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Sinais Religiosos no espaço público

Em todas as nossas cidades e aldeias é bem visível a mudança de ambiente e decoração nas semanas que antecedem o Natal. Ao reflectir sobre as motivações que estão na origem destas alterações dos hábitos de vida, surge espontânea a pergunta sobre a força dos símbolos e das tradições religiosas nos nossos comportamentos.

Ao mesmo tempo deparo com algumas polémicas e decisões de entidades judiciais e governamentais no sentido de proibirem os sinais públicos de religiosidade, como foi a sentença do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenando a afixação de crucifixos nas escolas públicas, dando assim razão a uma cidadã italiana, que alegava que isso restringia a liberdade religiosa e o direito de os pais educarem os seus filhos de acordo com as suas convicções. Esta decisão, se não for contestada pelos cidadãos da comunidade europeia e pelos governos dos diferentes países, pode levar ao extremo de proibir todos os sinais públicos de religiosidade, sejam eles cristãos ou de outras confissões religiosas. Algo semelhante aconteceu na Suíça, quando, na semana passada, o povo se pronunciou em referendo contra a construção de templos islâmicos (mesquitas) com minaretes, embora estes, como os campanários das igrejas cristãs, possam destoar ou então abrilhantar a paisagem arquitectónica dos caixotes das construções das nossas cidades e aldeias.

 

Isto faz-me lembrar os iluministas, que pensaram impor ao mundo uma razão pura, uma educação sem educadores, uma liberdade absoluta do indivíduo, um mundo sem passado, sem tradições. As afirmações da identidade das pessoas e grupos, sejam elas religiosas ou de outra índole, podem ajudar a construir uma Europa coesa, respeitadora da alteridade, afirmativa dos valores, mas sem proselitismo desrespeitador da liberdade das pessoas.

A Europa ganhará se os seus cidadãos tiverem uma personalidade integradora das diferenças, em vez de perder tempo a retirar do seu ambiente social e público os sinais que contribuíram para a construção integral das pessoas e das sociedades, sem esquizofrenias em relação a algumas dimensões da realidade sócio-cultural. A Europa do mercado liberal, do consumo desenfreado, da ditadura económica e financeira poderá enriquecer, abrindo-se a todas as dimensões da pessoa humana, incluindo a religiosa.

Um sinal de sentido contrário veio estes dias da Alemanha, onde o Supremo Tribunal Constitucional de Karlsruhe decidiu pela inconstitucionalidade da abertura do comércio aos domingos, argumentando com a opção religiosa dos cristãos, que constituem a maioria da sua população, com a protecção da família e os direitos dos trabalhadores como valores fundamentais e prioritários em relação ao comércio e ao consumo. Se outros países seguirem este exemplo, então talvez a Europa da dignidade das pessoas, do respeito pelas diferenças e da liberdade na convivência fraterna, será um exemplo e um testemunho válido para o resto do mundo.

Neste caso os governos não terão de legislar para impor opções e opiniões de minorias, nivelando por elas toda a comunidade humana. Estas minorias também terão direito a coexistir, sem querer tornar-se a norma para toda a sociedade. As expressões culturais e religiosas da história de cada povo terão direito de cidadania e darão um forte contributo para a construção de um novo tipo de sociedade, globalizada não apenas pelo lado económico, mas sobretudo pela convivência fraterna, solidária e plural de todos os seus cidadãos. O Tratado de Lisboa, acabado de homologar por todos os países da Comunidade Europeia dos 27 membros e que vai entrar em vigor no próximo ano, vai ter de dar origem a muitos outros tratados, para que a Europa se torne uma comunidade de comunidades, na diversidade de expressões, mas na vontade unânime da convivência pacífica.  

Faço votos para que todos estejamos dispostos a endireitar os caminhos tortuosos do egoísmo e da corrupção, a levantar os vales profundos que deixam pessoas e grupos no fosso e a aplainar colinas íngremes do orgulho e do esbanjamento dos bens por parte de alguns grupos. Palavras parecidas usava João Baptista há dois mil anos, preparando assim a vinda do Messias, do Salvador. Os cristãos que participaram na Missa do segundo Domingo do Advento escutaram essas palavras, ainda plenas de actualidade. Se muitos as pusermos em prática, vai acontecer Natal, nascimento de Deus no coração e no mundo de hoje.

Pe. Jorge Seixas

Muitos outros casos já aconteceram e irão acontecer, porque iremos encontrar sempre alguém que contesta a liberdade religiosa dos outros e os quer empurrar para fora da vida pública. Esta Europa, durante dois milénios construída na base dos valores e expressões do Cristianismo, parece envergonhar-se do seu passado e está disposta a negá-lo e até destruí-lo, não apenas da sua memória mas também da sua paisagem. Faz-me lembrar a crise da adolescência, em que se corta o cordão umbilical e se faz a afirmação da individualidade. Mas sabemos que depois da adolescência surge a idade adulta, em que se faz a síntese e a reconciliação com os progenitores, os mestres e a sociedade, ao mesmo tempo que se assumem as responsabilidades na vida social e familiar. Esta velha Europa tem muito que aprender, para saber viver em paz no pluralismo de culturas e expressões, que devem ser vistas como uma riqueza, e não como uma ofensa à liberdade e à convivência pacífica entre as pessoas e grupos. O diálogo inter-cultural e inter-religioso faz-nos descobrir as riquezas da pessoa humana e da vida no planeta terra. O uniformismo de cultura e expressão é um atentado à beleza criativa da diversidade.