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Notícias da Igreja
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3 - “Verbum in Ecclesia”
I. A Igreja acolhe a Palavra
“A todos os que o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,12)
Introdução
O Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 debruçou-se sobre o Concílio Vaticano II.
Ecclesia, (Lumen Gentium)
Sub Verbo Dei, (Dei Verbum)
Celebrans mysteria Christi (Sacrosanctum Concilium)
Pro salute mundi (Gaudium et Spes)
A Igreja ACOLHE a Palavra
- O Senhor pronuncia a sua Palavra
- “Veio ao que era seu” (Jo 1,11)
- Receber o Verbo significa deixar-se plasmar por Ele, para se tornar conforme a Cristo
- A relação entre Cristo, Palavra do Pai, e a Igreja é uma relação vital
- Esta relação é expressa com os termos bíblicos de um diálogo nupcial
(Textos para reflexão: Jo 1,14; Mt 28,20; Dei Verbum 1,8; Verbum Domini 50.51)
A Igreja Ouvinte da Palavra de Deus (“Ecclesia Audiens”)
- Saber escutar a Palavra é missão primordial da Igreja
- Recordemos o episódio de Jesus em Betânia
- A Igreja orienta esta escuta para a oração
- Ouvintes a partir do interior, colocando-a no coração
- O ouvinte chega a ser amigo da Palavra
(Textos para reflexão: Lc 4,22; 10,42)
A Palavra, ANUNCIADA E ACOLHIDA
“Ecclesia Nuntians”
- A missão recebida de Jesus Ressuscitado é de anunciar a sua palavra a todo o mundo
(Textos para reflexão: Mt 13,18-28; Mc 4,13-20; Lc 8,11-15; Rom 10,14-17)
- O acolhimento da Palavra de Deus é o ponto culminante da escuta
“Ecclesia Recipiens”
- A Igreja “Audiens” tem de ser Igreja que acolhe a Palavra (“Ecclesia Recipiens”); portanto, Igreja que vive da Palavra (“Ecclesia vivens sub Verbo Dei”)
A Igreja que vive da Palavra
- A Palavra escutada tem de ser vivida
- Guardar os Mandamentos = Guardar a Palavra
- A Igreja escuta a Palavra e procura viver o mandamento do amor
- É a comunidade dos que escutam e cumprem a Palavra de Deus
- A Igreja constrói-se e cresce escutando a Palavra de Deus
(Textos para reflexão: Mt 7,24-27; Lc 6,46-49; 1Pe 1,22-2,3; Dei Verbum 2, 21, 25)
Para diálogo ou reflexão pessoal:
- Nas nossas celebrações, a escuta da Palavra de Deus como é feita? Como é preparada?
Cónego Jorge Seixas |
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Natal a 25 de Dezembro: da Religião à Fé
Por que razão celebramos o Natal do Senhor a 25 de Dezembro?
Desde o século XVIII que se generalizou, e quase recolheu consenso, a chamada hipótese da «história das religiões». Segundo esta teoria, o 25 de Dezembro foi escolhido em Roma por ser a data do solstício de Inverno no Calendário Juliano. Nessa data, o imperador romano Aurelino estabeleceu no ano 274 o dies natalis solis invicti, isto é, a festa do aniversário do sol invencível, suscitando grande adesão das populações pagãs. Após a paz de Constantino (ano 313), as autoridades eclesiásticas terão instituído em Roma, na mesma data de 25 de Dezembro, a celebração litúrgica do Natal. Desse modo dissuadiam os seus fiéis das celebrações pagãs e mostravam que Jesus Cristo é o verdadeiro sol invicto: «Sol da Justiça» anunciado por Malaquias; «Sol Nascente» cantado por Zacarias no Benedictus… As províncias orientais do império romano seguiriam outros calendários que fixavam o solstício a 6 de Janeiro e, por isso, escolheram essa data para celebrar o mistério da Incarnação. Num segundo momento e com a comunicação entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente os ocidentais acolheram também a celebração do dia 6 de Janeiro (Epifania) os Orientais passaram a celebrar também a Natividade a 25 de Dezembro.
Será que as coisas se passaram mesmo assim? No início do século XX o grande estudioso das origens do culto cristão que foi Louis Duchesne chamou a atenção para uma explicação diferente conhecida pela Igreja Antiga: a «teoria do cômputo». Poucos lhe deram atenção, tão sedutora e convincente parecia a explicação tirada da história das religiões, em moda nessa época. Mas trabalhos mais recentes sobre as origens do ano litúrgico, de Thomas J. Talley, entre outros, obrigam a reformular os manuais dando novo crédito à «teoria do cômputo».
