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HOMILIA DA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO Os evangelhos da infância de Jesus, tanto em S. Mateus como em S. Lucas, têm um carácter muito mais teológico e simbólico que histórico. Estes textos procuram transmitir uma mensagem importante através de um relato explicado em forma de história. Contam muito os símbolos e as palavras. Por isso, para compreender estes textos, precisamos de descobrir, através das palavras, a mensagem que o evangelista nos quer transmitir. Fixemo-nos especialmente em algumas destas palavras dos textos que escutamos neste dia de festa a Maria. A primeira frase a destacar é a saudação do anjo: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo”. Antes de Jesus nascer, já o evangelista nos anuncia o que Ele será para a humanidade. “Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo”. Nele, Deus vem ao nosso encontro, Deus partilha da nossa condição humana. No texto do evangelho de S. Mateus, o anjo diz a José o nome que há-de dar ao menino: Emanuel, Deus Connosco. Este Deus que escolhe Maria, que está connosco, é o Deus que Jesus nos revela como Pai. Um Deus tão próximo é um convite a estarmos próximos, a não nos afastarmos dos nossos irmãos e irmãs, a não criar divisões por qualquer motivo, nem de religião, nem de política, nem de cultura, nem de nada. Somos convidados a estar próximos não só daqueles que conhecemos ou amamos, mas também daqueles que não conhecemos, mas que precisam da nossa ajuda, como fez o bom samaritano. A segunda frase a destacar é a seguinte. “Não temas, Maria”. Isto dirá Jesus ressuscitado aos seus discípulos: “Não temais”. É a mesma mensagem que, hoje, nos diz a cada um de nós. Maria viverá sem medo desde aquele dia até ao momento da cruz. Sem medo é como Jesus nos pede que vivamos. Não se trata de um medo provocado por um acontecimento que nos perturba. Jesus convida-nos a viver sem o medo profundo de quem já não espera nada da vida, de quem não encontra nenhum sentido para a vida. O convite do anjo e o convite de Jesus são para confiar sempre. Vivendo nesta confiança, o medo será substituído pela valentia do testemunho, como Maria e os primeiros cristãos. A terceira frase a destacar é a seguinte: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. A Palavra de Deus converte-se em vida. A vida de Maria foi Palavra de Deus, não uma palavra escrita num papel, mas uma palavra viva. Deixando-se conduzir pelo Espírito Santo, Maria fez que Deus pudesse falar através dela, da sua vida simples e humilde, da sua fé profunda, da sua maternidade, do seu serviço a Isabel, da sua mediação nas bodas de Caná e em outros momentos. Como Maria, fazer da nossa vida palavra de Deus também é possível. Não é preciso sermos heróis nem santos “canonizados”. Sempre que fizermos uma ação, por mais simples que seja, que seja um gesto de amor, estamos a ser palavra viva de Deus, palavra de amor. Escutar o que habitualmente chamamos “Palavra de Deus”, ou seja, a Bíblia, o Evangelho, seria estéril se não se converte em vida. As palavras, as frases que lemos ou escutamos, são letra morta se não somos capazes de convertê-las em vida. Este é o exemplo que recebemos de Maria. Na sua maternidade, a Palavra de Deus fez-se homem em Jesus. Também podemos dar à luz este Deus feito homem se, por nós, deixarmos passar e viver a palavra de Deus. Na solenidade da Imaculada Conceição, peçamos-lhe que interceda por nós, para que sigamos o seu Filho Jesus, não tendo medo de, como Ela, dizer: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”. Cónego Jorge Seixas |