HOMILIA DE QUINTA FEIRA SANTA Na celebração alegre e festiva deste dia, encontramo-nos à volta de uma mesa, como o Senhor com os seus discípulos. Hoje, somos convidados a ir às nossas origens, ao que é primordial e fundamental na nossa vida. Iremos encontrar a nossa identidade cristã na instituição da Eucaristia. A primeira leitura, do livro do Êxodo, é um grito de liberdade. O povo de Israel termina um longo período de escravidão, marcado por trabalhos forçados, por viver em terra estrangeira e num lugar onde era difícil prestar culto a Deus, ao Deus de Israel. O Senhor abre-lhes o caminho, um caminho que será difícil, em que muitos ficarão pelo deserto, mas um caminho onde nunca lhes faltará a ajuda de Deus que os acompanhará de noite e de dia. A ceia da Páscoa é o grande sinal de aliança da liberdade do povo de Israel para a terra prometida e poder louvar a Deus com todo o coração. Se a origem do povo de Israel está naquela ceia pascal, que a primeira leitura nos descreve detalhadamente, a origem e o fundamento do novo povo de Deus, da Igreja, é o amor. Assim nos narra S. João no texto evangélico deste dia: “Jesus, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. Jesus amou sempre os seus discípulos, desde o momento que os chamou nas margens do lago da Galileia; amou-os, quando os ensinava, especialmente a oração do Pai-Nosso; amou-os quando lhes confiou a missão de ir por todo o mundo anunciar o Evangelho. Mas agora havia um sinal que selaria este amor que Jesus lhes tinha. Um amor que não é só do Mestre aos discípulos, mas também entre os discípulos: “Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros”, “Assim como Eu fiz, vós façais também”. Mas, como viver a liberdade de ser filhos de Deus e celebrar a nova Páscoa? Como podemos viver em serviço sem desanimar? Para responder, também temos de ir às nossas origens e lá encontraremos a Eucaristia: a presença do Senhor. Na segunda leitura, São Paulo explica aos cristãos de Corinto, e a nós, que temos de escutar novamente esta grande tradição que a Igreja perpetua ao longo dos tempos: “Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim. Este cálice é a nova aliança no meu Sangue”. “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”. Nesta quinta-feira santa, colocamo-nos diante do que é a origem e o fundamento da nossa fé: Jesus presente na sua Igreja. Ele está presente de uma maneira viva e eficaz, presente de uma maneira real para que nos encontremos com Ele, para saborearmos a sua presença e para crescermos no seu amor. Neste dia, contemplemos somente o mistério: Jesus está presente no meio de nós, deixemo-nos envolver pelo seu dom. A Eucaristia faz-nos crescer no seu amor e no serviço: cada homem e cada mulher é um irmão que pede o nosso serviço, a nossa atenção e a nossa ajuda. Jesus está presente na Eucaristia para ser nosso alimento. Nós, saciados pela Eucaristia, devemos ser alimento para os nossos irmãos. Onde está um cristão, está a presença de Jesus Cristo; onde está um cristão, está o dom do amor de Deus; onde está um cristão, há uma pessoa livre que não se deixa levar pela superficialidade da vida, mas que serve com santidade e justiça, na presença do Senhor, todos os dias. Vivamos intensamente estes dias: hoje, à volta da mesa da Eucaristia; amanhã, junto à cruz redentora no monte do Calvário; e no sábado, exultemos, porque dentro do sepulcro já não está ninguém: Jesus está presente na sua Igreja pelo dom da Eucaristia que hoje comemoramos e que em cada domingo celebramos fazendo o memorial do Senhor. A Eucaristia é a força e a coragem para servirmos os nossos irmãos, como Jesus fez: “amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”. |