Hoje, por exemplo, sabemos que os Donatistas, no Norte de África, celebravam o Natal a 25 de Dezembro antes de 311, numa época de perseguições em que não seria verosímil que os cristãos abraçassem uma data promovida por imperadores romanos pagãos e pouco amistosos… Pelos vistos também nunca existiu qualquer calendário egípcio que fixasse o solstício de Inverno a 6 de Janeiro. Entretanto um estudo atento das obras de Clemente de Alexandria permite concluir que esse ilustre catequeta do século II, independentemente de especulações à volta de solstícios ou equinócios, pensava que o nascimento de Cristo tinha tido lugar no dia 6 de Janeiro…
Que diz, então, essa teoria do «cômputo» que teremos de levar mais a sério ao tentar explicar ao povo de Deus o motivo da escolha dos dias 25 de Dezembro / 6 de Janeiro para a celebração do mistério da Incarnação? Os primeiros cristãos pensavam que Jesus – e do mesmo modo outras grandes figuras da história da salvação – viveu na terra um número exato de anos. Por isso, a data da sua morte devia coincidir com a da sua conceção. Ora, na tentativa de transpor o dia 14 de Nisan – dia da crucifixão e morte de Jesus – para uma data fixa do calendário solar, os cristãos do século II – III encontraram duas datas, conforme as regiões do Império: 25 de Março (Palestina, Roma, Norte de África…) ou 6 de Abril (Ásia Menor; Egipto…). A partir daqui é só fazer o «cômputo»: nove meses após a conceção e início da vida humana do Verbo de Deus há que celebrar o seu Nascimento. Daí as datas 25 de Dezembro e / ou 6 de Janeiro. Por outras palavras: a festa de Natal é uma projecção da celebração da Páscoa! (Os biblistas dizem-nos algo de semelhante na exegese dos relatos da infância de Mateus e Lucas…)
Esta «nova» - melhor dito: revalorizada – explicação da escolha do dia 25 de Dezembro para a nossa celebração do Natal de Jesus não significa que tenhamos de ignorar o natural influxo da coincidência de calendário com os festivais pagãos do solstício tanto na promoção pastoral da festa como nas temáticas da pregação e da eucologia. Os cristãos não vivem fora do mundo ou num mundo à parte. Mas há conclusão interessante a tirar: celebrar o Natal de Jesus a 25 de Dezembro foi na origem – e talvez deva voltar a ser – mais uma questão de fé do que uma «manifestação religiosa». É tempo – quem sabe se famigerada «crise» não poderá ajudar? – de nos convertermos de um Natal demasiado pagão a um Natal mais cristão… |
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A Igreja é um Povo de discípulos
quadra-se no projecto de Deus de ter um “povo escolhido”, o Seu Povo, com quem celebrou uma aliança e deseja conduzir à intimidade da comunhão conSigo e à plenitude da vida. Jesus nasce como membro desse Povo, é-lhe enviado, para o conduzir à plena fidelidade à aliança. Apesar das infidelidades do Povo da primeira aliança, o Senhor não o rejeita, nem desiste dessa aliança. Envia-lhe o Seu próprio Filho, cujo sangue derramado selará a nova e definitiva aliança de Deus com o Seu Povo. Esse “novo Povo”, o dos tempos definitivos, tem de ser congregado por Jesus Cristo, é constituído por aqueles que seguem Jesus Cristo. Ninguém fica excluído. O Senhor chama todos a segui-Lo, membros do antigo Israel e homens de todas as raças, línguas e nações. O novo Povo de Deus congrega-se à volta de Jesus Cristo.
Tudo começou com aquele primeiro grupo de discípulos que o Senhor convidou a segui-Lo e passaram a andar com Ele. O seu número foi aumentando, chegaram a ser multidão, para a qual Jesus abençoou e multiplicou o pão e depois O aclama nas ruas de Jerusalém. Entre essa multidão Ele escolheu doze, para uma relação mais íntima e permanente com Ele, com quem partilha a Sua vida de intimidade com o Pai e associa à Sua missão. Já então se nota, nesse povo a nascer, um núcleo de fidelíssimos, os apóstolos, as santas mulheres, os amigos fiéis de que conhecemos alguns nomes, como Lázaro, José de Arimateia, Nicodemos; e essa multidão imensa de simpatizantes, que tanto podem aderir ao grupo dos fidelíssimos, como abandonar o Senhor à primeira dificuldade ou exigência. Foi assim desde o início.
A morte de Jesus foi uma prova muito dura para os seguidores de Jesus. A maior parte abandonou-O. Ficaram os “fidelíssimos”, e mesmo esses depois de sérias provações e tentações. Era o ouro fino a ser decantado pelo fogo do sofrimento. A ressurreição de Jesus e o dom do Espírito Santo trouxeram um dinamismo novo e rasgou horizontes definitivos aos discípulos de Jesus. Segui-Lo é agora acreditar na Sua ressurreição, participar, na própria vida, na Sua vida misteriosa de ressuscitado, e anunciá-Lo até aos confins da terra. Este anúncio é a nova forma de Jesus chamar para O seguir e ser membro do Seu Povo; a resposta é a fé; a intimidade com Ele é agora fruto da força do Espírito Santo.
Cónego Jorge Seixas |
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1- “Verbum Dei: O “Mistério” da Palavra
“No princípio já existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus… e o Verbo fez-se carne” (Jo 1,1.14)
Introdução
A Exortação Apostólica Pós-Sinodal A Palavra do Senhor (“Verbum Domini”) de Bento XVI é um documento sobre o “Mistério da Palavra” (1ª proposição do Sínodo).
