ‘faz-de-conta’, seja por conta própria, seja nas maquinações das invejas e das promoções insidiosas.

Como poderão os pais educar os filhos se lhes prolongam a crise económica em que a família vive? Como poderão disfarçar por mais tempo, quando as dívidas se acumulam sobre as suas cabeças e os seus destinos? Até quando será adiada a verdade à luz das imensas dívidas sem pagamento?

Ora quando alguém tenta denunciar o irrealismo de certos projectos, logo se levantam esqueletos em decomposição para dizerem que é mau falar verdade aos meninos que já não conseguem distrair as mazelas da arrogância. Cada vez mais se torna irresponsável fugir das consequências dos actos mal calculados. Urge, por isso, ser(mos) verdadeiros… mesmo que isso custe votos, a popularidade ou até o poder.

Tempo de descontracção, as férias podem servir para muita coisa ou para nada. A expressão ‘estar de férias’ por certo faz lembrar boas recordações, na medida em que esses momentos de descontracção nos permitem usufruir de vivências que a azáfama do trabalho nos impediu. As ocupações de férias para muitas pessoas quase se reduzem ao ‘não fazer nada’, numa espécie de preguiça em continuidade. Mas será este o melhor projecto de férias? Claro que não.

Férias poderão ser (simplesmente) mudar de lugar ou tentar conhecer outros lugares diferentes. Férias poderão ainda ser o dar mais espaço às coisas de Deus e ao contacto com a natureza. Férias poderão como que incluir viver sem relógio, embora ao ritmo do descanso… em Deus e para os outros.

Para quem puder: boas férias em casa, na praia, nas termas a tratar da saúde, passeando ou pelo campo.

Até à próxima. Também vou descansar.

2010-08-13

Pe. Jorge Seixas