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Comemorações do Centenário

 da República

 

Recordar é viver e a história é mestra da vida: são frases que a sabedoria popular assumiu e, de acordo com elas, passamos grande parte do nosso tempo a fazer comemorações, umas mais simples e outras mais espampanantes e onerosas para o erário público. Na realidade, todos os povos reforçam a sua identidade através dos acontecimentos históricos e afirmam-se no mundo cultivando a sua memória.

Durante todo este ano muito se tem falado, escrito e celebrado o primeiro centenário da Primeira República. No dia 5 de Outubro de 1910 pôs-se termo à Monarquia e proclamou-se a República.

Antes e depois, outros acontecimentos históricos aconteceram e muitos deles continuam até a ser lembrados com festas, eventos e dias feriados. Qual deles é mais importante, para merecer todas estas comemorações? Com certeza que a proclamação da República instaurou um novo regime, criou novas instituições e ofícios e pôs termo a outros. Podemos perguntar também qual o sistema que melhor serve a nação e o povo português. Diz-se que a democracia é o melhor sistema de organização da sociedade, embora não seja perfeito, mas também há monarquias democráticas e algumas delas até funcionam melhor que muitas repúblicas.

Então porque comemorar? Certo é que o 5 de Outubro de 1910 veio mexer profundamente com o povo português e a sua organização social. Mas as intenções dos republicanos não eram de todo iguais e unânimes, como não o foram as dos generais do 28 de Maio de 1926 nem as dos capitães de Abril de 1974. Por isso muita polémica, muitas discussões, dissensões e revoltas, armadas ou não, se lhe seguiram. Há 100 anos encontraram-se bodes expiatórios para a revolta republicana, sendo, para além da Casa Real, a Igreja Católica e o clero um deles, como se a sua existência e acção fosse a causa dos males da nação.

Com certeza que todas as mudanças implicam algumas confusões e até sofrimento, não apenas para um determinado grupo, mas, no fundo, para todo o povo. Mas são também ocasião para rever a vida e as finalidades das instituições políticas, sociais, culturais e religiosas. Infelizmente nem sempre com equidade e tendo em vista o bem comum.

Também nas revoluções há grupos, partidos e pessoas que se aproveitam e se impõem em detrimento do maior bem de toda a nação. Como sempre, caluniam-se, difamam-se, perseguem-se e, por vezes, até se espoliam, expulsam e matam os opositores. Muitos dos bens da Igreja foram nacionalizados e até destruídos, como já o fizera a Revolução Francesa e começaram a fazê-lo em Portugal o Marquês de Pombal com a expulsão dos Jesuítas, em 1759, e em 1834 Joaquim António de Aguiar com a proibição das ordens religiosas. Na Primeira República isto aconteceu a muitos representantes da Igreja católica, bispos, padres e instituições religiosas.

Cem anos passados, como avaliamos estes acontecimentos? Apesar dos exageros e atrocidades, serão sempre os critérios evangélicos que devem nortear os verdadeiros discípulos de Cristo e os representantes da Igreja. Sem deixar de pôr o dedo nas feridas e nos exageros, para que não se voltem a repetir, e ajudar a curar, perdoar e reconciliar os cidadãos, a Igreja deve manter-se fiel à sua própria identidade, ao mesmo tempo que faz um profundo exame de consciência, reconhece as próprias culpas nos processos históricos e submete-se à purificação de algumas manchas que a inquinaram, para assim assumir cada vez mais perfeitamente os critérios de vida de Jesus Cristo.

A Igreja não se identifica com nenhum sistema ou regime político, mas reza pelos governantes, como aconselhava S. Paulo. Através dos tempos vai aprendendo a aplicar as palavras de Jesus, perante o desafio hipócrita dos fariseus: “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. No Evangelho estão contidos os princípios da verdadeira separação e autonomia dos âmbitos político e religioso, da verdadeira liberdade de consciência e de culto, no respeito pelas pessoas, o bem fundamental de qualquer tipo de sociedade.

Valeu a pena comemorar a implantação da República? Se isso nos ajudou a purificar a memória para implementar os seus ideais mais nobres, sim; para ostentar vaidades, gastar tempo, papel e dinheiro, não.