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Anunciamos, Senhor, a Vossa morte

(25º Aniversário da Cidade de Mangualde)

É interessante verificar a diferente reacção dos Apóstolos perante a morte de Cristo, antes e depois da Páscoa. Quando o Senhor lhes fala, pela primeira vez, da Sua morte, preparando-os para o que iria acontecer, eles reagem escandalizados (Mc. 8,31ss). Depois da Páscoa anunciam-na jubilosamente como boa-notícia, portadora de esperança. Só a ressurreição revela o sentido da morte de Cristo e lhe delineia os contornos da sua dignidade e grandeza.

No “Kerigma Apostólico” o anúncio da morte de Cristo faz parte integrante do anúncio pascal. Só a ressurreição revela o sentido da morte de Cristo; sem o triunfo pascal, a morte do Senhor foi vista como uma derrota, um drama inexplicável e sem sentido. A experiência pascal, ao ritmo do Espírito, proporciona uma releitura do sentido dos acontecimentos vividos e da própria história da salvação. Só a luz da Páscoa leva a Igreja a captar o sentido positivo e decisivo da morte de Cristo.

Ela aparece, antes de mais, como algo cujo segredo está escondido no mistério das relações do Pai e do Filho. Jesus aceita a morte por obediência (Fil. 2,8), para fazer a vontade do Pai (Mc. 14,36). E Deus Pai só pode aceitar a morte do Seu Filho Jesus, por causa de nós. Estamos perante o insondável mistério do amor salvífico de Deus. E esse é o primeiro motivo pelo qual a morte de Jesus pode ser anunciada como boa-nova: ela revela-nos o infinito amor de Deus por nós. Se contemplarmos a Cruz do senhor e penetrarmos no mistério da Sua morte, sentir-nos-emos, como nunca, amados por Deus.

 A fé pascal leva-nos a festejar, na morte de Cristo, a nossa vitória sobre o pecado. E, para nós, vencer o pecado é a esperança de vencer a morte. O pecado constitui, na perspectiva da Sagrada Escritura, a grande derrota da humanidade, que perde progressivamente a grandeza e a dignidade. O pecado começou por ser culpa e transformou-se quase em fatalidade. Ele afastou o homem de Deus, manchou a candura da sua alegria, trouxe o desânimo e o desespero. Na morte de Cristo foi morto o nosso pecado e o pecado em nós: “A Sua morte foi uma morte para o pecado, de uma vez por todas” (Rom. 6,10).

O anúncio da morte de Cristo é o anúncio da libertação do homem. Este pode, a partir dela, com a força do Espírito, vencer em si mesmo o pecado e caminhar para o amor e para a liberdade. E a vitória sobre o pecado é o anúncio da vitória sobre a nossa própria morte, porque a nossa morte, antes de ser física e biológica, tinha-se manifestado como incapacidade de amor, a Deus e ao próximo.

Na compreensão cristã da vida e da morte, ligamos a possibilidade de vitória sobre a morte à ressurreição de Cristo; mas a própria morte de Cristo é já o anúncio dessa vitória. Uma das manifestações bíblicas do realismo da morte de Cristo é a Sua descida à morada dos mortos (o sheol), na Sua situação de morto. E aí, Cristo morto e ainda não ressuscitado, anuncia a todos aqueles mortos a vitória sobre a morte (1Ped. 2,18ss). É que quando a morte é vida oferecida ela é, em si mesma, o triunfo da vida sobre a morte.

Manifestação da vitória sobre o pecado, a morte de Cristo mudou radicalmente a nossa vida. Ela é fecunda e transformadora. O Corpo de Cristo entregue à morte, foi a semente lançada à terra, que morre para germinar e dar vida nova (Jo. 12,24-32). Nesse aceitar morrer, anuncia-se uma Vida que está escondida sob as manifestações imediatas da vida. Não é sorvendo-as até à exaustão que se toca a vida, mas deixando-as morrer, porque se deseja viver. A morte de Cristo fundamenta uma perspectiva da existência humana, explícita no cristianismo, que pode parecer tão paradoxal como a própria morte: o sacrifício não é negação, mas afirmação, a renúncia pode ser oferta e dom, aceitar morrer pode ser a afirmação de que queremos viver. É a condição do discípulo de Cristo: seguir o Mestre: “Quem ama a sua vida, perde-a; e quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me serve, que Me siga e onde Eu estiver, estará também aquele que Me serve” (Jo. 12,25-26). A morte de Cristo faz com que possamos viver a vida neste mundo aberta sobre o horizonte da vida eterna. Na morte de Cristo é anunciada a plenitude da vida.

Cónego Jorge Seixas