Deus revela-se, dá-se à humanidade, revelando o seu Mistério.
O desígnio de Deus supõe uma “pedagogia divina”: Deus comunica-Se gradualmente ao homem e prepara-o, por etapas, para receber a Revelação sobrenatural que faz de Si próprio e que vai culminar na Pessoa e missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.
A economia da salvação, revelada na Sagrada Escritura, como economia do mistério, tem a sua continuidade na economia sacramental.
Há etapas sucessivas na realização histórica do desígnio salvífico do Pai.
(Textos para reflexão: Ef 3,9; Sacrosanctum Concilium 5-6; Dei Verbum 2; Catecismo da Igreja Católica 50, 53).
As etapas da História da Salvação:
A salvação é uma realidade que, em primeiro lugar, foi Mistério: escondido no Pai, anunciado pelos profetas, cumprido em Cristo e dado a conhecer pela pregação apostólica.
(Textos para reflexão: Rom 16,25-27; Ef 3,3-12; 1Tim 3,16).
1ª Anúncio e Preparação. É o tempo da revelação gradual do amor do Pai a todos os homens e mulheres.
(Textos para reflexão: Rom 8,29-30; 1Ped 1,10-12; Sacrosanctum Concilium 5; Dei Verbum 16-17; Catecismo da Igreja Católica 1094, 1217-1222, 1541-1543).
2ª Plenitude. É o tempo em que o anúncio da Palavra se faz carne.
(Textos para reflexão: Jo 1,12-14; Gal 4,4; Mt 1,23; Sacrosanctum Concilium 5; Lumen Gentium 3; Catecismo da Igreja Católica 1115).
3ª Actualização. É o tempo da Igreja ou tempo do Espírito Santo, a continuação do tempo de Cristo.
(Textos para reflexão: Lc 4,14-22; Sacrosanctum Concilium 6; Lumen Gentium 4).
A novidade da Revelação Bíblica consiste no facto de Deus se dar a conhecer no diálogo, que deseja ter connosco (“Seipsum Revelare” = revelar-se a si mesmo).
O Verbo, que desde o princípio está junto de Deus e é Deus, revela-nos o próprio Deus no diálogo de amor entre as Pessoas distintas e convida-nos a participar nele.
(Textos para reflexão: Dei Verbum 2; Verbum Domini 6).
A Santíssima Trindade não é somente a origem e o agente principal da História da Salvação, mas também o termo dessa História. O Pai é a fonte e a origem da Palavra. É a fonte da revelação, manifesta-se como Pai no Filho. O ponto culminante da Revelação de Deus Pai é oferecido pelo Filho com o dom do Paráclito.
(Textos para reflexão: Mt 16,17; Lc 9,29; Jo 4,34; 14,16; 16,13; 2Cor 4,6; Verbum Domini 20-21, 90).
Para diálogo ou reflexão pessoal:
Deus fala por meio do seu silêncio:
- Foi a etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus (Mc 15,34; Mt 27,46).
- É uma experiência vivida por muitos santos e místicos, e que ainda hoje faz parte do caminho de muitos fiéis.
- Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio.
- Portanto, na dinâmica da revelação cristã, o silêncio aparece como uma expressão importante da Palavra de Deus.
Ler Verbum Domini 21.
SDPL Viseu
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A BELEZA DA PALAVRA
(Teologia e Espiritualidade
da celebração da Palavra de Deus)
O que é a Beleza? O que é a Palavra com letra maiúscula? Que relação ou concordância existe entre a beleza e a Palavra? Esta é uma pequena reflexão sobre estes dois termos, sendo um contributo para a reflexão sinodal sobre “A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja”.
A resposta a estas questões encontra-se no Mistério de Cristo (Sal 43; Is 53,2-3).
A Palavra com letra maiúscula é Cristo.
“A beleza é a epifania da Glória do Mistério do Amor de Deus revelada em Cristo, Palavra eterna, comunicada no Espírito Santo e realizada na Igreja”.
Assim, “a Igreja celebra a beleza do Mistério de Cristo: é a beleza do amor aparecido, crucificado-glorificado, comunicado, realizado, vivido na celebração”.
São vários os autores que nos poderão ajudar a entender melhor o conceito de beleza. Na Teologia do Ocidente, temos S. Tomás, Hans Urs Von Balthasar, Bruno Forte, Joseph Ratzinger, L. Maldonado; na Teologia do Oriente, temos P. Florenskij, Vladimir Solovi’ev.
Com breves frases, podemos concluir:
- A Palavra é Cristo. Por isso, a Palavra e a beleza são quase idênticas.
- A beleza experimenta-se na comunhão com a Palavra feita carne.
- A liturgia da Igreja é o “lugar” onde se faz a experiência da beleza que gera comunhão.
- A verdade revelada, o amor ferido, trespassado, entregue, celebrado, vivido, comunicado, é a beleza.
- A beleza não nasce no exterior mas no interior, ou seja, da verdade.
- Na liturgia, a beleza da Palavra faz-se livro, faz-se carne; torna-se presente através da linguagem simbólica da Escritura e do gesto.
- A Palavra é a beleza. |
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