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“Silêncio que se vai cantar o Fado”
“Nascido nos contextos populares da Lisboa oitocentista, o Fado encontrava-se presente nos momentos de convívio e lazer. Manifestando-se de forma espontânea, a sua execução decorria dentro ou fora de portas, nas hortas, nas esperas de touros, nos retiros, nas ruas e vielas, nas tabernas, cafés de camareiras e casas de meia-porta. Evocando temas de emergência urbana, cantando a narrativa do quotidiano, o fado encontra-se, numa primeira fase, vincadamente associado a contextos sociais pautados pela marginalidade e transgressão”. “Com o golpe militar de 28 de Maio de 1926 e a implementação da censura prévia sobre espectáculos públicos, imprensa e demais publicações, a canção urbana sofreria profundas mutações regulado por instrumentos legais.2 “Gradualmente, tenderia a ritualizar -se a audição de fados numa casa de fados, locais que iriam sobretudo concentrar-se nos bairros históricos da cidade, com maior incidência no Bairro Alto, sobretudo a partir dos anos 30.” “Estas transformações na produção do fado irão necessariamente afastá-lo do campo do improviso, perdendo-se alguma da diversidade dos seus contextos performativos de origem…” “Contudo, a difusão radiofónica permitira ultrapassar barreiras geográficas, levando a milhares de pessoas as vozes do fado, depois da inauguração da Rádio Televisão Portuguesa - em 1957 – e, sobretudo, com a sua difusão, à escala nacional, em meados da década seguinte, os rostos dos artistas passariam a ser divulgados junto do grande público. Recriando em estúdio ambientes ligados às temáticas fadistas, a televisão transmitiria regularmente, em directo, de 1959 a 1974, programas de fado que contribuiriam de um modo inequívoco para a sua mediatização.” “A divulgação internacional do Fado começara já a esboçar-se a partir de meados da década de 30, em direcção ao continente africano e ao Brasil, destinos preferenciais para actuação de artistas como Ercília Costa, Berta Cardoso, Madalena de Melo, Armando Augusto Freire, Martinho d’Assunção ou João da Mata, entre outros artistas. Seria, porém, a partir da década de 1950 que a internacionalização do Fado se consolidaria definitivamente sobretudo através da figura de Amália Rodrigues.” “Ultrapassando as barreiras da cultura e da língua, com Amália o Fado consagrar-se-ia definitivamente como um ícone da cultura nacional. Durante décadas e até à data da sua morte, em 1999, caberia a Amália Rodrigues, o protagonismo a nível nacional e internacional.” “A estabilização do regime democrático devolveria ao fado o seu espaço próprio a partir de 1976 e, logo no ano seguinte, vinha a lume o álbum Um Homem na Cidade por um dos maiores expoentes da canção urbana de Lisboa, figura central da internacionalização do fado, autor de uma sólida carreira de 45 anos, ao longo da qual tem articulado, como ninguém, a tradição fadista mais legítima, a uma inesgotável capacidade de a recriar.” “Sobretudo a partir da década de 1980 que terá lugar o reconhecimento do lugar central do fado consenso, no quadro do património musical português, assistindo-se a um renovado interesse do mercado pela canção urbana de Lisboa, como o atestam a atenção crescente.” “Já nos anos 90 o fado consagrar-se-ia, definitivamente nos circuitos da World Music internacional com Mísia e Cristina Branco, respectivamente no circuito francês e na Holanda. Também nos anos 90, um outro nome que se destaca no panorama do Fado é Camané, com grande consagração. Desde a década de 90 e já no dealbar do século surge uma nova geração de talentosos intérpretes”. Pereira, Sara (2008), “Circuito Museológico”, in Museu do Fado 1998-2008, Lisboa: EGEAC/Museu do Fado. http://www.museudofado.pt/gca/index.php?id=17
“Silêncio que se vai cantar o fado” foi assim no Lar Pe. António Pinto Lobinho, no passado dia 16 de Dezembro numa tarde de domingo. À capela uma jovem “cantou e encantou” os nossos idosos com alguns fados que aprendera a cantar com a sua avó. “Margarida” foi o primeiro fado cantado por ela com apenas 11 anos de idade, agora com mais algum conhecimento e voz mais madura partilhou cantando acompanhada por quem conhecia os seguintes fados: -“Cheira Bem Cheira a Lisboa” de Amália Rodrigues - “Nem às paredes confesso” de Amália Rodrigues -“Ai Mouraria” de Amália Rodrigues -“A lenda da fonte” de Domingos Silva -“Ó gente da minha terra” de Marisa -“Canção do mar” de Dulce Pontes -“Lusitana paixão” de Dulce Pontes Alguns utentes mais destemidos e conhecedores de outros fados antigos partilharam em grupo as letras e melodias que ainda se recordavam. No fim ficou a promessa de retorno da jovem Elizabeth para animar mais uma tarde. |