Papa Bento XVI alerta para a nova cultura da comunicação
(A propósito do Dia Mundial das Comunicações – 24 de Maio)
Foi no Concílio Vaticano II que a Igreja assumiu com decisão a importância dos Meios de Comunicação Social no mundo contemporâneo. Do Concílio saiu não só um documento (o decreto Inter Mirífica) como a instituição de um organismo (a Pontifícia Comissão para as Comunicações Sociais) e de um dia especialmente dedicado aos meios de comunicação social (o Domingo da Ascensão), escrevendo cada ano o Papa uma carta sobre um tema neste âmbito.
É neste contexto que surge esta Mensagem do Papa para o 43º Dia Mundial das Comunicações Sociais, com o título “Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade”. Já no ano de 2002 João Paulo II tinha falado da Internet como “novo foro para a evangelização”. Quis Bento XVI regressar a este tema, por causa das “mudanças fundamentais nos modelos de comunicação e nas relações humanas” que o desenvolvimento técnico tem provocado. Mudanças que afectam cada vez mais pessoas (em particular os jovens, a quem o Papa chama “geração digital”) e de um modo cada vez mais profundo. A sua influência não se fica pelas novas formas de comunicação e relação (como refere o título da mensagem), mas chega à própria auto-percepção que sobretudo os mais novos têm de si mesmos e do mundo à sua volta (pense-se nos sms que os adolescentes se enviam uns aos outros, e cujo número acaba por definir a sua “popularidade” e influenciar a sua auto-estima).
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Vida com valores e formação para eles na família
Por iniciativa do saudoso Papa João Paulo II foi instituída uma Semana dedicada à Vida, que este ano se celebra de 10 a 17 de Maio e que portanto está a decorrer. Sobre ela e o tema proposto para este ano passo a escrever aos amigos alguns pensamentos.
Que a vida humana é importante e portanto deve ser amada, reflectida, apoiada e promovida, penso que ninguém duvida disso. Mas na prática sentimos diariamente como ela é ameaçada e espezinhada por muitos de nós, desde o seu início até ao seu termo natural, quer no ambiente familiar quer na sociedade e no mundo, nuns países mais que noutros. Todos os dias nos confrontamos com o aborto, a violência, as guerras, o trânsito desenfreado nas nossas estradas sem respeito por todos os que nelas circulam, a poluição da natureza, o esbanjamento dos recursos naturais por alguns, a míngua de meios de subsistência para muitos concidadãos. Estes atentados à vida são da responsabilidade do próprio homem, que não reflecte que não podemos fazer aos outros o que não gostamos que nos façam a nós, ou pela positiva, que devemos fazer aos outros o que gostaríamos que também nos fizessem a nós. A par disto há os perigos e ameaças provenientes das catástrofes naturais ou das doenças, para já não falar das pandemias, que de vez em quando dizimam muitas vidas. Mas aqui não estou a falar das doenças ou viroses, que fazem parte da fragilidade da nossa natureza e que, embora devamos procurar as medicinas mais eficazes para as curar, no entanto sabemos que não podemos prolongar indefinidamente este tipo de vida biológica. Muitos confundem vida com saúde e passam os seus dias obcecados com o bem estar físico, fazendo da saúde o centro dos seus interesses, por assim dizer, a sua religião. Se assim fosse, os doentes, os deficientes e tantos irmãos nossos que passaram por este mundo a sofrer, não teriam usufruído da vida. É importante não confundirmos vida com saúde, pois também os doentes podem encontrar um sentido para o seu sofrimento e para a sua vida. Isto podemos constatar naqueles que se entregam às grandes causas em favor do próximo e da humanidade, arriscando a sua vida. Podemos dizer que estes vivem o sentido da sua existência intensamente, como é afirmado por Jesus Cristo no sermão da montanha: Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu (Mt 5, 10).
Com a afirmação de que a vida é o valor fundamental e o primeiro direito da pessoa humana e sem ela nada tem sentido, passo a mencionar o tema da Semana da Vida deste ano: Vida com valores e formação para eles na família. Para todos é claro que a vida humana deve surgir como uma opção de amor de um homem e uma mulher, de um amor que não se pode confundir com a satisfação de um prazer momentâneo, mas que aposta firmemente no bem do outro a quem se une por amor e assume as consequências do que desse amor pode surgir, contribuindo com todas as suas forças e meios para o bem da nova vida surgida dessa relação, o que exige estabilidade do casal e abertura à sociedade e à vida. Com isto afirmamos que a vida humana precisa da família para se desenvolver e inserir no mundo dos humanos, tarefa educativa cujo primeiro responsável é o próprio casal. Essa educação precisa de ser orientada em determinado sentido, que contribua para uma realização harmónica dos novos seres e a sua inserção na sociedade. Isto significa que precisamos de normas que orientam o processo educativo, o mesmo é dizer que não há educação sem valores. Sem querer ser exaustivo, aponto apenas alguns desses valores, deixando para a vossa reflexão o seu conteúdo ou mesmo a indicação de outros que aqui foram omitidos.
Creio que depois da vida podemos mencionar como um valor e um direito fundamental a família, como primeira escola, em que o testemunho do amor é imprescindível. Quando isso falta, os remendos supletivos da sociedade nunca conseguem o mesmo resultado. A partir daqui tudo se desenvolve até ao apogeu de uma vida feliz, em que transparecem os valores da alegria, da esperança, do respeito pelos outros, da dignidade pessoal, da liberdade, da verdade, da paz, da justiça, do trabalho, da aprendizagem das ferramentas do saber, da comunicação, da transformação positiva dos ambientes hostis ou desfavoráveis à convivência pacífica, do contributo dado ao bem comum. No fundo, é na família que aprendemos os valores, encarando a vida como um contínuo receber e dar até nos entregarmos totalmente a quem amamos.
Concluindo, direi que não é numa semana que aprendemos a viver na família com valores, mas que isso é uma aprendizagem de toda a vida. Mas esta semana vem lembrar-nos a importância dum bem fundamental, sempre ameaçado e sempre a desafiar quem nele acredita. O Estado e todas as forças organizativas da sociedade têm de orientar toda a sua acção e recursos para que a família possa desempenhar esta missão fundamental e suprir, não substituir, quando for preciso.
Celebremos então a semana da vida e façamos o nosso exame de consciência, para estarmos conscientes de quanto nos resta caminhar. |
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«Reinventar a Solidariedade (em tempo de crise)»
Atenta à actual conjuntura nacional e mundial, a Conferência Episcopal Portuguesa decidiu promover um simpósio de interpelação da sociedade portuguesa, convocando todos os cidadãos para uma reflexão alargada e profunda sobre o futuro da solidariedade e o modelo de desenvolvimento das sociedades hodiernas. Sob o título “Reinventar a Solidariedade (em tempo de crise)”, o simpósio teve lugar no dia 15 de Maio, no Centro de Congressos de Lisboa.
Num contexto de incerteza e de profundas transformações económicas, sociais e políticas a nossa consciência não pode deixar de estar alerta. O desafio, para o qual se convocam todos os cidadãos, é o de se encontrarem novos modos e expressões para a solidariedade, ou seja, para que cada um de nós, individual e colectivamente, seja capaz de reinventar a solidariedade. Solidariedade entendida como expressão de Amor pelo próximo, mas também por todas as formas de vida e pelas futuras gerações.
Urge encontrar outro tipo de economia, compatível e solidário com a Vida. Uma economia solidária não no sentido estritamente social, mas no sentido sistémico, ou seja, solidária com as pessoas, com a natureza, com a cultura e o conhecimento. E, quando a interdependência é reconhecida, a resposta correlativa, como atitude moral e social e como “virtude”, é a solidariedade.
Parte da solução para o que vivemos passa pelo reacender de um certo sentido de comunitarismo, por mobilizar todos para formas de participação nos lugares. Nunca haverá uma cidadania nacional, europeia ou mundial enquanto cada um de nós não se envolver no seu prédio, na sua rua, no seu bairro, na sua paróquia, na sua escola. Mas, acima de tudo, urge reinventar a solidariedade pois é na relação com o Outro que o Homem se cumpre e se realiza. Pois dela resulta a paz – e um sentido mais pleno da História e da Humanidade! |
Fátima atenta à Crise
O recinto do Santuário de Fátima encheu para acompanhar a procissão e participar na Eucaristia deste 13 de Maio, celebração que marca os 92 anos das aparições em Fátima. 123 grupos de 25 países uniram-se aos milhares de portugueses que se deslocaram à Cova da Iria.
A presidir à celebração esteve D. Óscar Maradiaga, Presidente da Cáritas Internacional. Na sua homilia, o Cardeal hondurenho referiu que “o nosso mundo encontra-se submerso em profundas crises de fé, de ética, de humanidade e parece ter perdido a orientação moral”.
“A crise financeira que estamos a viver é simplesmente um sinal disto. A mão invisível que supostamente teria que guiar o mercado, tornou-se uma mão desonesta e cheia de cobiça”, denunciou.
"Já não sabe onde está a fronteira entre o bem e o mal. Pode ser que tenha uma próspera bolsa de valores, mas sem valores”, disse ainda.
D. Óscar Maradiaga destacou que "a Virgem de Fátima trouxe-nos a mensagem do Santo Rosário que não passou de moda, como pensam alguns".
"Maria ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos do seu Filho. Indica, além disso, qual é a pedagogia para que os pobres, em cada comunidade cristã, se sintam como em sua casa", apontou.
O Arcebispo de Tegucigalpa falou do exemplo de Maria e da actualidade da mensagem de Fátima: “Na primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima, parecia que estava perdida toda a esperança. Ameaças terríveis espreitavam o mundo. Ela veio trazer-nos a esperança que brota da Divina Providência de um Deus que é amor e que não abandona a obra das suas mãos”.
Também hoje, prosseguiu, "com o exemplo e o auxílio da Virgem, as comunidades cristãs continuam a missão de conduzir ao encontro com Cristo e, por isso, a invocamos novamente como Estrela da nova evangelização”.
“Que Nossa Senhora de Fátima, que concebeu primeiro a Jesus Cristo no coração e depois nas suas entranhas, continue a ser mãe e modelo de fecundos discípulos missionários na Igreja de Portugal e de todo o mundo e nos guie nos novos caminhos pastorais e espirituais”, em especial neste tempo de dificuldade, concluiu.
Ontem, apesar da noite fria, o Santuário de Fátima juntou cerca de 200 mil pessoas para ouvir a mensagem que o Cardeal trouxe. O Cardeal Maradiaga destacou a mensagem de “esperança e de fé” do local.
“A mensagem de Fátima é muito actual”, referiu. “Em 1917, viviam-se anos muito difíceis, em plena Guerra Mundial. Havia também muita pobreza e mensagem de Maria foi de esperança”.
Também o Bispo de Leiria–Fátima, D. António Marto quis ter presente nesta celebração aniversária a crise e as dificuldades que os portugueses atravessam, referindo que a simples participação não é suficiente. “Deve provocar um assumir das responsabilidades a favor dos que precisam” e infundir “coragem para dar os passos necessários para resolver a situação actual”.
Segundo informações do Santuário de Fátima inscreveram-se para a benção dos doentes 424 peregrinos. Foram 779 os peregrinos de cumpriram as suas promessas e 872 a passar pelo lava-pés. Ao serviço aos peregrinos encontravam-se quase 200 servitas. Também 38 escuteiros, três médicos e cinco enfermeiros estão ao dispor dos fiéis. A Eucaristia de 13 de Maio foi concelebrada por 21 Bispos e 360 sacerdotes. |
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